28 de jun. de 2014

Colunista americana abre guerra contra a Copa: 'Futebol é declínio moral'

O grande interesse que a Copa do Mundo vem despertando nos EUA tem irritado a parte mais conservadora dos comentaristas políticos americanos. Um deles, a nova-iorquina Ann Coulter, famosa por verbalizar o pensamento da direita mais radical, publicou uma coluna em que classifica "qualquer interesse em futebol" como "um sinal do declínio moral da nação".

Publicado em vários meios de comunicação no país, o texto de Coulter faz duras críticas ao futebol e o compara aos esportes mais populares de lá: basquete, beisebol, hóquei e futebol americano.

Ela chega a dizer que o futebol não um esporte de verdade por não permitir o uso das mãos, não ser muito "atlético ou viril" e permitir muitos empates sem gols. Ela também afirma que o interesse pelo esporte é uma moda estrangeira e que "nenhum americano cujos bisavós nasceram no país está assistindo ao futebol."

Mas suas críticas parecem vir de alguém que realmente entende muito pouco do esporte mais popular do planeta.

"Glória individual não é um importante fator no futebol", ela diz. "A culpa é compartilhada e quase ninguém marca pontos. Não há heróis, não há perdedores [...] Todo mundo corre para frente e pra trás no campo e, eventualmente, uma bola entra no gol."

"Nenhum outro esporte termina em tantos empates sem gols. Esta era uma mensagem [em uma TV] na estrada para Long Beach, Califórnia, sobre um jogo da Copa do Mundo: '2º tempo, 11 minutos para acabar, placar 0:0.' Duas horas depois, outro jogo da Copa na mesma TV: '1º tempo, 8 minutos restantes, placar 0:0.' Se Michael Jackson tivesse tratado sua insônia crônica com um VT de Brasil x Argentina, ele ainda estaria vivo, embora entediado."

Ela critica também a cobertura que a imprensa americana tem feito sobre a Copa do Mundo e diz que há um exagero nas manchetes que afirmam que o esporte está "caindo no gosto" das pessoas.

"As mesmas pessoas tentando empurrar futebol na garganta dos americanos são as que dizem que devemos gostar da [série da HBO] Girls, de bondinhos, de Beyoncé e Hillary Clinton. O número de reportagens do New York Times alegando que futebol está 'em alta' só é menor do que aqueles fingindo que basquete feminino é fascinante."

A coluna foi publicada antes da partida entre EUA e Alemanha que acabou classificando a seleção americana para as oitavas de final da Copa, mesmo com a derrota por 1 a 0. Estima-se que o jogo anterior, contra Portugal, tenha quebrado recordes de audiência da ESPN, com mais de 18 milhões de telespectadores.

Outras vozes

A investida de Coulter contra a popularidade do futebol foi bastante criticada por vários analistas. "Como Ann Coulter perdeu a cabeça por causa da Copa do Mundo", titulou em sua coluna no site da revista Forbes o analista Maury Brown.

"É possível imaginá-la tentando conjurar o mais bombástico, mais chamativo, e sim, o mais encontrável nos mecanismos de busca, roteiro que ela poderia conceber. 'Quanto mais maluco soar, melhor', ela deve ter pensado", escreveu Brown.

Dan Hancox, do britânico The Guardian, fez críticas semelhantes à coluna de Coulter.

"Suas razões para odiar o futebol são muitas e hilárias, principalmente: o popular jogo da bola redonda parece mostrar todos os indicadores de socialismo. O New York Times gosta dele. É estrangeiro. Estrangeiros gostam dele. Obama gosta dele. Para conservadores como Coulter, as guerras culturais nunca param, e o súbito crescimento de interesse na Copa do Mundo é apenas o último ataque ao Modo de Vida Americano", escreveu.

Mais popular entre imigrantes, principalmente os de origem latina, o futebol vem ganhando muitos adeptos mesmo entre outros estratos sociais no país. Exibições públicas e bares lotados para assistir aos jogos da seleção americana na Copa mostram um aumento na popularidade do esporte por lá.

Mesmo assim, uma pesquisa recente mostra que eleitores que se consideram de esquerda tendem a gostar mais de futebol do que aqueles que se consideram de direita.

Entre os conservadores, o esporte vem recebendo ataques por ser associado com valores estrangeiros e por ser popular entre os imigrantes.

UOL