24 de jan. de 2015

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A Daniel meu neto, a força do meu grito contido, num pedido de socorro pela vida, na dor de minha saudade.


Daniel, eu me pergunto, por que é lei o direito a vida? Mas você só esteve seguro na barriga da mamãe, infelizmente sua chegada tão esperada foi transformada em dias de angustia e insegurança, enquanto mais acreditávamos que era chegada a hora, pelos sintomas apresentados por sua mamãe, mas não houve a assistência quando por mais de uma vez procuramos o órgão competente para te receber com dignidade, transformando aquele dia que deveria ser de grande alegria em uma dor escrita a ferro na nossa alma, quando eu enquanto sua mãe duas vezes, passava pela dolorosa experiência de vê-lo quase perdendo a vida e junto com você também sua mãe, pois ali foi minada sua saúde e consecutivamente seus dias aqui na terra, com a confirmação de que tudo que aconteceu resultou em te deixar uma criança com necessidade especial e deveria no mínimo ser tratado com excelência já que a mesma não houve quando sua mãe mais precisou. Desde então após o parto recebemos como primeiro diagnóstico a confirmação de hipóxia neonatal, enquanto pensávamos na nossa triste inocência que tudo aquilo poderia ser superado vieram à comprovação de uma paralisia cerebral grave e consecutivamente a síndrome de West, ou seja, o seu direito a vida foi totalmente extinto quando depois de todas as complicações decorrentes do parto veio também a sua morte. Dói muito saber que as leis do nosso país dão prioridade a vida e a sua efetiva qualidade após a fecundação e para você esses aspectos foram tão insuficientes. Se eu pudesse expressar o que sinto, se em minhas mãos existisse um poder sobre natural ecoava nos quatro cantos do planeta a indignação do meu ser, na intensidade de minha dor com a falta de conformação do acontecido.


Sete longos meses foram sua agonia cada dia de luta era uma dor constante onde nos agarrávamos na esperança de está contigo, embora seus momentos em casa tenham sido tão raros, porque o que estava e o que não estava ao nosso alcance realizávamos para amenizar suas dores, íamos atrás mesmo quando as portas se fechavam e quando um centavo mais não existia em nosso bolso tomávamos dinheiro emprestado para não faltar aquilo que era necessário a sua permanência conosco, foram tantas esperanças, mas a sua presença era o suficiente para acreditamos que você seria curado, lutaste como um bravo soldado de Deus, mas nada mais te favorecia aqui neste mundo nem mesmo o nosso imenso amor pode te salvar do sofrimento ao qual foi exposto onde à mesma excelência que faltou na sua chegada foi a mesma que apressou a sua partida. Eu enquanto sua mãe duas vezes não encontro respostas para tantas inquietações no meu coração, porque sua passagem tão rápida por nossas vidas, porque encantavas todos que o viam pela primeira vez, porque quem deveria ajuda-lo não o fez ou não se sensibilizou? Como entender a saúde de um país que rouba de uma mãe a alegria do sorriso colocando lagrimas constantes nos olhos, deixando-a com uma ferida aberta por toda vida, que leva o grito ecoado na mais alta montanha desgastando a ultima das forças e ninguém ouve, fazendo no íntimo do meu ser ver-me andando a procura de resposta sem nenhum destino, e neste momento eu me pergunto que pais é esse? Que saúde é essa, meu filho amado? Tenho certeza que não é falta de investimento até mesmo porque a humanização de um profissional é algo que vai além do investimento material, é a relação de um ser que acima de tudo coloca como prioridade o direito do outro demonstrando amor e doação ao direito a vida e neste momento me volto e faço uma retrospectiva nesta luta; quantos disseram que não sabiam o que estava acontecendo quando em suas respectivas posições tinham por obrigação saber, como é fácil está de fora, como é fácil jogar pedras, como é fácil tirar o corpo de lado, onde nós ficamos com a dor e muitos com a triste ilusão de que nada tinha a fazer quando tudo era possível para estamos com você hoje vivo e completamente saldável. Sigo me perguntando meu Deus! Será Daniel mais um nas estatísticas sem nada acontecer, quantas famílias vão ter que passar pelo que estamos passando, quantos serão incapazes de abrir a boca e mostrar a real realidade do que aconteceu e quantos que jamais entenderão e irão me jogar pedras; será eu mais uma vó que choro por ver a dor da minha filha e a minha família faltando você meu neto, nosso presente de Deus.


O que devo pensar de um serviço que deveria ser o melhor, quando muitos pensam estarem fazendo um favor e desconhecem que os serviços a nós prestados são pagos pelos impostos que pagamos e que nenhum favor está sendo feito ao cumprirem com um direito que é de todos. Daniel o que descrevo nesta simples carta para você vem mostrar filho querido a minha insatisfação com o sistema de saúde do nosso país onde em meio a tanto desenvolvimento a tantas tecnologias a triste realidade de se perder uma vida quando a assistência torna-se precária e insuficiente, acompanhei todo seu desenvolvimento intrauterino através de exames os quais relatavam que você estava normal, acompanhei por diversos dias os sinais da sua chegada em idas e vinda do hospital, falei que era a hora, más nada foi feito, fui telespectadora da sua dolorosa chegada acompanhei as suas dores e estava com você na sua partida e nada, nada pode mudar o desejo de que outras pessoas não passem tudo que passamos, eu desejo que o espirito santo tenha misericórdia daqueles que contribuíram com essa dor que sinto e que a justiça seja capaz de fazer justiça. Como a dor não cala permaneço perguntando, quantos mais vão perecer, ou Daniel qual é a lição que queres junto aos anjos que sei que estás? O que vais nos revelar? Sabes que não nos calamos mas a própria justiça que podia te ajudar a ter um tratamento digno, foi lenta demais para a urgência de sua causa, que nem chegou a ser feita. Filho amado termino agradecendo a Deus pela permissão de ter vindo as nossas vidas és o nosso amor mais puro e verdadeiro aquele que nos faz amar cada criança independente de suas limitações tentando ajudar no que é possível, foste para Deus mas nos tornamos uma hoste na defesa daqueles que mais precisam, orientando a procurar uma melhor qualidade de vida. Nunca vou me despedir de você. Foste minha razão de viver por um tempo e hoje és minha razão de continuar para ajudar o próximo. Eu o amo Daniel, como seu próprio nome diz DEUS É MEU JUIZ e eu sei que é e sempre será e para glória e honra do senhor a minha realidade hoje poderá ser mudada com pessoas que abram a boca em favor da vida, DANIEL, você é o meu eterno amor, enquanto eu viver viverás comigo numa presença viva e constante de que é preciso acreditar que a justiça existe e será feita e mesmo que um dia eu não possa mais falar em meu pensamento irei clamar a misericórdia de Deus para que as pessoas sejam capazes de agir com humanidade.

Com a certeza de que jamais me calarei diante das injustiças e omissões deste mundo e na certeza de que estarás sempre vivo no meu coração fica aqui gravado o meu eterno amor por você.

POR: JAIDETE SOUZA SANTOS.