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10 de dez. de 2010

“Depois das eleições, não quero olhar na sua cara!

















"PSDB precisa calçar as sandálias da humildade, afirma FHC


O partido da Social Democracia Brasileiro (PSDB), que governou o país por oito anos, vive hoje um purgatório sem fim – a julgar pelo enredo repetitivo que alimenta o projeto para o Palácio do Planalto. Seus principais personagens seguem no conflito pelo poder próprio. O futuro é incerto. A arte de perder continua.


Mesmo conquistando oito estados importantes nas últimas eleições e com a expressiva marca de 44 milhões de votos para José Serra – o último dos fundadores presidenciáveis -, os tucanos amargam, na verdade, o gosto da derrota. O PT se coloca no papel de mãe. Ao PSDB, resta o semblante do padrasto “gente fina”, que nada mais tem a acrescentar – pelo menos do ponto de vista presidencial. Em uma única sentença, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso definiu o tumulto das eleições de 2010 para seu partido: “O PSDB precisa calçar as sandálias da humildade”.


Alguns dos envolvidos já sumiram do mapa e não quiseram comentar o tema. Simão Jatene, que retornou ao governo do Pará, estava na África; Marconi Perillo, eleito em Goiás, em Jerusalém; Alberto Goldman, governador de São Paulo, não quis falar; diversos outros políticos de peito amarelo-bandeira saíram em revoada. Entre os quais, Geraldo Alckmin, governador eleito de São Paulo.


O PSDB perdeu para Lula, para um governo que é aprovado pela maioria dos brasileiros (afinal, a economia vai bem). Perdeu para uma estrutura na máquina do poder. E também para si mesmo. E a derrota poderia ter sido menor com a resolução das intrigas internas no partido.


Se a coerência das santidades já considerava o fracasso mesmo antes do dia do juízo final, um telefonema entre Aécio Neves e José Serra, líderes da oposição, uma semana antes de ocorrer o segundo turno, deu a síntese da ópera: “Depois das eleições, não quero olhar na sua cara!”, ouviu-se de um dos lados. Mas, antes de esclarecer a fúria, cabe retornar um pouco aos acontecimentos.


No primeiro turno, a candidata Dilma Rousseff teve, em Minas Gerais 46,9% dos votos, o mesmo percentual que obteve no restante do Brasil. O candidato tucano ficou com com 30,7%, contra 32,6% no restante do pais. O estado, portanto, é considerado ferramenta- chave na equação eleitoral, já que os resultados lo- cais refletem assombrosamente o plano nacional. É a chamada “geografia do voto”. E é preciso reverter os resultados no quadro marcado. E para tanto, as participações de Aécio Neves e de seu pupilo, Antônio Anastasia, governador reeleito por Minas, eram mais que necessárias.


Dias depois do final do primeiro turno, em um megaevento realizado em Belo Horizonte o ex-governador mineiro reuniu cerca de 450 prefeitos e deputados eleitos. “Vamos virar esta eleição”, afirmou o secretário-geral Rodrigo de Castro, que saiu das urnas com o título de deputado federal mais votado no estado.


A pedido do ex-governador paulista, Aécio viajou ao Nordeste para ajudar na mobilização nacional. E prometeu dar a “vitória a Serra em Minas”. Horas depois, no entanto, Anastasia rebateu: “Ninguém tem bola de cristal”, dizendo “não poder garantir” nada. Sem o afinco do comprometimento dos mineiros, que venceram tudo dentro de casa, a derrota estava desenhada. No curso desse processo, até surgiu a denúncia de desvio de dinheiro na principal obra tucana em São Paulo, o rodoanel metropolitano Mário Covas.


Na véspera do segundo turno, em Belo Horizonte, Aécio organizou a maior carreata realizada durante toda a campanha. Na manhã típica mineira, com os termômetros na marca dos 300C, milhares de pessoas tomaram as ruas para saudar os homens da coligação “O Brasil Pode Mais”. Ao lado de seu anfitrião e do professor Anastasia, Serra dava fim a uma campanha difícil. O presidente Itamar Franco – a quem o ex-governador de São Paulo declarara que “o Brasil devia muito” – fechou o retrato dos medalhões que, do alto da caçamba de uma caminhonete 4×4, acenavam para a massa. Os cerca de três quilômetros percorridos do Palácio das Mangabeiras até o centro da capital mineira, na Praça da Savassi, levaram mais de uma hora. Abraços emocionados dos caciques após a execução do Hino Nacional. Ao final dos disparos dos rojões, todos seguiram juntos para a coletiva de imprensa, na sede do governo. "