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2 de fev. de 2011

Fumantes humilhados


Por Fernando Vasconcelos

Avenida Paulista, duas horas da tarde, faltando três dias para o Natal. Assistia, em frente a um dos shoppings daquele poderoso centro comercial, a uma apresentação primorosa da Jazz Band formada por músicos integrantes da Banda Filarmônica da Polícia Militar do Estado de São Paulo, quando uma cena me chamou a atenção: pessoas fumando nas calçadas da avenida paulista, na maioria jovens.


O fato de estarem fumando não me pareceu destoante do ambiente, haja vista a preferência de pessoas do Sul/Sudeste pelos odores do tabaco. Mas o que me pareceu inusitado foi que essas pessoas (bem vestidas, bonitas, bem apessoadas) tragavam os seus cigarros fora das lojas e das calçadas da famosa avenida. Duas moças conversavam e fumavam próximo da Jazz Band quando um guarda do shopping aproximou-se e pediu que elas fossem para a rua. Observei o semblante das duas jovens, que se afastaram para além do meio fio, cabisbaixas e humilhadas.



A partir desse fato e, depois de algumas informações que obtive com os próprios vigilantes, constatei que aquelas pessoas que fumavam estavam no intervalo do almoço e, como estava proibido o cigarro no interior do shopping e das lojas e escritórios, eles iam para a rua com o fim de dar suas tragadinhas. Observei, também, como a maioria daqueles jovens era formada de pessoas com ar de alheamento, estressadas. Pareciam perdidas.



Fiquei sabendo, por outro lado, que restaurantes, bares e hotéis de São Paulo baniram o fumo das suas dependências. Que bom! – pensei como um não fumante. Mas, fiquei deveras preocupado com aqueles jovens apreciadores do cigarro. Por que se submetiam a uma situação tão humilhante? As cenas deprimentes revelavam algo como se eles estivessem sendo banidos do estrato social onde estavam inseridos.



Passando em frente de outro centro comercial, constatei uma pilha enorme de pontas de cigarro (a popular “piola”), da qual emanava um cheiro horrível, como se ali tivessem sido jogadas há meses. Dias depois li num dos jornais locais que médicos, enfermeiros e pessoas ligadas à área da saúde faziam campanhas contra o fumo, varrendo as pontas de cigarro jogadas na Avenida Paulista pelos fumantes humilhados.



Parece que o mundo todo (Madrid, Paris, Nova Iorque) está aderindo à campanha pela diminuição ou proibição do uso do cigarro. É a constatação de que a saúde vale muito mais do que umas tragadas. E por que os jovens trabalhadores da Avenida Paulista não se conscientizam disso? Por que, ao invés de se utilizarem dos intervalos no trabalho para fumar, não aderem a uma boa leitura ou à degustação de um bom lanche?
Do bip.com