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18 de dez. de 2011

Discurso da colação de grau da UFCG foi proferido por lavradense


Solon Lira de Vasconcelos Neto
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O último dia 16, formandos de 20 cursos da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus sede, estiveram reunidos para participar da Cerimônia de Colação de Grau, período 2011.2.  A solenidade aconteceu no Centro de Convenções Raymundo Asfora.

Colaram grau alunos dos cursos de Administração, Arte e Mídia, Ciências da Computação, Ciências Econômicas, Ciências Sociais, Desenho Industrial, Engenharia Agrícola, Engenharia Civil, Engenharia de Materiais, Engenharia de Minas, Engenharia de Produção, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Química, Física, História, Letras, Matemática, Medicina, e Meteorologia.

Este ano, a professora Maria Cristina de Melo Marin, do Centro de Humanidades (CH), foi homenageada como Paraninfa Geral das turmas. A indicação é um reconhecimento pelo trabalho desenvolvido ao longo dos anos na instituição.

O orador das turmas concluintes foi o formando Solon de Lira Vasconcelos Neto, do curso de Medicina, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS). Segue abaixo, íntegra do discurso proferido durante a solenidade:



Boa noite a todos.
Magnífico Sr. Reitor.
Excelentíssimo Sr. Paraninfo.
Excelentíssimos Sres. Pró-reitores, diretores de Centro, coordenadores de cursos e professores.
Caros funcionários.
Estimados colegas, amigos, familiares e cônjuges.
Senhoras e Senhores.

“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?”. Ao refletir sobre o texto de Fernando Pessoa tem-se uma ideia do pioneirismo de quem acreditou na Universidade Federal de Campina Grande quando esta era apenas um plano. Terra firme existe em um terço da superfície do planeta, mas terras com o olhar para o futuro, como Campina Grande, são poucas. Hoje somos concluintes da universidade que, pelo seu projeto de expansão e interiorização, tornou-se do tamanho de um estado, e que se projeta para o mundo, dado o seu crescente padrão de qualidade.

O termo “universidade” corporifica a noção de universalidade, a qual, por sua vez abrange a noção de diversidade, e isto, senhoras e senhores, constitui uma das maiores forças propulsoras desta Academia. Basta olharmos em nossa volta para vermos a riqueza étnico-cultural da qual fazemos parte. São colegas e mestres de vários países e, dentre os brasileiros, plurais por si sós, pessoas de diferentes lugares. Muitos deixaram família, amigos e amores para construir, por meio desta universidade, uma nova vida; são pessoas que transformaram saudade em energia para manter a UFCG no trilho rumo à excelência.
Por falar em trilhos, muitos foram os caminhos que cada um percorreu para viver esta noite; foram destinos que se intersectaram neste instante em que a UFCG, hoje, se despede de seus alunos e a sociedade receberá diferentes profissionais.

Em meio a tantos caminhos, quantas emoções vivemos aqui! O nome em uma lista de aprovados, testes difíceis, silêncio diante de situações em que gritamos visceralmente. Choro, riso e, ainda mais especialmente, além de um ofício, muitos de nós conquistaram, através desta universidade, amigos leais e companheiros para toda uma vida.

Junto com essas lembranças, não esqueçamos as pessoas queridas que partiram. Dessas pessoas recebemos, hoje, parte da energia vibrante que nos envolve. É justamente a saudade delas que nos conscientiza de nosso inexorável fim. Por mais especiais que supomos ser, a morte nos nivela a todas as bactérias, plantas e animais deste planeta. Repugnamos este destino, por mais que a maioria de nós acreditemos no céu, no carma, na reencarnação ou, simplesmente, na falência do aglomerado de trilhões de células que somos cada um de nós.

Por minutos esquecemos a austeridade da morte ao nos depararmos com a esperança transmitida pelos filhos, alguns nascidos durante a graduação. Fato que torna os maiores esforços validados na alegria jubilar desta noite magnífica, em que comunidade acadêmica, amigos e parentes nos homenageiam e celebram a conquista que não alcançaríamos sozinhos.

Nosso vínculo afetivo com esta universidade não termina com nossa outorga de grau. Ao sairmos da UFCG não deixaremos de nos preocupar com a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão, que é conseguida com novos cursos e campi instalados, mas também infraestrutura e recursos humanos de alto nível. Que notícias positivas, como as que espelham o brilhantismo de alguns cursos, deixem de ser algo restrito e se multipliquem aos vários cursos desta universidade.

Estamos cientes da responsabilidade em transcender além da UFCG o que aprendemos nesta instituição. Afinal de que vale o conhecimento sem ações concretas? Que cada real investido pela sociedade em nossa formação tenha sido o investimento bem sucedido do nosso povo, que em sua maioria não sabe o que é ter um parente com curso superior. É motivo de felicidade pessoal, mas vergonha de todo um país, sermos a elite dos 8% dos brasileiros que têm acesso à universidade.

O fato de sermos alunos de uma universidade pública constitui prova de que tributos, quando bem aplicados, geram desenvolvimento. Diferentemente do que estamos habituados a ver, quando impostos são criminosamente desviados, aniquilando a vida de quem morre em uma fila de hospital e a educação de quem nunca chegará a uma universidade. São potenciais bacharéis e licenciados perdidos para o tráfico de drogas, desviados para a prostituição e incutidos na miséria. Jovens que engrandecem, diariamente, as piores cifras possíveis, e, dentre estas, as de jovens assassinados. Embora a alegria de hoje seja imensa, é impossível não nos sentirmos embaraçados quando sabemos que esta felicidade nunca chegará a estes jovens que, em algum momento de suas vidas, tiveram tanto potencial quanto nós.

Quanto aos que vieram hoje celebrar conosco, devemos dizer que são muitos aqueles aos quais devemos nossa gratidão. Pais, que estão mais felizes do que nós, cônjuges que dividem tantos momentos conosco,  funcionários que acabaram se tornando amigos, mestres orgulhosos de seus pupilos, amigos e parentes radiantes com o dia que parecia não chegar!

Diferentemente do excerto contido em Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, segundo o qual não ter filhos é não transmitir a nenhuma criatura o legado da miséria humana, pai e mãe, vocês nos geraram e nos mostraram que a humanidade não é miséria. Vocês nos ensinaram que a humanidade é desapego e amor incondicional. Celebrem conosco essa grande alegria que pouco representaria sem que vocês estivessem ao nosso lado.

Muitas vezes o que queríamos era somente nos recolher ao abraço e carinho de nossas namoradas e companheiras. Foi quando as deixamos sozinhas, e que se resignaram com a saudade, que pudemos entender um pouco sobre o quão imenso é o nosso amor... É na hora da despedida, por mais breve que seja a partida, que o amor se mostra em sua imensidão. Nosso singelo muito obrigado como demonstração pontual de nosso amor, admiração e respeito.

Amigos e familiares, somos muito gratos a vocês pela ajuda material e fraterna que nos deram durante nossa formação. Em cada vitória nossa, sintam-se vitoriosos. Tomem nossa festa como se fosse a vossa.

Agradecemos, também, aos funcionários pelo empenho e dedicação que viabilizaram desde nossa primeira matrícula até a expedição de nossos diplomas.

Caros mestres, tentamos, ambiciosamente, absorver o melhor de cada um de vocês. Este objetivo certamente não foi alcançado, mas não esqueceremos que, da mesma forma pela qual o nosso primeiro professor nos segurou pela mão quando nos ensinou a segurar um lápis, vocês nos ensinaram o que antes era totalmente estranho. Esperamos, sinceramente, que vocês sejam reconhecidos proporcionalmente à responsabilidade que detêm. Aceitem nosso eterno respeito e admiração.

Na qualidade de ex-alunos desta escola, carregamos a filosofia segundo a qual é pelo uso do conhecimento que se promove o desenvolvimento humano. Como disse Heráclito, um rio não passa duas vezes pelo mesmo lugar. Nós, os egressos da UFCG, seguindo esse mesmo preceito de mutabilidade constante da qual nos falou Heráclito, saímos da UFCG em condições diametralmente opostas em relação ao que éramos quando do início de nossos cursos. Ingressamos na UFCG como jovens sonhadores e hoje saímos licenciados ou bacharéis muito mais maduros do que na época em que entramos aqui.

Nesse instante, o sentimento de ansiedade pela conclusão do curso dá espaço à saudade e à sensação de que tudo valeu a pena. Somos vitoriosos independentemente do que nos venha a ocorrer daqui em diante. Que a emoção desta noite permaneça em cada um de nós se os desafios aparentarem ser maiores do que nossas reais capacidades. Muito obrigado a cada um de vocês.


UFCG e redação do VozdePedra