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14 de jun. de 2012
Psicólogo para professor: Estado poderá bancar
Em 2010, 1.870 professores da rede estadual de Pernambuco deixaram as salas de aula e foram readaptados de função, segundo a coordenação da perícia médica do estado. Quase a metade deles, por problemas emocionais
A Professora Andrea Nogueira, 43, anos : “A pressão no trabalho me deixou doente. Não conseguia nem dormir”Em oito anos trabalhando dentro de salas de aula, ela viu muita coisa. Vandalismo, tráfico de drogas… um assassinato. Em meados de 2010, um estudante foi morto dentro da Escola. “Ficou impossível trabalhar lá. Eu não conseguia entrar. Tinha crise de pânico”. Por precaução, a Professora que deu esse depoimento não será identificada. Seu caso é extremo. Mas faz parte de uma estatística que chama a atenção. Naquele ano, 1.870 Professores da rede estadual de Pernambuco deixaram as salas de aula e foram readaptados de função, segundo a coordenação da perícia médica do estado. Quase a metade deles, por problemas emocionais.Números que estão levando assembleias legislativas brasileiras a discutirem projetos de lei que objetivam a prevenção e o tratamento de alguns desses distúrbios e síndromes, como a de burnout, que está diretamente relacionada ao ambiente de trabalho. Burnout significa “se queimar”, em inglês. A síndrome foi descoberta pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger, em 1970.
No país, primeiro foi o Rio de Janeiro, depois Goiás, agora Pernambuco. Começou a tramitar na Assembleia Legislativa do estado o projeto de lei nº 958 / 2012, do deputado Sérgio Leite (PT), que pretende obrigar o governo a implantar um programa de prevenção, acompanhamento e tratamento aos Professores da rede estadual com a síndrome de burnout. No Rio de Janeiro, proposta parecida, do deputado Alcides Rolim (PT), já foi aprovada.
Exaustão mental
Existem várias concepções para a síndrome de burnout, mas alguns elementos são comuns a todas elas - sintomas relacionados à exaustão mental e emocional, fadiga e depressão; predominância dos sintomas comportamentais e mentais em relação aos físicos; sintomas relacionados ao trabalho; e diminuição do desempenho no trabalho causada por atitudes e comportamentos negativos. E a síndrome costuma surgir em pessoas que não tinham qualquer distúrbio psicopatológico.
“A pressão no trabalho me deixou doente. O estresse não me deixava nem dormir”. O relato é da Professora Andrea Nogueira, 43. Ela não foi diagnosticada com burnout, mas o estresse a levou a passar um mês afastada do trabalho. “Na síndrome de burnout, é o trabalho ou algo que está acontecendo no trabalho que adoece a pessoa. E não precisa ser um trabalho perigoso. Pode ser o chefe, um colega, o ambiente ou mesmo o excesso de atividades”, disse a psicóloga cognitivo comportamental Beneria Donato.
Em Pernambuco, caso a proposição também vire lei, o estado terá, gradualmente, que ampliar a avaliação médica (física, psíquica e emocional) dos Educadores da rede estadual no momento do ingresso ou quando houver necessidade. Além disso, será necessário oferecer acompanhamento por equipe composta por psiquiatras e psicólogos para realizar o tratamento e minimizar as consequências. Campanhas sobre a síndrome e ações para promover a saúde emocional do Educador também estão previstas. A proposta entrou em tramitação no último dia 6 e ainda precisa passar pelas comissões de Educação, Saúde, Administração, Justiça e Finanças, antes de ir a plenário.
Tratamento
Para a gerente geral de Desenvolvimento de Pessoas da Secretaria Estadual de Educação, Elizabeth Jales só nos últimos quatro anos, 18 Núcleos de Atenção aos Servidores foram instalados em todo o estado e que, caso vire lei, o programa previsto no projeto nº 958/ 2012 vai “complementar o trabalho que a gente desenvolve”. Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, Heleno Araújo, diz que, no estado, “há uma tentativa de formar grupos multidisciplinares que atendam nas Escolas. Na prática, não funciona. É
preciso uma política mais consistente”, pontuou.
Diário de Pernambuco (PE)