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6 de nov. de 2012

MULHERES DE CANOA DE DENTRO CONTINUAM A DAR EXEMPLO



Organização e resistência para a convivência com o Semiárido


No município de Pedra Lavrada, curimataú paraibano,  a  comunidade  Canoa  de  Dentro  se organiza a partir dos princípios da agroecologia e da convivência com o semiárido.

Com muita organização, autonomia e resistência a comunidade  se  destaca  como  referência  para demais regiões do Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar do Cariri, Curimataú e Seridó Paraibano (agente político e social  articulador  da  agricultura  familiar  em  10 municípios do semiárido paraibano).

Na comunidade, as famílias se organizam através do Centro de Cidadania das Mulheres, criado em 2008. Além  disso,  o  grupo  Mulheres  Filhas  da Terra,  desenvolve  um  importante  trabalho  de beneficiamento de frutas nativas e adaptadas, desde 2006.

Antes do Centro de Cidadania existia apenas a Associação dos Pequenos Agricultores Rurais, onde algumas representantes do Centro faziam parte da diretoria. Nesse período a comunidade conseguiu desenvolver várias atividades de forma coletiva, através de mutirões, como o da limpeza do açude e da construção da parede da Lagoa (um dos tanques de pedra da comunidade). 

“Depois que a gente viu que a associação não estava regular na justiça federal, vimos à necessidade de formar outra associação, pra ta podendo trazer beneficio pra comunidade, que foi o Centro da Cidadania das Mulheres, que  começou a funcionar em 2008 aqui na  comunidade Canoa de Dentro”. (Maria Betânia Buriti)

Em  2011,  com  apoio  do  Coletivo  Regional  e  do Patac, o Centro de Cidadania,  que hoje possui 48 sócios, construiu a unidade de beneficiamento de frutas  do  grupo  Mulheres  Filhas  do  Semiárido. Através  do  grupo  as  mulheres  da  comunidade comercializam  seus  produtos  para  a  Bodega Agroecológica, o  Programa de Aquisição  de Alimentos (PAA)  e  para  o Programa Nacional  de Alimentação Escolar (PNAE).

Rosimere Santos (uma das lideranças comunitárias)  comenta  que  pessoas  de  outras comunidades  da  região  também  participam  das reuniões do Centro de Cidadania, com interesse de se associar: “Eles vem, mas só que a gente vê queisso deve ter em cada comunidade. Cada comunidade deve ter  sua  autonomia  de se organizar, aí às vezes a gente nem associa, mas mesmo assim eles vêm e participam”.

Através das comissões municipais o grupo mobiliza as demais comunidades incentivando a autonomia e formação de novas associações. Atualmente  cerca  de  17  comunidades  participam das  reuniões  da  comissão  municipal  de  Pedra Lavrada, mas o grupo acredita que ainda é preciso organizar muitas outras comunidades. Maria Betânia comenta: “Em todo o município apenas a região do Seridó não foi envolvida, pois se trata de uma região onde ainda existe muita falta de apoio, mas estamos tentando aproxímá-los e incentivar a organização da comunidade”.

O grupo tem consciência de sua responsabilidade enquanto referência organizativa na região e busca conscientizar agricultores e agricultores sobre a importância da auto organização coletiva em cada comunidade.


Manejo da biodiversidade e convivência com o semiárido garantem vida digna e sustentável às famílias

A organização comunitária de Canoa de Dentro tem garantido o desenvolvimento da agroecologia e da agricultura  familiar  camponesa.  Hoje  a  comunidade  é  exemplo  de  organização  para  ampliar  a capacidade de armazenamento de água. Atualmente na comunidade existe: três tanques de pedras, um açude e algumas barragens de pequeno porte, além das implementações familiares:  cisternas de placas, cisternas calçadão e barragem subterrânea.

Aágua armazenada além de abastecer as famílias da comunidade Canoa de Dentro, abastece famílias de comunidades vizinhas, como: Cordeiro, Belo Monte, Caiçarinha e Campinhos. Rosimari Alves (uma das lideranças na comunidade), explica: “Há uma divisão na comunidade, o tanque de pedra é para água de beber, as pessoas que não tem cisterna utilizam a água do tanque pra beber. Com isso, mesmo em período de grandes secas, como deste ano (2012), a comunidade não sofre com a falta de água”.

Rosimere também comenta sobre a importância do reaproveitamento da água servida no arredor de casa: “Ainda tem pessoas que nem liga pra isso, mas a maioria das casas aqui tem fruteira. É difícil ver uma casa aqui na comunidade que não tenha fruteiras ao redor, mesmo na época da seca”.

Nos arredores de casa as famílias produzem além das plantas medicinais e hortaliças, diversos tipos de fruteiras, como: umbu, caju, manga, acerola, goiaba e mamão. Nos roçados são cultivados: milho, feijão, macaxeira e fava.  Para o beneficiamento de doces, compotas, polpas e licores, são utilizadas as 
frutas produzidas na própria comunidade.

Além da produção de alimentos há também a prática da criação de animais, como: gado, ovelhas, galinha, porco, guiné e perú. Tudo é produzido e cultivado com base nos princípios da agroecologia, sem uso de agrotóxicos e respeitando as condições do meio ambiente.

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http://www.asabrasil.org.br
O CANDEEIRO
Ano 6 | nº 995 | outubro | 2012
Pedra Lavrada- Paraíba