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12 de jun. de 2013

O Circo do Hulk chegou!

(Foto: Taiguara Rangel/G1)
Será sempre muito difícil discutir sobre a contribuição que os programas de auditório brasileiros prestam a nós, telespectadores, seja no aspecto cultural ou em qualquer outro. O Caldeirão ainda é o que tenta usar um pouco do seu vasto tempo para passar alguns conceitos úteis e positivos, não sem ganhar milhões em cima de ações que custam alguns poucos milhares de reais...

Mas uma visita como essas do programa de Luciano Huck a Campina Grande é sempre muito importante para que as pessoas - e principalmente quem está começando agora nessa área da comunicação, jornalismo, publicidade etc. - percebam que o que aparece todas as semanas dos outros lugares também não é a realidade desses locais.

O pobre homem campinense não vai ganhar a casa porque Huck ou qualquer outra pessoa da Globo se compadeceu de sua triste história e sim porque havia um acordo comercial com a prefeitura e/ou o governo do estado para mostrar um grande evento que acontece na cidade onde ele mora.

Não foi ele que conseguiu os 30 sanfoneiros, foram a prefeitura, a tv local e as redes sociais.

O Parque do Povo nunca lota às terças-feiras, a não ser que seja feriado ou que haja uma grande movimentação na cidade - inclusive com carros de som - para que as pessoas se interessem em ver o apresentador da Globo.

E Aviões não vai aparecer porque é a cultura do local, mas porque há acordos comerciais para que eles apareçam, ou, no mínimo, não há acordos semelhantes para mostrar os artistas daqui.

Assim é em todo lugar, então sempre que você vir esse tipo de "arrumação" pode desconfiar sem moderação. É tudo produção!

No final, o sanfoneiro vai ganhar sua casinha - que custa uma pequena fração do que foi investido nos poucos minutos de produção global - e é nisso que eu acho que a gente deve tentar focar. Encontrar o pouco de positivo que há nessa história toda. Pior seria se tivéssemos mais uma daquelas matérias com sertanejos lotando o PP ou se o nobre narigudo tivesse trazido consigo algum grande hit maker do funk de plástico paulistano, que já tomam conta dos playlists de nossas rádios permanentemente.

É sempre bom lembrar que não há pagamento - pelo menos oficialmente - pela exibição da matéria, mas sempre tem umas despesinhas pra cobrir quando essa galera vem, além dos custos pra deixar a casa bonitinha, e ninguém vai deixar de contribuir para ter um espaço tão valioso em rede nacional.

Vamos esperar que o público consiga, nem que seja inconscientemente, fazer o paralelo e refletir sobre uma cidade que tem O Maior São João do Mundo, mas também tem um ótimo instrumentista de sua maior expressão musical vivendo na miséria e morando em condições desumanas, que precisa da caridade de um programa de TV para ter uma vida melhor, enquanto a cidade chama para representá-la na telinha da Globo uma banda de outro lugar, sem qualquer valor cultural e que para tocar uma noite na cidade recebe - adiantado - mais do que todos os colegas do mesmo nível do agraciado pela atração receberão ao longo de toda a carreira.

Será que o povo consegue???



Artigo de autoria de Emerson Saraiva

Publicado no site Pagina do Dia