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19 de set. de 2013

Nova droga na África do Sul mistura heroína, maconha e veneno para rato

A nova droga, em forma de pó, é fumada em cigarros misturada com maconhaEm um espaço aberto próximo à estação de trem na cidade de Soweto, na África do Sul, vários jovens em seus 20 e poucos anos fumam nyaope, um novo coquetel de drogas.

Alguns deles parecem mortos-vivos de tão alterados.

"Estava estudando, mas abandonei por causa das drogas. Deixei a escola aos 14 anos", diz Thuli, com os olhos vidrados.

Ela diz não ver futuro para si própria.

Thuli tem apenas 16 anos e está dependente de uma droga extremamente viciante que está se espalhando pelo país, fazendo novas vítimas diariamente.

O nyaope é um pó esbranquiçado - heroína de baixa concentração misturada com ingredientes como veneno para rato e, em alguns casos, até mesmo farelos de remédios para pacientes com HIV.

Polvilhado sobre maconha, faz um coquetel altamente viciante e destrutivo.

"Eu preciso fumar esta coisa. É nosso remédio. Não podemos viver sem. Se eu não fumar, fico doente", diz outro usuário, que prefere não dar seu nome, entre baforadas da droga.

Aprisionados
Apesar de estarem trastornados, esses dependentes dizem que querem largar o nyaope porque percebem que foram aprisionados por uma droga que os está levando para um caminho sem volta.

"Quando éramos jovens, fumamos maconha primeiro, no colégio, antes de começar com as coisas mais pesadas", diz Kabelo, um depedente de 32 anos.

"Agora a juventude está começando com o nyaope - direto com as coisas pesadas", observa.

Enquanto enrola outro cigarro da droga com seus dedos de unhas pintadas de rosa, Nomyula, de 23 anos, comenta o futuro: "Minha família quer me ajudar. Eles acham que a prisão será boa para mim como uma reabilitação".

Ao custo de cerca de R$ 4,50 a dose, a droga é relativamente barata.

Mas conforme ela vai afetando a vida dos usuários, muitos deles logo começam a roubar para sustentar o vício.

Eles fazem inimigos em suas próprias famílias e na comunidade.

Recuperação
Ephraim Radebe, um dependente em fase de recuperação, diz que foi agredido por pessoas da rua de cima de sua casa.

"Eles me perseguiram, ma bateram com tijolos, dizendo que eu precisava morrer. Um homem trouxe gasolina e eles queriam me queimar", conta.

Radebe diz que ficou "doente e cansado de estar doente e cansado" o tempo todo, e agora já está livre das drogas há dois meses - para alívio de sua mãe, cuja vida havia se transformado em um inferno.

"Quando eu voltava para casa, tirava meus brincos e os colocava na bolsa", lembra a mãe de Ephraim, Rose Radebe. "Na manhã seguinte, eles tinham sumido. Ele roubava de mim e até mesmo da casa da minha mãe ou dos vizinhos."

"Essa coisa está destruindo os pais ainda mais que os filhos, porque todos os dias você se pergunta: 'Onde eu errei?'", afirma.

Campanhas educacionais
Apesar de conter heroína, o nyaope ainda está em processo de ser qualificado como substância ilegal. O governo diz que isso prejudica os esforços de levar à Justiça os casos envolvendo a droga.

Também há denúncias sobre policiais trabalhando em conjunto com os traficantes.

O nyaope é principalmente encontrado na província de Gauteng, onde estão Johannesburgo e Soweto. Mas um coquetel semelhante, conhecido como whoongais, também é encontrado nas ruas de Durban, na costa leste do país, enquanto comunidades na província do Cabo Ocidental, no sudoeste, sofrem com a droga Crystal Meth, conhecida localmente como tik.

Acompanhando o rápido aumento na dependência de drogas, o governo prometeu estabelecer um centro de reabilitação em cada uma das nove províncias sul-africanas e investir em campanhas educacionais.

A julgar pela velocidade na qual o nyaope está se espalhando, parece claro que a estratégia do governo não está funcionando.

Ajuda
Percebendo que a ajuda disponível não é suficiente, Radebe e outro dependente em recuperação, Anwar Jones, estão ajudando outros viciados a parar de fumar nyaope.

Eles os encontram quando estão fumando ou em lixões nos quais procuram coisas para vender e financiar a próxima dose.

"Eu não me vejo como um ser humano", diz um jovem ao retirar fios de cobre de um equipamento elétrico.

"Mas você é", responde Jones, que passou por um treinamento gratuito para oferecer terapia a dependentes.

"E a mudança pode acontecer. A mudança vai acontecer", diz ele. "Queremos ajudar você a ficar limpo, a se reconciliar com sua família e ter uma vida melhor."

BBC