12 de abr. de 2011

Hábitos femininos que tornam mulheres vulneráveis à violência



Seja no carro ou no mercado, muitas não imaginam o perigo que correm pela falta de atenção com o que acontece ao redor


É amplamente divulgado o fato de que criminosos – ou ao menos a maioria deles – desejam encontrar o mínimo de resistência possível a suas ações. Ao estabelecer seus objetos de interesse, levam em conta a fragilidade das vítimas. Em tese, portanto, se essas vítimas forem do sexo feminino, tanto melhor: por questões de porte físico, força etc.
Mas seria esse o único motivo a explicar por que mulheres ficam muito vulneráveis quando se trata de violência urbana, especialmente assalto, sequestro relâmpago e ocorrências similares?
De acordo com especialistas em segurança e com representantes da polícia, não. Os próprios hábitos e comportamentos tipicamente femininos, e mesmo as responsabilidades assumidas pela mulher, necessitam ser considerados na equação. “A mulher normalmente tem dupla jornada. Ela se levanta cedo, faz as coisas em casa e já sai de ‘cabeça quente’”, pondera Telma Regina Violi Preto, delegada assistente do 1º DP de São Bernardo do Campo (SP).
Tal condição, aparentemente, nada teria a ver com a citada “vulnerabilidade”. Mas tem, afirma a delegada: “E então, a caminho do trabalho, essa mulher já está pensando numa porção de compromissos. Nesse estado de dispersão, ela nem percebe, por exemplo, que a bolsa chama atenção no ônibus”.
Junto dos filhos Em setembro do ano passado, a fisioterapeuta Tathiana Ghisi de Souza, de Campinas (SP), estacionou o carro em frente à escola do filho pequeno para apanhá-lo. Como fazia calor, deixou aberta uma das portas, para ventilar – era hábito dela e continua sendo de outras mães nos dias mais quentes, para evitar o desconforto das crianças ao entrarem no veículo. Segundo Tathiana a rua é bem movimentada. “Tem uma oficina ao lado, é cheio de gente. E eu estava a dois passos do carro.”
Enquanto esperava que uma funcionária do colégio trouxesse Matheus, então com um ano e meio, virou-se para trás e viu que dois sujeitos entraram, desimpedidos, no automóvel. Nada pôde ser feito. A fisioterapeuta passou a alertar outras pessoas para o risco da situação: “Depois disso, já avisei várias mães ali. Como a cadeirinha de bebê é muito quente, e o lugar não parece perigoso, todas costumam deixar a porta aberta.”
O descuido associado à presença dos filhos contribui para suscetibilidade das mulheres aos crimes, avalia o consultor de segurança Niv Yossef Steiman, gerente do Grupo GR, especializado no setor. Ele lista os centros de compras como ambientes favoráveis à distração. “Filhos pequenos normalmente são ativos, por isso a atenção está voltada para eles. Quando vai ao shopping, a mulher deve levar uma bolsa pequena, para ter as mãos livres, se estiver acompanhada dos filhos. Tem de se preparar para esses momentos, pensar em objetos pessoais que não atrapalhem.”

Poucos anos atrás, ao regressar de uma viagem pela Dutra, seu carro sofreu pane elétrica. Ela já chegava à capital quando teve de parar no acostamento. Foi abordada por dois assaltantes, agredida e viu o celular ser furtado. “Como as portas estavam travadas, um deles veio pelo teto solar. Pediu a bolsa, mas falei que não tinha. Ele só não viu porque a mala estava atrás do banco do passageiro”, recorda Tais, que confessa sempre ter colocado a bolsa no banco do carona. Depois deste episódio ela mudou seu hábito. “Era uma mania, mesmo. A partir desse dia, não largo mais do meu lado, não.
Bolsas e maquiagens Item não somente utilitário, mas também de adorno, a bolsa feminina é um atrativo evidente para os ladrões. Quanto mais exposta, mais passível de roubo ou furto. A bancária Tais Cassiano, de São Paulo, descobriu na prática, e de maneira traumática, que é recomendável deixá a bolsa em lugar menos visível.
O consultor Niv Yossef Steiman aponta que, no trânsito, essa proximidade da bolsa termina por induzir outra postura não recomendável: quando o veículo para no semáforo, por exemplo, há aquelas motoristas que aproveitam para retocar a maquiagem. O risco de aproximação não percebida de um ladrão, por razões óbvias, aumenta e muito. “Como recomendação, falamos o tempo todo: não chame atenção e não se distraia. Joias, se quiser usar, não é proibido, claro. Mas coloque quando chegar ao local determinado. Não há necessidade de expor itens valiosos.”
Ainda com relação às bolsas, Steiman lembra-se de que muitas mulheres, no supermercado, deixam as suas dentro do carrinho. Ele conta que sua esposa passou perto de ter a dela levada embora, em dada ocasião: “Ela largou no carrinho e se afastou por uns quatro metros. Aí, uma senhora surgiu e pegou. Como conhecia a bolsa, percebi. Mas, para qualquer outra pessoa, seria uma senhora mexendo na própria bolsa.”
Culpa e vítima Há dois meses, a engenheira Florise Malvezzi, de Santos (SP), estava chegando à sua casa com a filha, de 20 anos, quando suspeitou de um ciclista que as observava. Não houve sequer tempo de abrir o portão da garagem. “Ele voltou muito rapidamente, chegou com uma faca e fez minha filha refém. Levou o celular dela, as chaves e minha bolsa. Lá dentro, estavam holerite, conta de luz e muitas coisas. Estamos traumatizadas, com muito medo.”
Contando com este último episódio, Florise já sofreu 14 roubos. Desde então, vem tomando cuidados redobrados. Mas se incomoda com essa situação na qual, em certa medida, acabou sendo vista como “causadora” do próprio delito. “Os guardas diziam: ‘Você nunca deve descer do carro antes de dar uma olhada, tem que dar uma volta no quarteirão, ter cuidado!’. Até suspeitei, mas foi muito rápido”, rebate.
A delegada Telma Regina Violi Preto faz a ressalva de que, embora algumas mulheres “facilitem”, não se pode transformá-las de vítimas em culpadas. Andar na rua falando ao celular ou passar batom dentro do carro, e com o vidro aberto, são alguns dos hábitos que Telma enumera como reconhecidamente perigosos. “Mas em diversos casos as medidas de precaução não são tomadas por causa da vida corrida mesmo. E a mulher acaba se esquecendo um pouco da segurança. Essa, infelizmente, é a realidade”, completa a delegada.
IG