20 de jun. de 2011

BATEU PINO!

Por José Augusto Longo da Silva


Anos quarenta, a febre do ouro. A descoberta de jazidas na Mina de São Vicente, hoje Itajubatiba, no Município de Catingueira, mobilizava legiões de aventureiros que seguiam pra lá com a intenção velada de enriquecerem. Muita gente abandonou suas obrigações costumeiras para batear. O metal precioso aflorava à terra. Alguns, na verdade, conseguiram tirar o “pé da lama”, outros, no entanto, amargaram prejuízos enormes e decepções. Ainda hoje contam-se estórias interessantes dessa passagem na vida dos sertanejos, algumas trágicas, outras hilariantes.



Como não podia deixar de ser num acontecimento desses a mobilização de pessoas era imensa e dentre os que chegavam a São Vicente, havia os bons e os maus. Uns que cavavam a terra dia após dia na busca do ouro, outros que aguardavam o momento exasto pra “dar o bote”. Por isso muitos assassinatos ocorreram, o que chamou a atenção das autoridades.


Preocupado com a situação, o governo do Estado designou o coronel João Costa, o terror dos bandidos da época para policiar a área. Era rigoroso e pra ele bandido bom era bandido morto. João Costa era do time de elite da polícia, onde pontificavam além dele, Irineu Rangel, Silva Lira e Manoel Benício, dentre outros. Era uma época de banditismo, onde impertava o cangaço. Vários episódios da era de trinta são ainda hoje contados como exemplos de bravura desses valorosos homens.



Chegando à Mina, o coronel iniciou uma varredura para apreensão de armas onde ninguém conseguia escapar. Vagabundo, então, ou arranjava trabalho ou tinha que dar no pé, sob pena de mofar na cadeia.


Como era de se esperar alguns opuseram resistência e o pau cantou. Não era raro o dia em que a polícia era vista batendo em marginais e por isso as opiniões se dividiam, uns a favor e outros contra.


Contratado para conduzir feirantes para a Mina do Ouro, Isdrilio Carneiro toda semana estava lá com o seu “misto”.


Logo, logo, passou a criticar as atitudes da polícia e comentava com os amigos:
- Isso é uma vergonha, a polícia está aqui todo santo dia batendo no povo. Esses “macacos” vieram pra cá apenas pra prejudicar. Ninguém mais tem sossego. Esse tal de coronel João Costa é um sanguinário, só se contenta batendo e humilhando o povo. O governo devia tomar providências.


Passando numa dessas ocasiões e ouvindo a conversa, um “olheiro” do coronel foi direto pra ele contar o que tinha ouvido e já dava como certo que o falador motorista pelo menos levaria uns sopapos.


Imediatamente após ouvir o fuxico, o coronel foi à procura de Isdrilio, tendo o encontrado embaixo do velho caminhão apertando alguns parafusos. Quanto encostou perto, este olhando de lado, divisou as perneiras lustrosas, enquanto sentia nas canelas o contato do bico das botas do coronel que foi logo dizendo:


- Seu Isdrilio, estou muito desapontado com o senhor. Foram me dizer que o senhor vive criticando as minhas atitudes, chamando-me de sanguinário e os meus homens de macacos. Fique o senhor sabendo, que o que fazemos apenas é procurar defender quem trabalha honestamente, como o senhor. Agora, os vagabundos e ladrões, são tratados como devem e disso não abro mão. Ladrão e vagabundo comigo é na peia. Mas, sinceramente, eu não acredito que o senhor, de fato, esteja dizendo o que eu soube. É verdade, seu Isdrilio que o senhor anda falando mau de mim e da polícia?


E ele, com a maior cara de pau do mundo:


- Que eu disse, disse, coronel, mas sou muito homem pra negar!


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