4 de ago. de 2011

O “chip do tesão” que Renata Banhara implantou no corpo

Tratamento é indicado para apenas 30% das mulheres que apresentam queda da libido

Primeira eliminada da quarta edição do reality show “A Fazenda”, a modelo Renata Banhara contou um segredinho que surpreendeu os colegas de confinamento. Ela revelou que colocou um “chip” no corpo para recuperar a libido. O tal dispositivo é na verdade um implante hormonal de testosterona, recurso usado por ginecologistas para reavivar o apetite sexual de algumas mulheres.
A testosterona é o principal hormônio produzido pelo corpo do homem, responsável pelo desenvolvimento e manutenção das características masculinas. Presente no organismo feminino em menor quantidade, a substância contribui para o apetite sexual da mulher.
Ginecologista renomado no tratamento da sexualidade feminina e adepto dos implantes hormonais, o médico Malcolm Montgomery explica como o tal “chip do tesão” funciona. Implantado embaixo da pele, o tubinho de silicone libera entre 0,3 e 0,6 miligramas da substância no organismo a cada 24 horas. “Esses implantes são usados há 30 anos. Com o passar do tempo, eles foram se modernizando e ficando tecnicamente mais confiáveis”, conta. Ainda de acordo com o ginecologista, a vantagem dos implantes em relação à medicação via oral é o fato da testosterona não ter que passar pelo fígado, onde obrigatoriamente parte dela ficaria retida, exigindo assim uma quantidade maior da substância.

A descoberta do Viagra feminino?

A reposição da testosterona está longe de ser a solução para todos os problemas sexuais das mulheres. Carolina Carvalho Ambrogini, ginecologista da Universidade Federal de São Paulo, explica que nem sempre a questão é hormonal. “Muitas vezes o que está envolvido é um relacionamento desgastado. Não adianta você dar hormônio se o relacionamento não está bom”, analisa a especialista.
Malcolm conta que apenas 30% das mulheres que se queixam de falta de apetite sexual apresentam algum desequilíbrio hormonal, como a baixa produção de testosterona. Em média, 30% das mulheres sentem pouco ou nenhum desejo por questões de saúde, como depressão e insuficiências renal e cardíaca, outros 30% sofrem com problemas sócio-psicológicos, relacionados a traumas e valores religiosos, e 10% têm causas desconhecidas.
Dessa forma, antes de iniciar qualquer tratamento, é preciso descobrir os fatores envolvidos na queda da libido, inclusive em mulheres jovens como Renata, de 36 anos. “A sexualidade humana depende de interações complexas entre processos mentais, mecanismos neurofisiológicos, bioquímicos e as relações interpessoais. Alterações em alguns destes setores levam à diminuição do desejo na mulher”, aponta a Angela Maggio da Fonseca, ginecologista e professora associada da Universidade de São Paulo.
Também faz sentido levar em conta as expectativas da paciente. Dar ouvidos a histórias incríveis (e muitas vezes fantasiosas) pode levar uma mulher saudável – com altos e baixos normais da atividade sexual – ao consultório médico. Renata, por exemplo, estava cansada de se sentir diferente: “No meu meio as minhas amigas chegam e falam: ‘eu sou irada, dou pirueta no teto, giro no lustre’. Daí eu fico olhando com uma cara... Às vezes eu sou assim, mas às vezes não. Às vezes fico meio broxa”.

Efeitos colaterais e custo do implante

É preciso tomar cuidado com o uso da testosterona. O excesso dela pode causar efeitos colaterais, desencadeando um processo de “virilização” da mulher. “A voz pode ficar grossa, o cabelo cair, pode ocorrer aumento do clitóris, aumentos dos pelos e a pele ficar mais oleosa”, alerta Carolina. “Por essa razão a testosterona precisa ser bem indicada, não é para todo mundo”, completa.
Importados, os tubinhos não são baratos. Cada unidade custa entre R$ 500 e R$ 600. Dependendo da recomendação médica, a mulher pode implantar de um a seis desses tubinhos para obter um resultado satisfatório. O procedimento cirúrgico leva só dez minutos, não é necessário nem dar ponto. Depois de 60 dias, a paciente volta ao consultório para saber se há necessidade de ajustar a dosagem. Os implantes podem ficar no corpo feminino até um ano e meio antes de serem trocados. No primeiro mês de uso, os efeitos já são sentidos.


Personalização justificaria o alto custo

Esses implantes não podem ser vendidos em farmácias, eles são personalizados para cada mulher e exclusivamente colocados por ginecologistas nos consultórios. “Antes fazer o implante, é preciso avaliar o índice de massa corporal da mulher, se ela é fumante ou não, se é sedentária, magra ou obesa. A saúde precisa estar em dia. O uso do hormônio exige uma sintonia muito fina”, esclarece Malcolm. A escolha da dose certa depende também de características genéticas, porque a paciente pode ter mais ou menos receptores de testosterona no organismo. O dispositivo hormonal não interfere no uso de pílulas anticoncepcionais, nem prejudica uma possível gravidez.

Uso terapêutico gera controvérsias

A prescrição do hormônio ainda gera controvérsias no meio médico. A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que controla a fabricação de medicamentos no Brasil, ainda não se posicionou sobre o uso dos implantes. “O FDA, órgão que regulamenta os remédios nos Estados Unidos, também não liberou nenhuma forma de uso da testosterona pela mulher. Apesar de alguns países como Inglaterra e Austrália terem o uso bem estabelecido dela”, esclarece Carolina.


IG