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17 de mai. de 2013

Sucesso entre gays, aplicativos de 'pegação' agora atraem também os héteros


O solteiro que quer mudar de estado civil têm um forte aliado: o smartphone. Ou melhor, alguns aplicativos que podem ser baixados para flerte ou "pegação", cabe ao usuário o fim que dará a eles. O público gay já dispõe há algum tempo desse tipo de ferramenta digital que dá uma forcinha para namoros ou encontros casuais. Grindr, Scruff e Hornet figuram entre os aplicativos voltados exclusivamente para o segmento.

O Tinder, lançado recentemente para aparelhos com sistema operacional iOS (iPhone e iPad), não se limita aos homossexuais: os héteros também podem desfrutar da novidade. Basta definir sua localização, preferência sexual e navegar pelos perfis de quem estiver nos arredores. Tudo anonimamente.

Os candidatos ou candidatas de sua predileção são selecionados depois de se clicar num coração verde -um X vermelho está ali ao lado para eliminar os mal cotados no processo de seleção. Se um dos escolhidos também gostar de você, o aplicativo o avisa e, a partir daí, os dois podem papear. O Tinder é baixado gratuitamente e o cadastro se dá via Facebook, mas essa informação não é publicada na sua página. O app usa dados da rede social para verificar se a pessoa tem amigos e opções "curtir" em comum com você. Em outras palavras, trata-se de um filtro.

O Bang With Friends, polêmico aplicativo para encontrar pares de sexo casual entre seus amigos do Facebook, ficou popular pela discrição. Nele, o usuário seleciona com quem transaria. Se a pessoa que ele selecionou o escolher também, ambos recebem um aviso de que o interesse é mútuo, para que eles possam combinar os detalhes da aventura. Recentemente, porém, a lista de usuários do aplicativo acabou sendo divulgada e qualquer usuário do Facebook pode saber quem de seus contatos estava usando o aplicativo. Existem outros apps do gênero. É o caso da versão hétero do Grindr, o Blendr, que anuncia ter mais de 180 milhões de usuários no mundo e está disponível para aparelhos com sistema iOS e Android. Seu principal atrativo, assim como o Grindr, é mostrar a quantos metros de distância uma outra pessoa interessada em sexo casual está de você. Ao fazer o login, o usuário é convidado a dar uma série de informações sobre interesses -hobbies, música que gosta de ouvir e por aí vai- para peneirar os interessados. Ao assinar o serviço Super Poderes, há vantagens. A função permite ver quem o adicionou como favorito além dos dispostos a conhecê-lo, ter acesso aos perfis mais populares e conversar com os adeptos do Blendr assim que logarem. O plano de 12 meses custa US$ 59,99. Se for mensal, US$ 5. É possível, também, acessá-lo pelo Facebook, cujas contas recebem um selo de verificação, assim como os números de celulares. Tudo para evitar com usuários caiam em fraudes de perfis falsos. Mas será que o namorico via celular é uma boa? "Como tudo que tem surgido desde o advento da internet, essas ferramentas facilitam o encontro de pessoas com interesses em comum", diz a psicóloga Rosa Maria Farah, que é coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP. "No início, sempre existe uma empolgação. O tempo vai dizer se elas são realmente úteis". O grande apelo comercial dessas engenhocas virtuais seria a facilidade de propiciar encontros e uma satisfação imediata ilusória com um simples toque na tela do celular. "É como se  um relacionamento não dependesse de tempo, cultivo e paciência", explica Rosa. Esse espaço virtual seria um grande parque de diversões para adultos onde eles, geralmente, agem de forma ingênua.  Além disso, o indivíduo pode se sentir mais seguro para buscar experiências mais excêntricas, devido à sensação de estar protegido pelo anonimato. Com isso, acaba se expondo além da conta. E, numa dessas, uma foto comprometedora pode vazar. Sem falar em gente mal intencionada. "É como aplicar na bolsa de valores", compara o psicólogo Ailton Amélio, professor aposentado da USP (Universidade de São Paulo).

Para os mais tímidos, no entanto, esses aplicativos podem servir como uma espécie de exercício das habilidades requeridas na paquera. "O anonimato facilita", afirma Amélio. De acordo com o psicólogo, os aplicativos têm o mérito de aglutinar pessoas, como um bar. "Sempre há disponibilidade. É uma tentação continuada". Mas esse fácil acesso tem um custo: substitui canais tradicionais de comunicação, como olhar, postura e tom de voz.  Ricardo Monezi, pesquisador do Instituto de Medicina Comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), é categórico: não há melhor filtro do que a realidade. "O comportamento é algo que se revela no dia a dia", diz Monezi. "A maneira como as pessoas se tocam e o cheiro, por exemplo, são determinantes para uma relação. Nenhum aplicativo vai transmitir todas as sensações do contato humano".

O fisiologista do comportamento lembra, ainda, que por trás da ferramenta há uma pessoa que pode fantasiar, iludir ou mentir. É preciso cuidado. "A gente alimenta o perfil com nossas expectativas, imagens de perfeição, mas os defeitos também fazem parte do nossos charme. Aliás, só há amor quando gostamos dos defeitos da pessoa querida", diz Monezi. Ele conclui: "O virtual é muito rico e ao mesmo tempo superficial. Não existe coisa mais gostosa do que trocar olhares".

BOL