Tenho lido em vários blogs das regiões do Seridó e do
Curimataú paraibano vários textos que tratam da suposta polêmica após uma
publicação de ator global sobre um relógio que não funciona.
Segundo Dema Macedo “O
ator Juliano Cazarré está na cidade de Picuí para filmar parte de um longa-metragem chamado "Valeu Boi" e publicou em página pessoal a frase:"
“Picuí, onde o tempo não passa”.
A frase do ator provocou em vários picuienses presentes e
ausentes um sentimento de amor à terra até então adormecido. Foi um moído danado no facebook sobre o tema,
pois, aos olhos de muita gente o ator teria feito um deboche.
Pois bem, apresentados os fatos, quero aqui dizer: O ATOR
ESTÁ CERTO! O RELÓGIO NÃO FUNCIONAVA! E DAÍ?
Que pais é esse que a liberdade de
expressão só vale se for para elogiar?
Todo mundo que visitava Picuí desde o ano de 2013 via aquele
‘elefante bordeaux’ enfeiando - grifo meu - uma praça tão rica em história e
simbolismo.
A cidade de Picuí, através dos discursos de seus gestores e
empresários, vem se auto-proclamando como pólo das Regiões do Curimataú e
Seridó paraibano atraindo, portanto, investimentos pesados dos governos federal
e estadual. Existindo nesse caminho uma “guerra não declarada” com o município
vizinho de Cuité. Aos olhos de quem mantém uma distância segura desses eventos,
a peleja entre as maiores cidades da região parece briga de menino buchudo
onde, ao cabo, todos saem perdendo. Inclusive as cidades que se comportam como satélites
desses “grandes centros de desenvolvimento
humano e econômico”.
Afinal, o tempo passa ou não passa em Picuí?
Decerto, temos
que usar instrumentos e ferramentas para mensurar o tempo. Este “ente” que tão
dificilmente foi definido pelo físico Albert Einstein com maestria até hoje
reverenciada. O “instrumento” mais usado pela humanidade para “medir” o tempo é
o nosso tão imponente Sol. Ou então sua “ausência”, chamada romanticamente por
nós de, noite. Dos relógios de pedra – na antiguidade -, até os relógios
atômicos – usados atualmente-, passamos por uma série de inovações tecnológicas
que nos permite atribuir valor a algo tão abstrato quanto o tempo.
Em se falando de tempo, usarei uma frase clichê que afirma: “O Tempo é o Senhor da Razão”.
Mas, para entender melhor esse palavreado, usarei a ajuda do
dicionário Michaelis que diz: RAZÃO – 1 conjunto das faculdades
anímicas que distinguem o homem dos outros animais. 2 O entendimento ou inteligência humana. 3 A faculdade de compreender as relações das coisas e de distinguir
o verdadeiro do falso, o bem do mal; raciocínio, pensamento; opinião,
julgamento, juízo.
Isto posto, fico a me perguntar se já não fomos mais
inteligentes. Como é que pessoas influentes da cidade que se coloca como “estrela
guia” do Seridó e Curimataú se sentem indignadas com uma afirmação trivial
feita por um visitante. AFINAL, O RELÓGIO NÃO MARCAVA O TEMPO E O ATOR ESTAVA
CERTO! O tempo, tendo o relógio “elefante bordeuax”, como referência, não
estava passando em Picuí!
Pergunto novamente: - E DAÍ?!
Os representantes da “estrela-guia” e seus ativistas “facebookianos”
poderiam dedicar parte dos relevantes serviços prestados, a buscar formas de,
efetivamente, fazer a cidade de Picuí ser devidamente respeitada por ser
exemplo na qualidade de vida a ser ofertada aos seus habitantes e, ai sim, como
pólo de disseminação de boas práticas, influenciar as cidades da vizinhança.
A cidade de Picuí, assim como a minha – Pedra Lavrada -, e
toda a região Seridó/Curimataú vive o tempo da “Pedagogia da Festa”. Esta é uma
praga que começou com os grandes eventos públicos com recursos públicos, onde
em dois ou três dias se gastam verdadeiras fortunas para promover, tão somente,
verdadeiras orgias alcoólicas que não trazem nenhum ganho na qualidade de vida
dos habitantes. A “Pedagogia da Festa” é tão nefasta que é dirigida mais
fortemente para visitantes e aos mais abastados na sociedade. Pois,
dificilmente, uma família humilde que mora na zora rural das regiões do Seridó
e Curimataú tem recursos suficientes para participar desses festivais tão,
alopradamente, destacados pelas administrações locais e propagandeada entusiasmadamente
pelos ativistas “facebookianos”.
Tomemos, por exemplo, o dito “Festival da Carne de Sol” que,
ironicamente, não oferece em nenhum estabelecimento comercial local, a carne
que dá nome a tão importante festa. Isso mesmo meus bons amigos, fiquem sabendo
que no festival da carne de sol não tem carne de sol. Simples assim! Pois, a
iguaria nordestense conhecida como carne de sol é patrimônio cultural de maior
relevância e, que em seu preparo, um ritual minucioso deve ser observado (AQUI).
Pois bem, a “Pedagogia da Festa” pegou o nome emprestado e com um “churrasco-quase-gaúcho”
promove uma festa que, por definição, é puro jogo de marketing alijado da cultura local.
E, o ponto mais alto do “Festival da Carne de Sol” é expor
os nordestenses ao ridículo ao promover uma competição bizarra, onde pessoas
humildes são levadas a se comportarem como hienas e terem sua saúde levada ao
risco extremo por comerem uma quantidade de carne colossal em um pequeno espaço
de tempo - O tempo novamente.
ROBERTO SOLON DE VASCONCELOS