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17 de mar. de 2014

Picuí é a cidade que o tempo não passa, sim senhor!

Tenho lido em vários blogs das regiões do Seridó e do Curimataú paraibano vários textos que tratam da suposta polêmica após uma publicação de ator global sobre um relógio que não funciona.

Segundo Dema Macedo “O ator Juliano Cazarré está na cidade de Picuí para filmar parte de um longa-metragem chamado "Valeu Boi" e publicou em página pessoal a frase:" “Picuí, onde o tempo não passa”.

"A historiadora Fabiana Agra entre outros internautas externaram repudio a fala do ator, quando dizia que em “Picuí o tempo não passa”, contudo há muito tempo que Fabiana Agra, como ativista política, vinha reivindicando não só a melhoria no visual do centro da cidade, mas também que o relógio fosse colocado em funcionamento."

A frase do ator provocou em vários picuienses presentes e ausentes um sentimento de amor à terra até então adormecido. Foi um moído danado no facebook sobre o tema, pois, aos olhos de muita gente o ator teria feito um deboche.

Pois bem, apresentados os fatos, quero aqui dizer: O ATOR ESTÁ CERTO! O RELÓGIO NÃO FUNCIONAVA! E DAÍ
Que pais é esse que a liberdade de expressão só vale se for para elogiar?
Todo mundo que visitava Picuí desde o ano de 2013 via aquele ‘elefante bordeaux’ enfeiando - grifo meu - uma praça tão rica em história e simbolismo.

A cidade de Picuí, através dos discursos de seus gestores e empresários, vem se auto-proclamando como pólo das Regiões do Curimataú e Seridó paraibano atraindo, portanto, investimentos pesados dos governos federal e estadual. Existindo nesse caminho uma “guerra não declarada” com o município vizinho de Cuité. Aos olhos de quem mantém uma distância segura desses eventos, a peleja entre as maiores cidades da região parece briga de menino buchudo onde, ao cabo, todos saem perdendo. Inclusive as cidades que se comportam como satélites desses “grandes centros de desenvolvimento humano e econômico”.

Afinal, o tempo passa ou não passa em Picuí? 

Decerto, temos que usar instrumentos e ferramentas para mensurar o tempo. Este “ente” que tão dificilmente foi definido pelo físico Albert Einstein com maestria até hoje reverenciada. O “instrumento” mais usado pela humanidade para “medir” o tempo é o nosso tão imponente Sol. Ou então sua “ausência”, chamada romanticamente por nós de, noite. Dos relógios de pedra – na antiguidade -, até os relógios atômicos – usados atualmente-, passamos por uma série de inovações tecnológicas que nos permite atribuir valor a algo tão abstrato quanto o tempo.

Em se falando de tempo, usarei uma frase clichê que afirma: “O Tempo é o Senhor da Razão”.

Mas, para entender melhor esse palavreado, usarei a ajuda do dicionário Michaelis que diz: RAZÃO1 conjunto das faculdades anímicas que distinguem o homem dos outros animais. 2 O entendimento ou inteligência humana. 3 A faculdade de compreender as relações das coisas e de distinguir o verdadeiro do falso, o bem do mal; raciocínio, pensamento; opinião, julgamento, juízo.

Isto posto, fico a me perguntar se já não fomos mais inteligentes. Como é que pessoas influentes da cidade que se coloca como “estrela guia” do Seridó e Curimataú se sentem indignadas com uma afirmação trivial feita por um visitante. AFINAL, O RELÓGIO NÃO MARCAVA O TEMPO E O ATOR ESTAVA CERTO! O tempo, tendo o relógio “elefante bordeuax”, como referência, não estava passando em Picuí!

Pergunto novamente: - E DAÍ?!

Os representantes da “estrela-guia” e seus ativistas “facebookianos” poderiam dedicar parte dos relevantes serviços prestados, a buscar formas de, efetivamente, fazer a cidade de Picuí ser devidamente respeitada por ser exemplo na qualidade de vida a ser ofertada aos seus habitantes e, ai sim, como pólo de disseminação de boas práticas, influenciar as cidades da vizinhança.

A cidade de Picuí, assim como a minha – Pedra Lavrada -, e toda a região Seridó/Curimataú vive o tempo da “Pedagogia da Festa”. Esta é uma praga que começou com os grandes eventos públicos com recursos públicos, onde em dois ou três dias se gastam verdadeiras fortunas para promover, tão somente, verdadeiras orgias alcoólicas que não trazem nenhum ganho na qualidade de vida dos habitantes. A “Pedagogia da Festa” é tão nefasta que é dirigida mais fortemente para visitantes e aos mais abastados na sociedade. Pois, dificilmente, uma família humilde que mora na zora rural das regiões do Seridó e Curimataú tem recursos suficientes para participar desses festivais tão, alopradamente, destacados pelas administrações locais e propagandeada entusiasmadamente pelos ativistas “facebookianos”.

Tomemos, por exemplo, o dito “Festival da Carne de Sol” que, ironicamente, não oferece em nenhum estabelecimento comercial local, a carne que dá nome a tão importante festa. Isso mesmo meus bons amigos, fiquem sabendo que no festival da carne de sol não tem carne de sol. Simples assim! Pois, a iguaria nordestense conhecida como carne de sol é patrimônio cultural de maior relevância e, que em seu preparo, um ritual minucioso deve ser observado (AQUI). Pois bem, a “Pedagogia da Festa” pegou o nome emprestado e com um “churrasco-quase-gaúcho” promove uma festa que, por definição, é puro jogo de marketing alijado da cultura local.

E, o ponto mais alto do “Festival da Carne de Sol” é expor os nordestenses ao ridículo ao promover uma competição bizarra, onde pessoas humildes são levadas a se comportarem como hienas e terem sua saúde levada ao risco extremo por comerem uma quantidade de carne colossal em um pequeno espaço de tempo - O tempo novamente.  

Enquanto a “Pedagogia da Festa” faz a festa, a cidade de Picuí – a estrela guia – ocupa a posição de número 3.957 no Índice de Desenvolvimento Humano no Brasil com a pontuação de 0,608. A nota vai de 0 a 1. A divulgação do resultado no ano de 2013 foi devidamente esquecida pelos ativistas “facebookianos” e nenhum texto de revolta e indignação foi publicado quanto aos dados do PNUD 2010. Esses sim, merecedores de toda atenção de quem realmente se preocupa com a imagem de sua comunidade. Mas, as coisas não ficam por ai. Quanto se trata de educação o índice é ainda pior, pois, ainda segundo os dados do PNUD 2010, a pontuação obtida é pior ainda, atingindo um total de 0,506. Pois é, um dado tão terrivelmente importante não mereceu nenhum brado retumbante dos ativistas 'facebookianos' tão preocupados com a confirmação de que o relógio que estava parado não marcava o tempo e, portanto, podemos afirmar que em “Picuí o tempo não passa”.

ROBERTO SOLON DE VASCONCELOS