8 de out. de 2011

PSDB perde deputados e prefeitos e vira partido pequeno no Ceará


A sigla, que já foi a maior do Estado, vê PSD crescer com seus ex-membros: "Aquela Amazônia de parlamentares acabou", diz tucano


Foto: AE
Então candidato a presidente, José Serra encontra o então senador Tasso Jereissati no Ceará, em 2010
O PSDB deixou a posição hegemônica que ocupava no Ceará e marcha para se tornar uma sigla pequena no Estado. Ao longo dos últimos 20 anos, o partido elegeu quatro governadores, mas, desde 2006, quando o então governador tucano Lúcio Alcântara não conseguiu se reeleger, derrotado pelo governador Cid Gomes (PSB), a legenda vem encolhendo. 

O último golpe veio do recém-criado PSD. O partido do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, arrematou quatro deputados estaduais do PSDB. De uma só vez, a bancada tucana diminuiu de sete para três parlamentares. Moésio Loiola, Osmar Baquit, Rogério Aguiar e Gony Arruda (secretário de Esporte do Estado) e os suplentes Cirilo Pimenta, Nenen Coelho e Professor Teodoro migraram para compor a já larga base governista de Cid Gomes (PSB). Eles trocaram de partido durante a última semana - o limite para quem pretende disputar as eleições de 2012. 

Uma outra baixa ainda está prevista, já que a executiva estadual do PSDB deve pedir a expulsão do deputado Téo Meneses. Ele está sob investigação, suspeito de ter recebido doações ilegais em sua última campanha.
Com isso, a bancada tucana passará de segunda maior na Assembleia Legislativa – atrás apenas no PSB, que elegeu 11 deputados – para uma das menores. Essa representação não é nem a sombra do que foi há poucos anos, durante os anos do segundo governo de Tasso Jereissati, na década de 90, quando os tucanos chegaram a ocupar 36 das 46 cadeiras do parlamento.
“Esses cinco deputados já eram do governo, já votavam com o governo. Isso criava confusão na cabeça da população e desconforto para o partido e para os deputados. O que levou eles para esse partido foi a política do toma lá da cá. Os cargos estão aí ocupados atendendo conveniências políticas e outras coisas mais que não devo dizer”, disse à reportagem do iG o presidente estadual do PSDB, Marcos Cals.
Por trás da debandada nos quadros tucano, está a força gravitacional exercida por Cid Gomes. O presidente da comissão provisória Estadual do PSD, Almircy Pinto, trabalha no gabinete do governador cearense.
Além dos cinco deputados, o PSDB também perdeu o deputado federal Salviano - que também migrou para o PSD. Além disso, a direção da sigla estima que 30 dos 54 prefeitos eleitos tucanos estejam deixando o partido. “Não tenho concluído um balanço com a quantidade exata, só na próxima semana terei esse levantamento”, explica Cals.
O começo da desidratação
O atual cenário começou a se desenhar em 2006, quando o ex-governador Lúcio Alcântara – hoje no PR – tentou a reeleição, mas não contou com o apoio de Tasso, a principal liderança tucana no Estado, e perdeu para Cid Gomes.
Na época, circulou a informação de que Ciro Gomes e Tasso sugeriram a Lúcio renunciar ao mandato para concorrer a uma vaga ao Senado, abrindo caminho para Cid. Desta forma, eles viabilizariam a manutenção da aliança entre os dois grupos. Lúcio não gostou e houve o racha. 

Ciro é cria política de Tasso. Foi o líder tucano quem o ajudou a se eleger prefeito de Fortaleza pelo PSDB em 1989. Logo depois ele deixou o cargo e se tornou o primeiro governador tucano do Ceará, em 1990. Em 1996, Ciro foi para o PPS e, só em 2005, para o PSB. Durante todos esses anos, Tasso e os irmãos Ferreira Gomes mantiveram a aliança, que só se desfez totalmente em 2010. Naquele ano, os Ferreira Gomes se uniram ao PT e derrotaram Tasso, que não conseguiu a reeleição para o Senado. 

Erro estratégico
iG ouviu o deputado Fernando Hugo sobre a situação atual do partido. Parlamentar de seis mandatos consecutivos, Hugo foi líder de Tasso na Assembleia durante seis anos, quando ele foi eleito em 1994 para seu segundo mandato pelo PSDB – o primeiro foi em 1986 pelo PMDB - e reeleito em 1998. O deputado analisa o momento como um reflexo das decisões tomadas por Tasso ainda em 2006. “Alguns ciúmes geraram destempero comportamental tucano, que fez com que lenta e paulatinamente perdêssemos a eleição de 2006, quando o partido seccionou-se”, reconhece.
O PSDB cearense tem que entender que aquela monstruosa quantidade de prefeitos, aquela Amazônia de vereadores, hoje é pequena, restrita”
“Foi o maior erro estratégico do senador de ontem e governador de anteontem Tasso Jereissati. Eu tenho certeza que ele, conversando com os seus botões, sabe que sim. Porém, na expectativa de que aqueles que criou politicamente fortes não dessem com os pés traiçoeiramente”, disse o deputado. Hugo se refere ás eleições de 2010, quando Cid acompanhou as alianças partidárias em nível nacional apoiando os senadores Eunício Oliveira (PMDB-CE) e José Pimentel (PT-CE), deixando Tasso de lado.
Marcos Cals, ex-presidente da Assembleia Legislativa, e candidato ao governo do Ceará pelo PSDB nas últimas eleições, discorda do colega de partido. “Os dois candidatos que concorreram era frutos do mesmo projeto. Em tese, eles tinham os projetos básicos do projeto mudancista de Tasso. Talvez o erro tenha sido o PSDB não ter apresentado uma atualização desse projeto”, diz ele.
Partido pequeno
Quando questionado o que o PSDB precisa fazer para voltar a crescer no Ceará, Fernando Hugo respondeu que o partido precisa adquirir a consciência de que se tornou pequeno no Estado.
“Em criando essa consciência, precisa tornar-se independente de pensar, e fazer uma oposição séria e percuciente, sem exageros. Sem o nunca e o não prevalecerem ante uma análise”, diz ele. “O PSDB cearense tem que entender que aquela monstruosa quantidade de prefeitos, aquela Amazônia de vereadores, hoje é pequena, restrita, e que precisamos ter brilho próprio, e entendimento que no Estado somos um partido pequeno, embora nacionalmente governe 51% do PIB”.
Para Cals, um partido que está organizado em 162 dos 184 municípios cearenses e tem a “marca” do PSDB no Ceará não pode ser tratado como pequeno. “Se ele é pequeno ou não, só saberemos lá na frente. Mas é um partido em que as lideranças disputam para estar à frente das executivas em todos os municípios”.
IG