Anúncio foi feito na manhã desta segunda-feira por meio de uma
carta. Ele também deixou a presidência do COL da Copa-2014
“Deixo definitivamente a presidência da CBF com a sensação
de dever cumprido”, diz um trecho da carta. Ele justifica a saída por motivos
de saúde. Fala ainda da dificuldade de dirigir a CBF. “Presidir paixões não é
uma tarefa fácil. Futebol em nosso país é associado a duas imagens: talento e
desorganização. Quando ganhamos, exaltam o talento. Quando perdemos, a
desorganização”.
Marín também informou que Teixeira deixará o cargo de
presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014. O próprio Marín
ficará na função. Na última sexta-feira, Teixeira havia se licenciado do cargo
e foi para Miami, nos Estados Unidos, onde tem casa.
“Não se trata de uma nova gestão. Trata-se de um mandato
contínuo. Hoje os diretores colocaram seus cargos à disposição, dando a mim
liberdade de escolha. É um novo presidente, mas não é uma nova gestão. Eu
preciso desses diretores para continuar essa administração moderna e exemplar
que é a CBF”, afirmou Marín.
FIM DE UMA ERA
Ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira havia assumido o
cargo no dia 16 de janeiro de 1989 e teve um mandato recheado de vitórias e
escândalos.
No campo das vitórias, ele levou o Brasil a conquistar duas
Copas do Mundo - 1994 nos Estados Unidos e 2002 no Japão e na Coreia do Sul - e
trouxe, em 2007, a Copa de volta ao país, dessa vez em 2014. Também instaurou o
sistema por pontos corridos no Campeonato Brasileiro, criou a Copa do Brasil,
reconheceu títulos brasileiros e trouxe mais credibilidade ao decretar o fim
das viradas de mesa.
Mas o mineiro nascido em Carlos Chagas no dia 20 de junho de
1947 ficou mais conhecido pelos escândalos na CBF. Décimo oitavo presidente da
entidade, burlou a lei para se reeleger, antecipando o pleito e, anos mais
tarde, estendeu o mandato para sete anos.
VIRADAS DE MESA E CONTRATOS DUVIDOSOS
Sua gestão foi marcada por três episódios de virada de mesa:
em 1993 o Grêmio, rebaixado no ano anterior, disputou a Série A; em 1997, o
Fluminense, rebaixado no ano anterior, jogou a Série A. Em 1999, o Tricolor foi
campeão da Série C, mas acabou jogando a Séria A (Copa João Havelange) em 2000.
E também por escândalos na arbitragem: em 1997, responsável pelo departamento
na CBF, Ivens Mendes foi acusado de montar um esquema de favorecimento a
algumas equipes. Em 2005, o juiz Edílson Pereira de Carvalho integrava um
esquema de arranjo de resultados para um site de apostas. Partidas do
Brasileiro tiveram de ser remarcadas.
Em 1990, com a CBF mal financeiramente, Teixeira assinou
contrato com a Pepsi para a disputa da Copa do Mundo da Itália. Na competição,
os jogadores esconderam com as mãos o símbolo da empresa na foto oficial da
equipe como represália pelo valor da premiação oferecida pelo dirigente. Quatro
anos depois, na Copa dos EUA, irritou o técnico Carlos Alberto Parreira ao
liberar bebidas alcoólicas no hotel após a vitória sobre a Suécia, na
semifinal. Também não pagou US$ 7 mil a um cozinheiro americano que acompanhava
a delegação e esqueceu-se de dar um ingresso para a final ao ex-jogador Júnior,
então espião da Seleção. E a viagem de volta para o Brasil ficou conhecida como
"Voo da Muamba". Teixeira foi acusado pelo Ministério Público Federal
de não ter declarado um sistema de refrigeração de chope para sua casa noturna
El Turf, no Rio de Janeiro.
Em 1996, assinou contrato milionário com a empresa de
material esportivo Nike. A parceria, porém, foi alvo de uma CPI na Câmara dos
Deputados a partir de 1998. O hoje ministro do Esporte Aldo Rebelo comandou a
CPI e chegou a escrever um livro com Silvio Torres relatando as investigações
sobre os negócios de Teixeira. Em janeiro de 2002, o presidente da CBF obteve
liminar na Justiça proibindo a venda do livro. Na CPI, Teixeira contou com
depoimentos de Zagallo, João Havelange e de Ronaldo.
ALVO DE CPI
Teixeira também foi alvo da CPI do Futebol, no Senado, a
partir de 1998. Em 2000, prestou depoimento e foi acusado de lavagem de
dinheiro, sonegação de impostos, evasão de divisas, apropriação indébita. A CPI
apontou gasto não declarado de US$ 400 mil na Copa Ouro de 1998, que a CBF
pegou seis empréstimos com o Banco Delta a juros altos, que a entidade fez
pagamentos de R$ 30 milhões, em três anos, para a agência de viagens SBTR. As
tarifas eram altas e as despesas não eram devidamente registradas na CBF.
Em 2001, vendeu a sede da CBF, no Centro do Rio de Janeiro,
para se isolar na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, passando a pagar um aluguel
de R$ 150 mil por um andar num edifício no condomínio Rio Office Park. Em julho
de 2003 Teixeira ganhou R$ 7 milhões entre 1995 e 1999, período em que a
receita da CBF cresceu graças a patrocínio. Mas, enquanto o dirigente mais do
que dobrou seu patrimônio, a entidade acumulou grande prejuízo.
Em 2007, trouxe para o Brasil sua segunda Copa do Mundo,
agora em 2014. Também em 2007, sob influência de Teixeira e 12 governadores, a
chamada bancada da bola agiu para impedir a instalação da CPMI do Corinthians/MSI.
Em janeiro de 2009, usou dinheiro da CBF para comprar um jatinho. Gastou US$ 10
milhões (R$ 23,1 milhões no câmbio da época).
MAIS DENÚNCIAS E INÍCIO DA QUEDA
Em novembro de 2010, Ricardo Teixeira ficaria com os lucros
da Copa do Mundo de 2014. Dois meses depois, o presidente da CBF mudou o
contrato, mas sem especificar o destino dos lucros. No início de 2011, o
deputado Anthony Garotinho tentou criar uma CPI para investigar as ações de
Teixeira na organização da Copa. O político precisa de 171 assinaturas e chega
a 146 em março. Mas, após uma visita do presidente da CBF a Brasília, 42
deputados retiraram suas assinaturas a favor da CPI.
Em maio de 2011, a rede britânica BBC, em reportagem do
jornalista Andrew Jennings, afirmou que Ricardo Teixeira e Havelange, receberam
US$ 9,5 milhões em propinas da ISL nos aos 90 para garantirem contratos de
exclusividade em transmissões e patrocínios da Copa do Mundo. No mesmo mês,
Teixeira foi acusado pelo ex-presidente da Associação inglesa de Futebol David
Triesman, de ter pedido propina para apoiar a candidatura da Inglaterra para a
sede da Copa do Mundo de 2018. A Rússia venceu a disputa.
Em agosto de 2011, aconteceram irregularidades no contrato
do amistoso da seleção brasileira contra Portugal, em Brasília, em novembro de
2008.
BandNews