22 de nov. de 2015

Com que roupa eu vou?

Roberto Solon de Vasconcelos
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Com que roupa eu vou?

- Que tempos difíceis vivemos.

Enquanto o colapso total no abastecimento de água da cidade de Pedra Lavrada parece ser uma questão de dias ou meses, uma cena que parecia ter ficado na história e na memória dos que tem mais de 30 anos voltou a ser vista: a cidade sendo abastecida por carros pipas e as pessoas a usarem latas e baldes para transportar um mínimo do precioso líquido aos seus lares.

A estiagem que ora vivenciamos é a mais chocante que tive oportunidade de vivenciar. Em meus 43 anos de vida não tinha visto algo tão devastador.

Ao se caminhar por entre a vegetação de nossa região percebe-se claramente que, apesar de serem adaptadas para o nosso tão rigoroso clima, a morte de árvores como os marmeleiros, juremas, catingueiras entre outras, é certa para maioria de nossa tenra fauna. E, mesmo as que poderia sobreviver até a próxima chuva, são retiradas pelos homens do campo na tentativa – por vezes, vã - de salvar suas vacas, ovelhas, cabras...

A situação é desesperadora!

Como se tudo isso não fosse o suficiente para inquietar e angustiar, é fácil observar que o mundo onde não há seca e tudo parece perfeito, a zuckerberlândia – também conhecido como feicibuque -, tem sido utilizado massivamente para se cultivar, destilar, embalar, transportar, vender e doar ódio, intolerância, ignorância, estupidez e a pura e simples maldade.

Momentos e situações difíceis ou desconfortáveis para humanidade também são fortes catalizadores para convergência e união – união de desiguais. É de fácil entendimento, principalmente ao homem do campo que, nas horas mais quentes do dia, todo o gado se reúne debaixo de uma árvore com sombra abundante. Então, por que não conseguimos mais convergir para um mesmo ponto de conforto e, ao estarmos próximos e “desarmados”, tentarmos construir acordos, pontes, conhecer um pouco o outro, tentar entender ou compreender suas posições e sentimentos? Uma sociedade exitosa é construída não impondo sua verdade sobre as demais. É construindo, sobre um ponto comum, um contrato de convivência onde, minimamente, uns devem tolerar os outros.

Estamos à beira da ESCASSEZ de água e muitas pessoas ficam a se preocupar e gastam uma energia gigantesca com quem outras pessoas ‘dormem’, as preferências sexuais, com quem votou ou deixou de votar nas últimas eleições... Ficam a bajular um deputado que fala abertamente e com naturalidade sobre a eficiência do estupro como punição às mulheres. Muitos tolos e tolas, que parecem ter feito um curso de pragmatismo político e histórico em imagens copiadas ou compartilhadas na zuckerberlândia usam, por vezes, essas mesmas imagens por terem dificuldade em escrever uma frase autoral.

Há também os déspotas esclarecidos. Aqueles que tiveram formação acadêmica até nível superior e que, supostamente, teriam frequentado uma faculdade ou UNIVERSIDADE para ser exposto a parte importante do conhecimento produzido pela humanidade e consequentemente aprender, mudar e construir mais conhecimento. Tendo por base os exemplos históricos para assim não repetir erros... É chocante ver que pessoas mais esclarecidas, que supostamente, tiverem uma visão universal do pensamento humano, se reduzirem ao pensamento do ou é preto ou é branco. Pessoas que supostamente são as responsáveis por darem continuidade a evolução do pensamento humano optaram –ou regrediram, ao meu ver- à logica binária dos computadores: ou 0 ou 1, ou ligado ou desligado. Reduzindo assim, o tão complexo cérebro humano a dois ‘neurônios’: tico-e-teco.

Tem pessoas que na valentia do conforto do seu teclado, entre paredes escondidas de suas casas, proliferam o mal sem se dar conta que o caminho que estamos a tomar poderá ser de mão única: sem acostamento e sem volta.

Minha cidade está estranha, meu país está estranho, o mundo está estranho.

É doloroso ver que caminhamos para uma guerra total e tem gente que dedica seu tempo a discutir a sexualidade DOS OUTROS.

É amargo perceber que o Brasil mergulhou em uma crise política onde só existe PT e anti-PT.

É cáustico entender que o PT fez sim o que não deveria e não poderia ter feito. Negar isso é uma blasfêmia à inteligência e aos fatos históricos. Assim como, negar sua importância no desenvolvimento do Nordeste.

Mas esta falta de compreensão e intolerância que hoje está impregnada na sociedade brasileira é o que nos impede de resolver coisas importantes: de onde virá água para nos abastecer? E os agricultores vão viver do que? E o minério que não pode ser mais explorado por nossos garimpeiros?

Enquanto ficarmos só na base do tico-e-teco não resolveremos nossos problemas. Temos que sair um pouco das redes sociais e voltar para o mundo real e resolvermos nossos problemas. Sei que a tendência que temos para a estupidez é apontar o dedo para alguém e dizer: a culpa é dele. Mesmo que não façamos nada.

Então, o que temos?

A história nos diz que a humanidade tem duas formas de resolver problemas sérios: a política ou a guerra. Por vezes as duas se confundem.

-Eu não vou à guerra! -Prefiro a política!

E, entre os sistemas políticos, prefiro o que os gregos conceberam: a democracia.

Antes de começar a negligenciar a zuckerberlândia andei a ver amigos(virtuais), colegas(virtuais), parentes, chegados... E para meu assombro vi JOVENS exigirem a instalação de um regime militar ditatorial no Brasil. Fico a pensar se os professores de história deram aulas sobre esses assuntos na escola. São tão estúpidos que não conseguem perceber que a primeira coisa que aconteceria se uma ditadura fosse implantada, seria a proibição da informação livre. Ou seja, ele não poderia dizer o que pensa. E, se conseguisse, seria severamente punido.

Fico a imaginar uma seca dessas que vivemos se fosse no tempo ditatorial. Ao invés de pessoas procurarem xique-xique, cardeiro, coroa-de-frade e outros cactos para os animais, essa busca seria para as pessoas escaparem da fome, para elas mesmas comerem. - O QUE DE FATO ACONTECIA EM NOSSA REGIÃO!

Mas, como falei anteriormente, a minha opção é pela política e não pela guerra total.

Agora, em quem votar? Quem seriam essas pessoas que deixariam o interesse particular de lado e estariam dispostas a fazer o bem comum e respeitar os ‘diferentes’ que procurarem a sombra, assim como faz o gado.

Tomemos, como molde, os políticos de nossa região – Seridó e Curimataú. Se observamos os dados dos gestores da década de 1990 até hoje e, que faça chuva ou faça sol, estão sempre a tentarem se manterem no poder. Percebemos facilmente que, ao invés de currículo de bons serviços prestados, as informações nos apontam para FICHAS CORRIDAS de tantos crimes e mau uso de verbas públicas.

Temos hoje uma safra de políticos medíocres, sem expressão, sem esteio moral. Dizem alguns que o problema é a crise. – Que crise? Vocês viram algum parente de prefeito, deputado, senador, governador ou presidente ser demitido por causa da crise?

Próximo ano tem eleições e, apesar de acreditar que na política está a melhor opção para resolvermos nossos conflitos, nutro uma desesperança profunda ao observar as opções que ora se apresentam.

Estou pronto para ir à festa da democracia, todavia, ainda não tenho a menor ideia com que roupa vou.

Roberto Solon de Vasconcelos
Professor

P.s. A expressão neologística “zuckerberlândia”(terra de Zuckerberg) refere-se ao criador do Facebook, Mark Zuckerberg.