Casos foram confirmados na Maternidade Escola
Januário Cicco, em Natal.
Um dos infectados pela 'pseudomonas
aeruginosa' morreu na UTI Neonatal.
Em menos de uma semana, cinco bebês internados
na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da Maternidade Escola Januário Cicco
(MEJC), em Natal - gerida pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN) -, foram infectados pela bactéria 'pseudomonas aeruginosa'. As infecções
foram diagnosticadas na última semana de agosto. Um dos bebês infectados
morreu. Os outros quatro foram isolados pela direção da Maternidade para evitar
a contaminação de outros recém-nascidos. A bactéria tem como principais
sintomas febre e perda de apetite e é resistente aos antibióticos.
De acordo com a médica infectologista Lúcia
Calich, presidenta da Comissão de Infecção Hospitalar da MEJC, a pseudomona é
comumente encontrada em ambientes hospitalares. "É uma bactéria que
circula normalmente e o que nos chamou a atenção foi o números de casos
identificados num curto intervalo de tempo". Entretanto, a infectologista
descarta a possibilidade de surto da bactéria. "Para caracterizarmos a
infecção como surto, temos que avaliar cada caso para elaborarmos planilhas de
comparação. Até agora, o que temos não se caracteriza como surto",
destacou Lúcia Calich.
Kleber Morais e Maria da Guia Garcia, diretores da Maternidade Escola Januário Cicco, em Natal (Foto: Ricardo Araújo/G1) |
O diretor geral da Maternidade, Kleber
Morais, esclareceu que o primeiro caso foi identificado no dia 21 de agosto
passado. O bebê morto foi o segundo a ser diagnosticado com a pseudomona.
"Entretanto, o bebê era prematuro e muito frágil. Ele tinha outras complicações",
afirmou o diretor. As outras infecções foram detectadas nos dias 26 de agosto,
em um recém-nascido, e dois dias depois em mais três bebês. "Desde então,
não estamos mais admitindo recém-nascidos na UTI Neonatal", confirmou o
diretor geral. A MEJC dispõe de 18 leitos de UTI Neonatal, dos quais 10 estão
ocupados atualmente.
Kleber Morais destacou ainda que a
superlotação da unidade pode ter contribuído para a proliferação da bactéria.
"Já faz tempo que falamos da superlotação da Maternidade e os gestores
estaduais e municipais não tomam nenhuma providência". O diretor afirmou
que a infecção 'generalizada' causou tensão na equipe médica e também
indignação. "A Saúde potiguar está um caos e acaba refletindo na
superlotação da nossa maternidade. É preciso que os gestores se sensibilizem
para que ofertamos um atendimento digno para as mulheres", ressaltou.
Corredor da Maternidade Escola Januário Cicco, em Natal (Foto: Ricardo Araújo/G1) |
Como medida de segurança, os profissionais
que trabalham no setor infectado redobraram os cuidados com a higienização do
local. Além disso, os recém-nascidos que precisam ser internados em leitos de
UTI estão sendo encaminhados para o Centro de Recuperação Pós-Operatório (CRO).
Porém, não há mais vagas. Na manhã desta quinta-feira (6), inclusive, um bebê
precisou ser levado para a UTI e a diretora médica Maria da Guia Garcia disse
que não teria condições de recebê-lo.
A Secretaria de Saúde de Natal (SMS),
informou, via nota, que "a superlotação se deve a outros municípios, pois
Natal possui três maternidades e realiza uma média de 500 partos por mês,
garantindo o acesso às mulheres de Natal".
Na MEJC, são realizados partos de alto risco,
conforme contrato existente com o Ministério da Educação e da Saúde. Com a
'Rede Cegonha', a SMS informou que haverá aumento de leitos de UTI neonatal e
UTI materna, além de leitos de baixo risco nas maternidades da Região
Metropolitana de Natal.
O secretário estadual de Saúde, Isaú Gerino,
foi procurado para comentar os problemas enfrentados pelas gestantes quando
recorrem às maternidade mantidas pelo Estado e não conseguem atendimento.
Entretanto, a assessoria de comunicação da Secretaria de Estado da Saúde
Pública (Sesap) afirmou que o secretário não iria se posicionar sobre o
assunto, alegando que a Maternidade Escola Januário Cicco é mantida pelo
Governo Federal através da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Espera
Para Geilda Pereira de Souza, de 30 anos,
natural de Nísia Floresta, na região litorânea potiguar, a busca por
atendimento foi difícil. "Eu passei pela Maternidade de São José de Mipibu
e não me atenderam. Em Nísia Floresta não tem maternidade. Eu cheguei aqui em
trabalho de parto, com o menino quase nascendo", relembrou. Em decorrência
da superlotação, Geilda e seu recém-nascido foram colocados num dos corredores
da Januário Cicco.
O diretor Kleber Morais fez um apelo ao
Governo do Estado. "Como médica, a governadora Rosalba Ciarlini precisa
expandir a atenção à saúde da mulher". Atualmente, a Maternidade Escola
realizava aproximadamente 450 partos mensalmente, além de exames e procedimentos
ginecológicos. No Rio Grande do Norte, somente quatro maternidades
disponibilizam UTIs Neonatal - os Hospitais Santa Catarina e da Polícia
Militar, em Natal; a Maternidade Divino Amor, em Parnamirim; e o Hospital da
Mulher, em Mossoró.
Do G1 RN