BRASÍLIA - O crack se espalhou pelo país e é um dos
principais problemas para a maioria dos municípios brasileiros, sobrecarregando
os sistemas de saúde locais. A conclusão é de pesquisa feita pela Confederação
Nacional de Municípios (CNM), que ainda está sendo fechada e será divulgada
nesta segunda-feira. O levantamento ouviu 4.400 das 5.563 prefeituras do país.
Para 63,7% delas, o crack já causa problemas extras para os serviços públicos
de saúde.
A União está omissa e
os estados, também
SAÚDE PÚBLICA: Crack
ajuda a elevar estatísticas de homicídios no país
Dos municípios ouvidos, 58,5% informaram que a circulação do
crack e de outras drogas também tem provocado problemas preocupantes na segurança,
enquanto 44,6% responderam que o serviço de assistência social é outra rede que
foi afetada seriamente. O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, frisou que faltam
hoje dados sobre o crack e que a pesquisa ajudará a mostrar a real gravidade do
problema. Segundo Ziulkoski, a pesquisa avança em relação a uma outra divulgada
em dezembro de 2010.
- A situação é muito aguda. Os dados vão poder mostrar
melhor o problema - resumiu Ziulkoski.
Ele lembrou que a CNM não tem o poder de implementar
políticas contra o uso do crack. Por isso, o objetivo da pesquisa é mostrar a
realidade, dando subsídios para o debate sobre a questão:
- Queremos provocar e fomentar políticas de enfrentamento ao
crack.
Aumento no registro
de alunos armados
Entre os principais problemas detectados na pesquisa está o
aumento da violência, inclusive com a crescente incidência de estudantes
armados nas escolas. Outros motivos de preocupação para os municípios são a
falta de estrutura para atendimento de dependentes e de recursos para
prevenção, tratamento, reinserção social e combate ao tráfico.
Ziulkoski também reclamou do que considera uma omissão da
União e dos estados. Segundo ele, os municípios acabam sobrecarregados, pois
recaem apenas sobre eles a responsabilidade de combater o crack e os problemas
decorrentes de seu consumo:
- A União está omissa e os estados, também. A gente ouve
discursos, mas faltam ações de enfrentamento (ao crack) - diz, acrescentando: -
(O crack) Está sobrecarregando os municípios na área de saúde.
Ziulkoski citou o uso de crack em regiões de produção de
cana. Segundo ele, é comum trabalhadores usarem crack para produzir mais.
Embora a pesquisa tenha conseguido obter resposta de 79% dos
municípios brasileiros, o índice foi significativamente menor no Rio de
Janeiro, repetindo o que já ocorrera na pesquisa de 2010, quando só 15 dos 92
municípios responderam ao questionário. Na pesquisa de 2011, o número subiu
para 17. Desses, 89,4% confirmaram que enfrentam problemas com a circulação de
drogas.
Para Ziulkoski, o motivo da baixa adesão de cidades do Rio à
pesquisa é a oposição entre o estado e a CNM na questão dos royalties do
petróleo:
- O baixo índice no Rio ocorre porque os municípios do
estado se retiraram. Eles se sentem injustiçados por causa da briga dos
royalties.
O Globo