Romário é ídolo de muita gente,
outros simplesmente não gostam. Mas todos têm a mesma opinião: o cara fala o que
tem
que
falar, sem fazer média. Li essa entrevista que ele deu em 20 de outubro, e achei
interessante. Principalmente da
metade em diante, que ele fala
sobre a Copa.
É
revoltante.
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Deputado federal pelo PSB, Romário
está muito mais consciente, profundo nas suas respostas. Sempre foi um
personagem riquíssimo.
Deu
uma longa e verdadeira exclusiva e não deixou pergunta sem
resposta.
- Vamos ser
diretos: Como é que você como um deputado federal largou tudo para comentar o
Pan? Você não deveria estar em Brasília?
Ótima
pergunta.
Não
estou roubando ninguém.
Posso
ter licença sem remuneração como deputado federal.
Como
todos tiram.
Estou
trabalhando em várias frentes em Brasília.
Visitei
11 estádios dos 12 que servirão para a Copa do Mundo no Brasil.
Fiz
projetos para amparar crianças e adolescentes com síndrome de Down.
Estou
empenhado nas luta contra a droga e em projetos de apoio aos dependentes
químicos.
Ajudo
nos projetos para tentar tirar o crack das comunidades carentes.
Trabalho demais.
E tenho
direito à licença não remunerada.
Foi o
que fiz.
Vim
para o México para fazer o que eu sei: comentar futebol pela TV
Record.
Vou
passar a minha experiência de mais de 25 anos.
Ficarei
ausente 15 dias e não receberei por 30.
15 dias
a mais sem receber dinheiro público.
Por que
acho justo.
Tenho
direito, mas é a minha maneira de compensar a minha ausência de
Brasília.
Todos
os deputados federais exercem esse direito.
Eu não
posso por que sou o Romário?
Não tem
essa!
Minha
vida é transparente, limpa.
E vou
dizer mais.
Com o
salário de deputado federal apenas, não consigo dar o conforto que a minha
família merece.
Por
isso não serei hipócrita de dizer não a um trabalho que posso conciliar sem
atrapalhar minha missão como deputado.
Além
disso, eu estou aqui no México.
Mas
meus funcionários estão trabalhando em Brasília.
E no
meu escritório do Rio.
O meu
rádio não para de tocar.
Não
estou aqui de férias no México.
Trabalho e trabalho pra
c...!
Sou
honesto, limpo.
Ninguém
tem o que dizer de mim.
Sai de
licença sem remuneração para trabalhar por que tenho o direito.
- Esta visão que
muita gente tem de política é verdadeira? Nossos políticos são
corruptos?
Vou ser
bem sincero com você.
Conheço
para valer uns 20, 25 deputados em Brasília.
Posso
falar que pelo menos a metade não merece confiança.
Tem
gente séria, mas há muito pilantra por lá.
Cada um
segue o seu caminho.
Descobri que é possível sim
trabalhar sem se sujar com a corrupção.
Sem
receber 10% de comissão.
Sem
armar esquemas para receber propina.
Não sou
bobo e muito menos ingênuo.
Sei o
que acontece.
Só se
corrompe quem quer.
A minha
opção é trabalhar de forma honesta.
Me
encontrei na política.
Peguei
gosto.
Sinto
que há muito para fazer pelo País.
Basta
se empenhar, querer trabalhar.
Política não é só roubar, como
querem alguns.
Acompanho muito de perto as minhas
áreas.
E busco
aliviar o problema de milhões de pessoas com Síndrome de Down no
Brasil.
Tenho a
minha filha que é uma princesa, a Ivy.
Ela tem
Down, mas tem uma vida cercada de carinho e cuidados.
É
preciso ter dinheiro para que ela viva bem.
Por que
o governo não oferece recursos.
Essa é
uma luta que peguei para mim até o resto da vida.
Tornar
a vida dessas pessoas e das pessoas que as cercam viável.
Hoje
não é.
- Você não está
se destacando também por falta de lideranças políticas no Brasil?
Eu
concordo...
Não
temos líderes na política brasileira.
Depois
que o presidente Lula terminou o seu segundo mandato, ficamos sem.
A
presidente Dilma está ainda tentando, aprendendo a exercer a
liderança.
Eu
sempre tive essa minha personalidade forte, firme.
Estou
usando a minha experiência de vida na política brasileira e está dando
certo.
- Você acha que
acabou para o ministro dos Esportes, Orlando Silva?
Acredito que empresas sérias como
revistas de circulação nacional, grandes jornais, as grandes tevês do País, como
a Record, Globo, SBT não iriam acusar um ministro sem provas.
O
Orlando está se defendendo.
As
acusações são graves.
Não tem
como negar que sua imagem foi abalada.
Se ele
não provar com toda a convicção que não tem nada a ver com os escândalos,
precisa sair.
Falo
isso sem nenhum interesse, até por que hoje não tenho condições de ser
ministro.
Não
estou preparado para isso.
Talvez
me prepare no futuro.
Mas
hoje, não.
Falo
como cidadão que vê um ministro sendo acusado de forma tão pesada,
direta.
Se ele
não me convencer que não tem nada a ver com isso, não deve ficar.
Chega
de gente sem condições morais ocuparem cargos importantes neste
país!
- Qual o seu
futuro, você quer ser ministro dos Esportes ou se tornar presidente da
CBF?
Olha...
Soube
que você teve informações que eu gostaria de ser presidente da CBF.
Seguindo o caminho do Platini na
Uefa.
Vamos
separar as coisas.
Não
tenho nada a ver com o Platini, sei que ele faz o seu trabalho na Uefa, só que
ele não é meu ídolo.
Nem
nunca foi.
Comandar o futebol brasileiro é
algo que seria muito interessante.
Há
muita coisa errada.
Mas
agora eu também não estou preparado para isso, não.
Sinto
que estou em uma fase da minha vida que estou aprendendo muito.
Quem
sabe, no futuro possa até brigar para presidir a CBF...
Agora,
não.
Eu
quero me tornar cada vez melhor político.
Fazer o
que puder para ajudar o Brasil a ter mais dignidade.
Minha
área sempre foi o futebol.
Minha
vida toda estive ligado ao esporte.
Estou
em uma fase de profundo trabalho e aprendizado.
Quero
me sentir pronto tanto para um dia pensar na CBF.
Ou quem
sabe pensar no Ministério do Esporte.
Por que
não?
Por que
fui jogador de futebol?
- Você foi
recebido com preconceito em Brasília?
Olha,
vou ser claro para quem ler entender como as coisas são.
Há o
burro, aquele que não entende o que acontece ao redor.
E há o
ignorante, que não teve tempo de aprender.
Não
houve preconceito comigo porque não sou nem uma coisa nem outra.
Mesmo
tendo a rotina de um grande jogador que fui, nunca deixei de me informar,
estudar.
Vim de
uma família muito humilde.
Nasci
na favela.
Meu
pai, que está no céu, e minha mãe ralaram para me dar além de comida,
educação.
Consciência das
coisas...
Não só
joguei futebol.
Frequentei dois anos de faculdade
de Educação Física.
E dois
de moda.
Sim,
moda.
Sempre
gostei de roupa, de me vestir bem.
Queria
entender como as roupas eram feitas.
Mas
isso é o de menos.
O que
importa é que esta sede de conhecimento me deu preparo para ser uma pessoa
consciente...
Preparada para a vida.
E
insisto em uma tese em Brasília, com os outros deputados.
O
Brasil só vai deixar de ser um país tão atrasado quando a educação for
valorizada.
O
professor é uma das classes que menos ganha e é a mais importante.
O
Brasil cria gerações de pessoas ignorantes porque não valoriza a
Educação.
E seus
professores.
Não há
interesse de que a população brasileira deixe de ser ignorante.
Há quem
se beneficie disso.
As
pessoas que comandam o País precisam passar a enxergar isso.
A Saúde
é importante?
Lógico
que é.
Mas a
Educação de um povo é muito mais.
- Essa
ignorância ajuda a corrupção? Por exemplo, que legado deixou o Pan do
Rio?
Você
não tenha dúvidas que a ignorância é parceira da corrupção.
Os
gastos previstos para o Pan do Rio eram de, no máximo, R$ 400
milhões.
Foram
gastos R$ 3,5 bilhões.
Vou dar
um testemunho que nunca dei.
Comprei
alguns apartamentos na Vila Panamericana do Rio como investimento.
A
melhor coisa que fiz foi vender esses apartamentos rapidamente.
Sabe
por quê?
A Vila
do Pan foi construída em cima de um pântano.
Está
afundando.
O
Velódromo caríssimo está abandonado.
Assim
como o Complexo Aquático Maria Lenk...
É um
escândalo! Uma vergonha!
Todos
fingem não enxergar.
Alguém
ganhou muito dinheiro com o Panamericano do Rio.
A
ignorância da população é que deixa essa gente safada sossegada.
Sabe
que ninguém vai cobrar nada das autoridades.
A
população não sabe da força que tem.
Por
isso que defendo os professores.
Não
temos base cultural nem para entender o que acontece ao nosso lado.
E muito
menos para perceber a força que temos.
Para
que gente poderosa vai querer a população consciente?
O Pan
do Rio custou quatro vezes mais do que este do México.
Não
deixou legado algum e ninguém abre a boca para reclamar.
- Se o Pan foi
assim, a Copa do Mundo no Brasil será uma festa para os corruptos...
Vou te
dar um dado assustador.
A
presidente Dilma havia afirmado quando assumiu que a Copa custaria R$ 42
bilhões.
Já está
em R$ 72 bilhões.
E
ninguém sabe onde os gastos vão parar.
Ningúem.
Com
exceção de São Paulo, Rio, Minas, Rio Grande do Sul e olhe
lá...Pernambuco...
Todas
as outras sete arenas não terão o uso constante.
E não
havia nem a necessidade de serem construídas.
Eu vi
onze das doze...
Estive
em onze sedes da Copa e posso afirmar sem medo.
Tem
muita coisa errada.
E de
propósito para beneficiar poucas pessoas.
Por que
o Brasil teve de fazer 12 sedes e não oito como sempre acontecia nos outros
países?
Basta
pensar.
Quem se
beneficia com tantas arenas construídas que servirão apenas para três jogos da
Copa?
É
revoltante.
Não há
a mínima coerência na organização da Copa no Brasil.
- São Paulo
acaba de ser confirmado como a sede da abertura da Copa. Você
concorda?
Como
posso concordar?
Colocaram lá três tijolinhos em
Itaquera e pronto...
E a
sede da abertura é lá.
Quem
pode garantir que o estádio ficará pronto a tempo?
Não é
por ser São Paulo, mas eu não concordaria com essa situação em lugar nenhum do
País.
Quando
as pessoas poderosas querem é assim que funcionam as coisas no
Brasil.
No
Maracanã também vão gastar uma fortuna, mais de um bilhão.
E
ninguém tem certeza dos gastos.
Nem
terá.
Prometem, falam, garantem mas não
há transparência.
Minha
luta é para que as obras não fiquem atrasadas de propósito.
E
depois aceleradas com gastos que ninguém controla.
- O que você
acha de um estádio de mais de R$ 1 bilhão construído com recursos públicos. E
entregue para um clube particular.
Você
está falando do estádio do Corinthians, não é?
Não vou
concordar nunca.
Os
incentivos públicos para um estádio particular são imorais.
Seja de
que clube for.
De que
cidade for.
Não há
meio de uma população consciente aceitar.
Não
deveria haver conversa de politico que convencesse a todos a
aceitar.
Por
isso repito que falta compreensão à população do que está acontecendo no Brasil
para a Copa.
- A Fifa vai
fazer o que quer com o Brasil?
Infelizmente, tudo indica que
sim.
Vai
lucrar de R$ 3 a R$ 4 bilhões e não vai colocar um tostão no Brasil.
É
revoltante.
Deveria
dar apenas 10% para ajudar na Educação.
Iria
fazer um bem absurdo ao Brasil.
Mas
cadê coragem de cobrar alguma coisa da Fifa.
Ela vai
colocar o preço mais baixo dos ingressos da Copa a R$ 240,00.
Só
porque estamos brigando pela manutenção da meia entrada.
É uma
palhaçada!
As
classes C, D e E não vão ver a Copa no estádio.
O
Mundial é para a elite.
Não é
para o brasileiro comum assistir.
- Ricardo
Teixeira tem condições de comandar o processo do Mundial de 2014?
Não tem
de saúde.
Eu
falei há mais de quatro meses que ele não suportaria a pressão.
Ser
presidente da CBF e do Comitê Organizador Local é demais para qualquer
um.
Ainda
mais com a idade que ele tem.
Não deu
outra.
Caiu no
hospital.
E ainda
diz que vai levar esse processo até o final.
Eu acho
um absurdo.
- Muito além da
saúde de Ricardo Teixeira. Você acha que pelas várias denúncias, investigações
da Polícia Federal... Ele tem condições morais de comandar a organização Copa no
Brasil?
Não.
O
Ricardo Teixeira não tem condições morais de organizar a Copa.
Não até
provar que é inocente.
Que não
tem cabimento nenhuma das denúncias.
Até lá,
não tem condições morais de estar no comando de todo o processo.
Muito
menos do futebol brasileiro...
* Entrevista
concedida ao repórter Cosme Rímoli, da TV Record.
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