A fazenda Águas da Tamanduá cultiva romã, arroz inundado e cria cordeiros. As atividades são integradas e sem o uso de agrotóxicos convencionais nem medicamentos convencionais. Isso para atender o mercado dos produtos orgânicos, que cresce quase 40% ao ano no Brasil.
A fazenda tem 350 hectares e pertence a Pierre Landoult, um suíço que vive no sertão da Paraíba há mais de 30 anos. Landoult é um dos pioneiros da agricultura orgânica no Nordeste e trabalha no sistema desde quando chegou ao país.
A romã é uma fruta que chama a atenção por conta de suas sementes revestidas de uma polpa doce e bem vermelhinha. A planta, originária da Ásia, se adapta melhor em climas quentes e não precisa de muita água.
O pomar da fazenda tem 70 hectares e ainda está em formação. As plantas mais velhas têm apenas um ano e meio. As mudas são produzidas na propriedade pelo sistema de estaquia, ou seja, basta retirar um raminho de uma boa matriz, deixar apenas um par de folhas, cortá-las ao meio e plantar as estaquinhas em uma bandeja.
No sistema orgânico é proibido o uso do hormônio para ajudar no enraizamento das estacas. Por isso, na fazenda é preparada uma calda com a batata da tiririca, uma gramínea considerada praga porque se alastra com muita facilidade e é de difícil controle, justamente por conta das batatinhas que tem na raiz que se transformam em novas plantas quando são cortadas.
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Para fazer a calda, as batatinhas são arrancadas e depois batidas no liquidificador com água. Para cada quilo de tiririca é usado um litro de água. Depois, é só banhar as estacas com a calda, como explica José Ivanaldo da Silva, responsável pelo viveiro. “Depois de cinco dias dá outro banho nas estaquinhas para enraizar. Depois de no máximo 11 dias começa a enraizar e sair os galinhos”, diz.
A fazenda tem feito o acompanhamento para saber se a calda da tiririca funciona. As estaquinhas que não receberam o produto quase não vingaram.
A romã também não precisa de muito adubo. As mudas só recebem uma dose de composto orgânico na hora do plantio. De tempos em tempos, as romanzeiras são coroadas. Nesse momento se faz uma limpeza ao redor do tronco, na projeção da copa da planta.
“O objetivo do coroamento é retirar as leguminosas do tronco da planta que sobem e acabam sufocando a planta. Como ela é de clima quente, a gente acaba fornecendo mais luz e aquecendo o tronco da planta”, esclarece o técnico agrícola Pedro da Silva Filho.
Como o cultivo comercial de romã é novidade, o pessoal ainda está aprendendo a lidar com a fruta. “Os principais problemas na lavoura são o pulgão, uma das pragas que ataca a planta na parte jovem, e o ataque de grilos que derrubam as flores”, diz o técnico agrícola.
O detergente neutro, o óleo de pinhão manso branco e o macerado de pimenta são produtos os funcionários da fazenda têm permissão para usar no controle de pragas e doenças. Para funcionar bem, a pimenta tem que ser ardida, do tipo malagueta. Os produtos são misturados com água dentro do pulverizador e depois aplicados no pomar. A pimenta serve como repelente para os grilos e o detergente e o óleo de pinhão manso matam os pulgões por asfixia.
Ainda vai levar cerca de um ano para a fazenda conseguir uma boa safra de romã. O agricultor Pierre Landoult gosta de trabalhar com nichos de mercado, onde produtos diferenciados têm boa aceitação. Outra aposta da fazenda é a produção de arroz orgânico das variedades vermelho e negro. Essas variedades são originárias da Índia. O vermelho foi o primeiro arroz introduzido no Brasil no século 16 e acabou caindo no gosto do povo do sertão.
O agrônomo José Almeida Pereira, pesquisador da Embrapa Meio Norte, vem trabalhando em parceria com a fazenda para o desenvolvimento de variedades melhoradas de arroz vermelho.
A fazenda cultiva 20 hectares de arroz negro e 50 de vermelho. O plantio é feito dentro da água. Para adubar a lavoura só se usa composto orgânico no plantio e 20 dias depois. Para controlar o mato, o jeito é colocar a mão na água.
Nas áreas originalmente secas, o controle do mato é feito com a retirada da lâmina d’água por alguns dias, até que as plantas indesejadas desapareçam.
Com esse manejo, a fazenda vem conseguindo boas produtividades. Toda a água usada no sistema é reaproveitada de um jeito bem ecológico e sustentável. O líquido vai para uma lagoa e depois volta para o cultivo impulsionada por cataventos.
Com esse manejo, a fazenda vem conseguindo boas produtividades. Toda a água usada no sistema é reaproveitada de um jeito bem ecológico e sustentável. O líquido vai para uma lagoa e depois volta para o cultivo impulsionada por cataventos.
O arroz é beneficiado na fazenda, de onde sai limpo e embalado, pronto para venda. Quem cuida disso é o agrônomo Flávio Medeiros. “Estamos comercializando para a Paraíba e Pernambuco. E colocando para São Paulo. Mas estamos buscando ampliar os estados e colocar em todo o território nacional”, diz.
Globo Rural
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