A voz rouca que é sua marca registrada desde os tempos das portas de fábrica de São Bernardo do Campo e das primeiras assembleias de metalúrgicos no Estádio de Vila Euclides, está momentaneamente silenciada.
( Foto: R7)
Depois de fazer uma biopsia na laringe, no sábado de manhã, que confirmou a existência de um tumor maligno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só está se comunicando com a família por escrito, até para pedir um copo d’água.
Posso imaginar a dificuldade do amigo Lula para se adaptar à nova realidade, ele que construiu no gogó toda sua carreira de líder sindical e político, até se eleger por duas vezes presidente da República.
Só neste domingo de manhã consegui falar com a família de Lula _ e as notícias que me deram são tranquilizadoras. Ele deixou o Hospital Sírio-Libanês às nove da noite de sábado e na manhã de segunda-feira já começa o tratamento de quimioterapia.
Os médicos acreditam que não será necessário fazer cirurgia para que Lula possa se curar do câncer na laringe e voltar a ter uma vida normal. Mas agora vai ter que dar um tempo nas conversas políticas, nos discursos e nas viagens, tudo o que ele mais gosta de fazer na vida.
O câncer foi descoberto por acaso. Roberto Kalil, médico dele, meu e de mais um mundão de gente, passou rapidamente na casa de Lula na quinta-feira para lhe dar um abraço no dia do seu aniversário de 66 anos.
Marisa, a mulher de Lula, queixou-se de uma renitente dor de cabeça e Kalil lhe cobrou mais uma vez a necessidade de fazer um check-up. Lula ouviu a conversa e prometeu levar Marisa ao hospital no dia seguinte.
Enquanto ela fazia seus exames, Lula pediu a Kalil "uma pastilha melhor" para a garganta, porque a que estava tomando não aliviou sua rouquidão. Kalil e um outro médico examinaram a garganta do ex-presidente e lhe receitaram um antibiótico e outro remédio para alivar a dor de garganta, com a condição de que ele voltasse no sábado para também fazer um check-up.
Lula não queria, achou que não era nada grave, mas acabou mais uma vez cedendo à mulher. Desta vez, foi ela quem levou o marido ao hospital no sábado cedo _ e o resto da história todo o Brasil já sabe.
Quando ele chegou ao hospital, Kalil já tinha reunido uma equipe de especialistas para examinar o ex-presidente. A pedido do próprio Lula, os médicos divulgaram um boletim oficial do Sírio-Libanês informando que o ex-presidente tinha um câncer na laringe, assim que saíram os resultados dos exames.
Bilhete para Lula
Aqui em Maceió, onde estou participando da V Feira Internacional do Livro de Alagoas, quem mais se abalou com a notícia sobre a doença de Lula foi a estudante Mariana, de 17 anos, filha de Vanira e Audálio Dantas, que é o patrono do evento.
Mariana chorou muito sozinha na porta do hotel e passou o dia amuada. À noite, enquanto os jornalistas e escritores falavam alto numa mesa com cerveja e sururu no bar Massaguerinha, Mariana pediu um papel e uma caneta e escreveu uma carta para Lula. Transcrevo-a abaixo:
"Oi, Lula, tudo bem com você? Quando eu soube a notícia que você estava com câncer fiquei preocupada. Até chorei com medo que você morresse. Eu queria te visitar, mas infelizmente não posso.O teu amigo Ricardo Kotscho vai te entregar este bilhete. Tomara que você melhore logo. Eu conheço o seu irmão, o Frei Chico. Eu gosto muito de você.
Mariana Adélia Kunc Dantas
29/10/2011"