Cássio garante que chega para engrossar coro da oposição
Cássio elegeu o senador mineiro Aécio Neves do seu partido, e o governador de Pernambuco Eduardo Campos do PSB, partido que mantém aliança no governo da Paraíba, como os dois principais nomes para a disputa presidência em 2014. "Acho que, no momento, o senador Aécio desponta de forma muito visível como a grande alternativa do PSDB para os próximos pleitos", disse ele ao ser questionado sobre o melhor do partido para a próxima disputa presidencial.
Confira a entrevista na íntegra:
O GLOBO: O senhor chega como um reforço para a oposição, que tem tido dificuldades de atuar contra a ampla maioria da presidente Dilma, e adota o discurso da ética...
CASSIO CUNHA LIMA: A dificuldade de se fazer oposição com um desequilíbrio numérico muito forte exige da nossa parte muita qualidade naquilo que se faz e que se diz. Temos quadros qualificados que podem contribuir para um debate de uma agenda que o Brasil tanto necessita no campo da ética. O presidente Fernando Henrique (Cardoso) promoveu um avanço para o país, não tenho dificuldade nenhuma em admitir que Lula promoveu também, mas esse modelo de sustentação política que o governo do PT encontrou se exauriu. Seis ministros já caíram e ministérios se transformaram em verdadeiros feudos, capitanias hereditárias, que são usados, pelo que estamos vendo, como financiadores das máquinas partidárias.
O senhor considera que a "faxina" promovida pela presidente está dando resultados?
CASSIO: A presidente não tinha condições políticas de manter qualquer um deles (dos ministros acusados) para não comprometer de forma definitiva a sua imagem e a própria governabilidade. O que assusta é o volume de escândalos num curto período de tempo, o que demonstra claramente que há algo de errado no 'layout' da política brasileira, que precisa ser corrigido.
Com esse discurso, o senhor não teme ser provocado por colegas por ter tido problemas com a Lei da Ficha Limpa na eleição passada?
CASSIO: Se a lei tivesse vigorado para 2010, eu teria muitas chances de vencer no Supremo também. Até porque no TSE eu tive o voto de dois dos três ministros que compõem o STF, e no final obtive o registro. Por uma razão simples, eu já havia sido punido com a inegibilidade de três anos, e no estado democrático de direito ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato. Tenho a consciência tranquila. Eu sofri uma punição no campo eleitoral, não foi por compra de votos, mas interpretação subjetiva de um programa social que nós tínhamos no governo do estado, muito semelhante ao Bolsa Família, que teria interferido no resultado da eleição (ele foi acusado de distribuir cheque-cidadão às vésperas da eleição).
Mas prevalece junto à parcela significativa da população o sentimento de que a impunidade reina no país, na política. Seu pai mesmo (Ronaldo Cunha Lima) renunciou ao mandato de deputado federal para se livrar de uma condenação no Supremo.
CASSIO: As pessoas não podem perder de vista que todos nós temos direitos individuais. E a Constituição garante o direito de defesa. Meu pai nada mais fez do que exercer seu direito de defesa. Pouca gente registra, por exemplo, que foi ele o autor de um projeto de lei, logo que chegou ao Senado, que propunha o fim do foro privilegiado. Ele queria ser julgado pelo júri popular e se a proposta dele tivesse sido aprovada naquela altura, talvez já tivesse sido julgado.
Qual sua opinião sobre a Lei da Ficha Limpa?
CASSIO: A Lei da Ficha Limpa é um avanço, agora é preciso que ela esteja em consonância com outros princípios constitucionais e com conquistas da humanidade. Não podemos imaginar o que vai acontecer daqui a 50 anos, mas é preciso proteger as minorias das maiorias. A democracia tem essa característica também. Ter uma lei que pode atingir fatos do passado é extremamente grave e preocupante. A presunção de inocência é uma conquista da humanidade.
O senhor concorda com o resultado da pesquisa encomendada recentemente pelo PSDB, que concluiu que os tucanos não souberam defender seu legado e, por isso, acabaram perdendo parte de suas bandeiras para o PT?
CASSIO: Não acredito que essa tenha sido a razão para o insucesso nas últimas eleições. Acho que o PSDB precisa primeiro resolver o conflito de São Paulo, onde o partido tem uma disputa muito viva com o PT. Claro que estamos falando de um estado importante, mas temos o restante do Brasil, onde nem sempre o PT ou mesmo outros partidos da base aliada se contrapõem ao PSDB e a outras legendas da oposição. Só a partir do momento que conseguirmos compreender que não há como reproduzir São Paulo no resto do Brasil é que vamos conseguir ampliar nossas alianças, alargar o nosso campo de oposição para que possamos preservar o legado do presidente Fernando Henrique e apresentar os caminhos que o PSDB defende para o Brasil. Para onde vamos? Tenho certeza, por exemplo, que esse movimento da ética, da transparência é um desejo muito claro da sociedade.
Como resolver esse problema interno que acabou atrapalhando o PSDB nas últimas três campanhas presidenciais?
CASSIO: Todas essas questões, conflitos e contradições se resolvem pela via da conversa e do diálogo. Essa é a grande arma da política. E despersonalizar o debate é muito importante. Não vejo que haja uma fila, mas é preciso descentralizar as alternativas para que não fiquemos batendo na mesma tecla. Para ter chances novamente de governar o Brasil, será preciso enfrentarmos esses problemas internos, que passa notadamente pelas questões paulistas. É preciso que projetos pessoais não sejam colocados acima do interesse do Brasil e do próprio PSDB.
Qual seria hoje o nome mais forte do partido para a eleição de 2014?
CASSIO: Acho que, no momento, o senador Aécio desponta de forma muito visível como a grande alternativa do PSDB para os próximos pleitos. É claro que o nome de José Serra é sempre muito forte, mas neste instante o senador Aécio se apresenta como alguém que teria talvez uma maior capacidade de aglutinar novas forças.
Quando o senhor acha que essa candidatura deve ser definida?
CASSIO: Acho que esse timing deve ser definido a partir do momento em que quem tiver disposição de concorrer à Presidência tenha coragem de queimar navios. Queimar navios era a primeira providência tomada por generais quando desembarcavam as tropas. Ou seja, era vencer ou vencer, não tinha recuo, não tinha volta. É preciso que isso fique claro em relação àqueles que estão se colocando como postulantes. A partir daí temos de abrir movimentos para dialogar com partidos que estão na base do governo, dentro de uma nova coalizão e composição de forças. Há partidos importantes na base governista que podem dialogar conosco como PSB, PTB, PP, PR. Sem falar nas facções do PMDB que já estabecem diálogo conosco. Vejo o PSDB com uma responsabilidade enorme de reaglutinar essas forças. E indiscutivelmente Aécio tem um perfil muito talhado para esse desafio.
O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, vem ensaiando movimentos para se colocar no jogo político de 2014, seja como vice na chapa petista ou até mesmo como candidato próprio à sucessão presidencial. Isso preocupa a oposição?
CASSIO: O governador Eduardo Campos é um dos melhores quadros da política brasileira. Além de ter com ele uma relação muito fraterna, eu o admiro no campo político. Ninguém é candidato a vice-presidente. Ele se coloca como um nome a ser lembrado como candidato à Presidência da República. E tem méritos para isso. Acho que a participação dele só vem a contribuir e somar.
O senhor chega ao Senado com uma pauta pesada pela frente. Dá para adiantar como o senhor vai votar, por exemplo, em relação à DRU?
CASSIO: A DRU foi criada em 1994, ou seja, por nós. Vamos votar contra a que título? Temos de ter coerência. O governador José Serra, por exemplo, apresentou a proposta de um salário mínimo de R$ 600 na eleição passada. Fosse ele o presidente, a proposta teria valido. Mas para uma bancada como a nossa, com ex-governadores que conhecem de perto a realidade dos estados e municípios, votar por votar para marcar uma posição não é o nosso estilo, não acho que seja a melhor postura. Você pode fazer uma oposição de resultados, apoiando uma iniciativa do governo como a DRU, que é colocada como essencial, fazendo negociações de alto nível em torno de temas, projetos e propostas, diferentemente do que se fez em alguns instantes.
O Globo