Quem atravessa a Paraíba de um canto a outro, se surpreende com os diversos contrastes climáticos e paisagísticos. A paisagem muda de acordo com a região, um fenômeno climático típico da Paraíba. Seca, sol causticante, açudes secos e cemitérios de animais na beira da estrada, compõem o cenário do Sertão, Cariri e Curimataú paraibano.
Em cidades como Sumé e Monteiro, no Cariri do Estado, a paisagem sem vida revela que há muito tempo não chove na região. O imenso deserto desaparece do alcance da vista. Apenas os pés de mandacaru e outras plantas da região, resistem a longa estiagem. Esta semana o PBAgora percorreu parte dessa região, e viu o cenário desolador.
Em compensação, em outra região da Paraíba, a realidade é outra. A paisagem verde revela que a chuva caiu recentemente. Entre Guarabira e Areia no Brejo, as estradas estreitas e de curvas fechadas, extremamente perigosas, são tomadas por uma vegetação verde. As árvores e plantas de diversas espécies tornam as serras do Brejo paraibano em um cenário de cartão postal. A meteorologista da Agência Executiva da Gestão das Águas (AESA), Marlen Bandeira, explicou que esse fenômeno é bem característico da Paraíba. No território paraibano, as quatro estações do ano – inverno, verão, outono e primavera – não seguem o ciclo traçado pelos livros de geografia.
De acordo com Marlen Bandeira, nas regiões que hoje estão secas, o período de inverno dura entre janeiro e abril, e já terminou. Além do mais, nessas regiões – Sertão, Cariri e Curimataú – este ano choveu abaixo da média, agravando a vida sofrida do homem do campo. Nas outras regiões, onde o verde predomina como é o caso do Brejo, Litoral e até Agreste, o período invernoso dura entre os meses de abril até julho, sendo que este ano, as chuvas se prolongaram até este mês de setembro.
Ela observou que o prolongamento da seca no Sertão, e, consequentemente, a transformação da vegetação, é uma característica do semiárido. “São fenômenos característicos da Paraíba, mas absolutamente normais” explicou Marlem Bandeira em entrevista ao PBAgora.
Desertificação - Entre a seca e o inverno, a desertificação no território paraibano tem avançado de forma preocupante a cada dia. Os especialistas alertam que se nada for feito e se o estado atual de degradação ambiental continuar, é provável que em 100 anos, o Semiárido paraibano esteja totalmente árido. Isso significa que a vegetação da Paraíba corre sérios riscos de desaparecer de vez, o que seria catastrófico para a população.
O Estado, um dos mais atingidos pela desertificação pode virar deserto no futuro. Atravessando uma das mais rigorosas secas dos últimos 50 anos, a Paraíba sente os efeitos drásticos da longa estiagem e tem uma noção do que pode está reservado para o futuro. A Paraíba, conforme alertou o ambientalista Roberto Almeida, com base em dados da organização internacional Greenpeace, e da Associação de Proteção da Natureza (APAN), está em adiantado estado de desertificação, ocupando o 1º lugar no Brasil.
De acordo com os dados repassados pelo ambientalista com base no relatório sobre mudanças climáticas elaborado pelo Greenpeace, mais de 72% do território do estado da Paraíba está suscetível ao processo de desertificação. Isso significa que 1,66 milhão de pessoas - a metade da população paraibana - está sofrendo com os drásticos efeitos do processo devastador. "Esse processo tem avançado. A Paraíba é o Estado do país mais atingido pelo processo de desertificação do tipo muito grave", alerta o ambientalista Roberto Almeida.
Na Paraíba 208 dos 223 municípios - 93,27% estão suscetíveis a desertificação - e o processo avança a cada dia. Um levantamento feito pela Sudema da qual, Roberto é superintendente em Campina Grande, revela que pelo menos 68% das matas paraibanas sofreram alguma interferência do homem e estão com sua fauna e flora comprometida afetando diretamente mais de 1milhão de paraibanos. As regiões com maior grau de ocorrência de desertificação apontadas no documento são o Seridó oriental e ocidental - composto por municípios como Barra de Santa Rosa, Salgadinho, Frei Martinho, Cuité e Picuí - e o Cariri ocidental. Seca pode deixar municípios sem água
A seca que castiga o Nordeste, particularmente, as regiões do semiárido da Paraíba, já estão trazendo consequências na vida de muitos paraibanos. Gado morrendo de sede, açudes secos e colapso no sistema de abastecimento.
As chuvas que caíram no final de abril em todas as regiões da Paraíba não foram suficientes para abastecer os mananciais nas áreas mais críticas. Conforme relatório de monitoramento dos mananciais do estado feito pela Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (Aesa) alguns açudes localizados no Cariri, Curimataú e Sertão estão quase secos. Em cinco açudes há menos de 1% da água que pode comportar. O Açude Epitácio Pessoa em Boqueirão por exemplo, está com menos de 45% de sua capacidade. O açude, responsável pelo abastecimento de Campina Grande e mais 20 cidades do Compartimento da Borborema, está perdendo até 2 centímetros de água por dia devido a evaporação, e o consumo.
Por conta da escassez de água, pelo menos sete municípios da Paraíba já estão em colapso nos seus abastecimentos de água para consumo humano e outros 19 convivem com racionamento e 12 cidades já estão em colapso. Uma população estimada em quase 357 mil habitantes, nessas 25 cidades, enfrenta uma situação crítica no fornecimento de água tratada. Cidades como Nova Palmeira, Barra de São Miguel, Areia, Umbuzeiro, Remígio, Esperança, Aroeiras, Gado Bravo, Belém, Caiçara, Logradouro, Alagoa Grande, Serraria, Arara, Casserengue, Solânea, Bananeiras, Cacimba de Dentro e Araruna, estão atravessando um racionamento.
De acordo com o levantamento da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), mais 15 municípios estão seriamente ameaçados devido ao baixo nível dos reservatórios. De acordo com dados da Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa), 19 reservatórios estão com situação extremamente crítica, com menos de 7% da capacidade total.
Dos municípios com açudes que apresentam entre 0 e 3% estão o de Emas, que suporta pouco mais de dois milhões de metros cúbicos, mas tem apenas 17,6 mil (0,9% do seu total); o açude Serrote, que abastece Monteiro, tem 16 mil metros cúbicos de água (0,3% do total de 5,7 milhões de metros cúbicos que ele comporta); e o de Ouro Velho tem 2,5 mil metros cúbicos de água (0,2%, de 1,7 milhão de sua capacidade). Esses municípios ficam localizados na região do Cariri paraibano.
No Sertão, o manancial de São Mamede tem 157 mil metros cúbicos, o que representa 1% dos 15,7 milhões de sua capacidade de acúmulo; Chupadouro I, em São José do Rio do Peixe, tem 36,9 mil metros cúbicos, 1,3% da capacidade total de 2,8 milhões. O gerente regional de bacias hidrográficas da Aesa, Isnaldo Costa, explicou que a situação nas regiões do Cariri, Curimataú e Sertão é preocupante devido à chegada do final do período chuvoso nestas regiões.
“Os principais açudes do estado ainda não tiveram uma recarga suficiente. As chuvas que caíram nos últimos dias não foram suficientes, ainda é preciso racionalidade no uso da água. As chuvas que caíram na Paraíba foram chuvas finas ou moderadas, que não são suficientes para reabastecer os mananciais. Os açudes do Brejo ainda podem voltar à capacidade normal, devido à localização da quadra chuvosa, mas os açudes do Cariri, Curimataú e Sertão devem continuar em situação de alerta”, comentou Isnaldo Costa. Ele defende o uso racional da água.
Severino Lopes
PBAgora