Por Chico Pinto
A pergunta é: quantos Demóstenes enrustidos existem por ai? Diante de tantas surpresas de tantos absurdos, chego a acreditar na existência de dezenas, centenas e quiçá milhares. A cada dia que se passa a população brasileira se depara com um novo escândalo. Escândalos asquerosos e imorais.
Esses “Demóstenes”, quando desmascarados, além da repulsa natural, permitem que o descrédito se amontoe cada vez mais nas entranhas sociais por antever que a impunidade prevalecerá.
Sem poder – ou querer – reagir à sociedade apenas acompanha e se vê compelida a conviver com o inaceitável. A conviver com a desordem social, com a roubalheira escancarada do dinheiro público e, lamentavelmente, com a dissimulação de falsos moralistas.
Diante de tamanha facilidade em “afanar” o dinheiro do contribuinte, fica patenteado que o tradicional clientelismo e o velho patrimonialismo vão sendo gradativamente substituído pelo azeitado negocismo. Negocismo voraz e descarado em torno das obras e contratos financiados pelas esferas governamentais, sem controle e, na grande maioria das vezes, sem decência.
Senador Demóstenes Torres |
As negociatas sempre vêm precedidas de propinas, comissões, barganhas e permutas ilegais. O jogo de cartas marcadas há muito tempo virou regra. Ele é jogado por notórios corruptos que se banqueteiam em festas elegantes após o término de cada “partida”. Comemoram as transações, ou melhor, as falcatruas, em alto nível diante de sofisticados canapés e champagne francesa. Tudo isso à custa da miséria acentuado do povo brasileiro.
Está provado que, na maioria das vezes, esses ladrões não são importunados. Geralmente, são blindados em troca da partilha do butim. Convencionou-se de que nas negociatas todos ganham menos a sociedade que assiste passivamente a debandada do dinheiro público. Inerte, observa esvair-se pelo ralo a maior parte dos recursos destinados à saúde, à educação e à infra-estrutura.
O apetite voraz dos Demóstenes brasileiros, na busca do dinheiro do contribuinte, sem dúvida alguma, é a causa preponderante da acentuada miséria que campeia por este País afora. A ambição, o ganho desonesto e o desejo de enriquecer sem fazer força se sobrepõem ao sofrimento da população.
O pior de tudo isso é que, quando são desmascarados, flagrados com a mão na botija, a pena é apenas alguns dias de manchetes nos jornais, rádio e TV. Passado o interesse jornalístico, é normal o fato ser esquecido, colocado na geladeira, e nada do dinheiro roubado retornar aos cofres públicos. Evapora-se, desaparece como se tivesse tomado doril.
Tanto isso é verdade que não existe mais segredo, pois quando a boca se cala, falam as pontas dos dedos ávidos para abocanharem outras verbas governamentais.
E, sendo assim, a roubalheira permanece tão infinita tal qual um oito deitado.