3 de abr. de 2012

Os Demóstenes enrustidos


Por Chico Pinto


A pergunta é: quantos Demóstenes enrustidos existem por ai? Diante de tantas surpresas de tantos absurdos, chego a acreditar na existência de  dezenas, centenas e quiçá milhares. A cada dia que se passa a população brasileira se depara com um novo escândalo. Escândalos asquerosos e imorais.


Esses “Demóstenes”, quando desmascarados, além da repulsa natural,  permitem que o descrédito se amontoe cada vez mais nas entranhas  sociais por antever que a impunidade prevalecerá.


Sem poder – ou querer – reagir à sociedade apenas acompanha e se vê compelida a conviver com o inaceitável. A conviver com a desordem social, com a roubalheira escancarada do dinheiro público e, lamentavelmente, com a dissimulação de falsos moralistas.


Diante de tamanha facilidade em “afanar” o dinheiro do contribuinte, fica patenteado que o tradicional clientelismo e o velho patrimonialismo vão sendo gradativamente substituído pelo azeitado negocismo. Negocismo voraz e descarado em torno das obras e contratos financiados pelas esferas governamentais,  sem controle e, na grande maioria das vezes, sem decência.


Senador Demóstenes Torres
Acreditando piamente nas facilidades e, consequentemente, na impunidade esses “Demóstenes” são vistos com um apetite voraz nas engrenagens da máquina pública, seja ela do Executivo, Legislativo e/ou Judiciário. Os exemplos são inúmeros, as estatísticas comprovam e os escândalos se amontoam.


As negociatas sempre vêm precedidas de propinas, comissões, barganhas e permutas ilegais. O jogo de cartas marcadas há muito tempo virou regra. Ele é jogado por notórios corruptos que se banqueteiam em festas elegantes após o término de cada “partida”. Comemoram as transações, ou melhor, as falcatruas, em alto nível diante de sofisticados canapés e champagne francesa. Tudo isso à custa da miséria acentuado do povo brasileiro.


Está provado que, na maioria das vezes, esses ladrões não são importunados.  Geralmente, são blindados em troca da partilha do butim. Convencionou-se de que nas negociatas todos ganham menos a sociedade que assiste passivamente a debandada do dinheiro público. Inerte, observa esvair-se pelo ralo a maior parte dos recursos destinados à saúde, à educação e à infra-estrutura.


O apetite voraz dos Demóstenes brasileiros, na busca do dinheiro do contribuinte, sem dúvida alguma, é a causa preponderante da acentuada miséria que campeia por este País afora. A ambição, o ganho desonesto e o desejo de enriquecer sem fazer força se sobrepõem ao sofrimento da população.


O pior de tudo isso é que, quando são desmascarados, flagrados com a mão na botija,  a pena é apenas alguns dias de manchetes nos jornais, rádio e TV. Passado o interesse jornalístico, é normal o fato ser esquecido, colocado na geladeira, e nada do dinheiro roubado retornar aos cofres públicos. Evapora-se, desaparece como se tivesse tomado doril.


Tanto isso é verdade que não existe mais segredo, pois quando a boca se cala, falam as pontas dos dedos ávidos para abocanharem outras verbas governamentais.


E, sendo assim, a roubalheira permanece tão infinita tal qual um oito deitado.