Bispo Edir Macedo é o pastor mais rico do Brasil com uma
fortuna de US$ 950 milhões; Líder da Universal do Reino de Deus está a frente de
Valdemiro Santiago e Silas Malafaia
A religião sempre foi um negócio lucrativo. E, se você for
um pastor brasileiro, a chance de chegar à mina de ouro são grandes atualmente.
Mesmo que o Brasil ainda seja o maior país católico do mundo, com cerca de
123,3 milhões de adeptos, o último censo mostra queda na porcentagem, que hoje
é de 64,6%, comparado aos 92% de 1970.
Enquanto isso, o número de protestantes subiu de 15,4% para
22,2%, ou 42,3 milhões de pessoas. É possível que essa tendência de queda do
catolicismo seja contínua e que, em 2030, menos de 50% da população brasileira
siga o Vaticano.
Mas por que os evangélicos estão ganhando a cena religiosa
no Brasil? Uma das qualidades mais marcantes é que o progresso material vêm
sobre a influência de Deus, enquanto o catolicismo ainda prega um olhar
conservador sobre a vida após a morte em vez de pregações, especialmente neopentecostais,
de que é certo ser próspero. Essa doutrina, conhecida como “teologia da
prosperidade”, é a fundação de uma das igrejas evangélicas mais populares no
país.
O valor do progresso material em parte das igrejas
evangélicas é explícito e ativamente promovido. Aline Barros, ganhadora do
Grammy que se tornou pastora e tem mais de 900.000 seguidores no Twitter,
afirma: “O que você fez para o Reino de Deus? O que você produziu para Deus? Se
você está vivo, tem o ar da vida – produza!”.
Parece funcionar. O Brasil vive um crescimento econômico nos
últimos anos. O sucesso da economia não tirou milhões de brasileiros da
pobreza, mas elevou as expectativas da classe C. Como estima-se que os muito
ricos e os muito pobres permaneceram católicos, a maioria dos protestantes está
nessa classe e encontraram na religião um modo de ser grato por seu dinheiro,
como uma desculpa para curtir o seu novo patamar na sociedade sem se sentir
culpado.
Em outras palavras, eles estão dispostos a dar de volta para
a igreja. Isso tornou algumas religiões em um negócio altamente lucrativo e
alguns de seus líderes multimilionários. É a chamada “indústria da fé”.
Veja o Bispo Edir Macedo, por exemplo. O fundador e líder da
Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), que tem templos até em outros países,
é de longe o pastor mais rico do país, com uma renda estimada* em US$ 950
milhões. O bispo está constantemente envolvido em polêmicas, geralmente por
acusações de que sua organização sugou bilhões de reais de doações que deveriam
ir para a caridade. Há também denúncias oficiais de fraudes e lavagem de
dinheiro. Ainda sim, Macedo pretende liderar seus seguidores por muitos anos.
Um dos pais da Teologia da Prosperidade moderna, o bispo da
Universal passou onze dias na cadeia em 1992 graças a acusações de
charlatanismo. Macedo negou tudo no Brasil, mas continua a ser investigado nos
Estados Unidos e na Venezuela.
Como escritor, ele tem mais de 10 milhões de livros vendidos,
alguns deles muitos críticos à Igreja Católica e a religiões afrodescendentes.
Seu maior passo foi dado no final dos anos 80, quando comprou a Rede Record.
Suas outras propriedades incluem o jornal “Folha Universal”, empresas de
música, propriedades e um jatinho particular Bombardier Global Express XRS, de
US$ 45 milhões. A assessoria de Macedo afirmou que ele não comentaria o
assunto.
Seguidor dos passos de Macedo, Valdemiro Santiago é um
ex-bispo da Igreja Universal, expulso da instituição após desentendimentos com
o chefe. Foi o bastante para ele fundar a sua própria igreja, a Mundial do
Poder de Deus, que tem mais de 900.000 fies e 4.000 templos, muitos dos quais
com a sua imagem nas paredes. Ele foi destaque na imprensa no ano passado
quando comprou um jatinho igual ao do ex-mestre. Diversas revistas brasileiras
estimam que a sua renda chegue a US$ 220 milhões. Ligações e e-mails para a
igreja não foram respondidos.
Em terceiro lugar, está o líder da Assembleia de Deus, maior
igreja Pentecostal do Brasil, Silas Malafaia. O mais desbocado do ranking, o
pastor se envolve em polêmicas constantes com a comunidade homossexual, da qual
ele orgulhosamente se intitula o maior inimigo. Entusiasta da lei que considera
homossexualismo uma doença, Malafaia é uma figura presente no Twitter, com mais
de 440.000 seguidores. Em 2011, o pastor – que tem uma renda estimada em US$
150 milhões – lançou a campanha Clube de 1 Milhão de Almas, que pretende
levantar R$ 1 bilhão para a sua igreja com intuito de criar uma rede de
televisão global que possa ser transmitida em 137 países. Os interessados podem
doar valores que começam em R$ 1.000 e podem ser pagos em parcelas. Em troca,
ganham um livro.
Possivelmente o mais ativo na mídia no Brasil, R.R. Soares é
o fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus. Também ex-pastor da IURD e
cunhado de Macedo, o missionário é considerado o mais humilde entre eles. Seu
jatinho privado, um King Air 350, custa apenas US$ 5 milhões. A sua fortuna é
estimada, também por diversas publicações, em US$ 125 milhões. Seus
representantes não responderam às ligações ou e-mails da reportagem.
O casal fundador da Igreja Renascer em Cristo, o apóstolo
Estevam Hernandes Filho e a bispa Sônia, têm mais de 1.000 templos no Brasil e
até alguns na Flórida. Com uma fortuna estimada em US$ 65 milhões por diversas
revistas brasileiras, o casal chamou a atenção do mundo quando foi preso em
Miami, acusado em carregar mais de US$ 56 mil não declarados. Parte desse
dinheiro estava escondido dentro de bíblias, segundo agentes norte-americanos
que os barraram no aeroporto. Eles voltaram para o Brasil um ano depois, mas
continuam com uma série de processos por diferentes crimes, como a queda do
teto de um de seus templos que matou nove pessoas.
As prisões por fraudes fizeram barulho. Em dezembro de 2010,
o jogador Kaká, então amigo do casal Hernandes e membro da igreja, largou a
instituição, alegando o mal uso do dinheiro pelos donos. O jogador já havia
doado R$ 2 milhões na época que era o seu membro mais famoso. Os representantes
de Hernandes também não responderam à ligações ou e-mails da reportagem.
Tornar-se um pastor evangélico no Brasil é o sonho de muitos
jovens. Ao contrário das igrejas protestantes mais tradicionais no país, que
requerem que seus pastores tenham algum diploma, as neopentecostais, como a
IURD, promovem cursos intensivos para criar pastores por R$ 700 por alguns dias
de aula. Mas virar pastor não é apenas uma questão de dinheiro (Malafaia paga
até R$ 22.000 para os seus pastores mais bensucedidos, segundo a revista “Veja
São Paulo”), é também sobre poder.
Muitos dos pastores brasileiros ganharam passaportes
diplomáticos nos últimos anos, especialmente os que lideram grandes igrejas.
Eles também são cortejados por políticos e têm isenção de impostos, o que pode
trazer um futuro muito conveniente.
Como diz a Bíblia, a fé move montanhas. E o dinheiro também.
*A estimativa das fortunas vieram de números apresentados
pelo Ministério Público brasileiro e pela Polícia Federal, assim como a estimativa
dos bens privados de cada pastor, publicados pela mídia brasileira, incluindo
as revistas “Veja”, “IstoÉ”, “IstoÉ Dinheiro” e “Exame”, e os jornais “Folha de
S.Paulo”, “O Globo” e “O Estado de S.Paulo”.
Siga a FORBES Brasil no Twitter (@forbesbr) e no Facebook
(ForbesBrasil).
MSN Brasil