Cirurgiões do Reino Unido estão pedindo ao governo que considerem os méritos de um mercado legalizado de órgãos para transplante. A discussão pública sobre a permissão de venda de órgãos pode permitir uma decisão mais bem informada sobre o assunto de grande importância moral e médica, defendem os médicos.
A informação foi publicada nesta quarta-feira no site do jornal britânico "The Independent".
De acordo com eles, estão em jogo as vidas de milhares de pessoas que podem morrer antes de um doador apropriado ser encontrado. Oito mil pessoas estão na lista de espera para transplante, mais de 500 morrem a cada ano antes de conseguir um órgão e os números estão aumentando em 8% ao ano.
Mas existem sérias preocupações de que a introdução de pagamento para quem doa seus órgãos resulte em pessoas pobres e vulneráveis, submetidas a grande pressão para aliviar seus problemas financeiros com a venda de uma parte do seu corpo.
O professor Nadey Hakim, consultor do Hospital Harefield e um dos principais cirurgiões de transplante do mundo, acredita que um mercado devidamente regulamentado deve ser autorizado, para que o mercado negro de órgãos seja, se não destruído, pelo menos reduzido drasticamente.
Ele vê os efeitos do mercado negro em pacientes desesperados por transplante que viajam para o exterior em busca de um órgão.
Esse "turismo de transplantes", disse ele, muitas vezes resulta em operações fracassadas e exige numa nova cirurgia quando o paciente retorna ao Reino Unido. Faria mais sentido permitir a venda de órgãos no Reino Unido sob um regime estritamente regulamentado, disse ele, acrescentando: "Vamos ter um sistema que não permite órgãos com HIV ou qualquer outra coisa."
O professor John Harris, um especialista em ética da Universidade de Manchester, acredita que o debate e a introdução de um mercado de órgãos já deviam ter sido discutidos. "A moral exige isso", disse ele. "É hora de considerar. Milhares de pessoas morrem a cada ano [internacionalmente] por falta de órgãos. Essa é a medida de urgência do problema."
"Ser pago não anula o altruísmo --os médicos não são menos cuidadosos porque são pagos. No sistema atual, todo mundo é pago, exceto o doador."
Harris desenvolveu uma proposta para um mercado ético de órgãos em que os doadores seriam pagos como parte de um sistema regulado. Esse sistema, segundo ele, teria que ser controlado dentro de uma comunidade rigorosamente definida, provavelmente no Reino Unido, mas possivelmente estendida para a União Europeia, assim todos os órgãos poderiam ser contabilizados.
Mas ainda há ainda uma forte oposição à liberalização do mercado. Os opositores concordam que deveria haver um debate público sobre as vantagens e desvantagens de um mercado de órgãos. "A Sociedade Britânica de Transplantes se opõe a essa visão, no entanto, está preparada para debater a questão", disse um porta-voz.
Os transplantes de órgãos no Reino Unido em números:
- 2017 é número de dadores no Reino Unido no ano passado, dos quais 1.058 estão vivos e 959 mortos
- 3698 é o número total de órgãos transplantados no ano passado, com a exceção de córneas
- 1482 é o número de rins transplantados no ano passado a partir de doadores falecidos. 1038 vieram de doadores vivos
- 17.700 é o número de pessoas no cadastro de doadores de órgãos
- 7.892 é o número total de pessoas que esperam por um transplante. Entre elas, 6.741 estão esperando por um rim
- 1.000 é número de pessoas na fila do transplante que vão morrer antes de receber o órgão
Fonte: Folhaonline