Sem agregar valor aos minérios, a Paraíba continua explorando uma das principais riquezas naturais de forma rudimentar e vendendo a matéria-prima sem qualquer beneficiamento. Um dos reflexos diretos da falta de geração de riqueza nos municípios da região do Seridó, onde há maior abundância de minério explorado, são os valores do PIB per capita. Cidades como Várzea (R$ 4.426), Junco do Seridó (R$ 3.326) e Pedra Lavrada (R$ 3.814) possuem PIB per capita ainda muito abaixo da média do Estado (R$ 6.866), que por sinal não é referência, por ser o quarto mais baixo entre 27 unidades de federação.
A exportação de minérios somou quase US$ 8 milhões no ano passado, alta de 52% em relação ao ano anterior (US$ 4,3 milhões) é outro exemplo prático do quanto o Estado perde divisas. Exportamos, anualmente, milhares de toneladas de ilmenita, granito, areias de zircônio, quartzo, quartzitos, bentonita e mica de forma bruta e sem beneficiamento local e possibilitar agregar valor na cadeia produtiva. Exemplos não faltam para ilustrar perdas, principalmente para a pequena mineração que continua fazendo extração de forma manual e não mecânica, o que eleva, inclusive, os riscos. No ano passado, cinco pessoas morreram na exploração do minério na região do Seridó.
Os valores irrisórios pagos pelos atravessadores aos garimpeiros mostram a dimensão de perdas. O metro quadrado do mosaico do quartzito que é vendido na pedra bruta a R$ 5 passaria para R$ 130 com a compra de uma trituradora, o que representa uma aumento exponencial de 2.500%. O equipamento custa R$ 150 mil, mas as pequenas cooperativas no Seridó não possuem capital para o investimento. A aquisição também de um simples moinho com capacidade de quatro toneladas elevaria em mais de 250% o faturamento dos trabalhadores na venda do feldspato, minério utilizado na indústria cerâmica. A tonelada que é vendida em forma bruta por R$ 40 poderia sair por R$ 140 com a compra do equipamento. A lógica de perda de dinheiro serve para os demais minérios abundantes na região do Seridó como caulim, quartzo, mica, tantalita/columbita, estanho, lítio, berílio, quartzito e as gemas. Na prática, na meso-região do Seridó, há mais garimpagem e pouca mineração por ausência equipamentos.
“O minério é uma vocação natural da Paraíba, mas ainda não foi transformada em potencial econômico na mesma proporção, simplesmente por falta de prioridade dos governos que não vestiram a camisa do setor. Há 68 anos exploramos minério no Estado, mas pouco construímos dentro do seu potencial. Acredito profundamente na saída pela pequena mineração para gerar trabalho, renda e riqueza nos municípios”, avalia o pesquisador e professor do curso de Engenharia de Minas da UFCG, Antônio Pedro Ferreira, que integra o projeto de Arranjo Produtivo Mineral (APL Mineral), no Seridó, que pode mudar a cara da pequena mineração do Estado.
Um dos avanços do setor nos últimos anos foi a formação de cinco cooperativas no Seridó e a legalização de algumas áreas. Porém, o desafio das entidades como Sebrae e a UFCG vai além da burocracia pela legalização das áreas exploradas, pois os mais de 300 trabalhadores cooperados continuam com os aparelhos manuais.
Apesar de encerrarmos a primeira década no século 21, o nível de exploração de garimpagem no Seridó continua no século 19 porque os recursos dos convênios para aquisição de equipamentos, serviços de limpeza das frentes de lavra e de qualificação da pequena mineração na mesorregião do Seridó Paraibano nunca foram liberados. Há recursos, por exemplo, prometidos às cooperativas sob convênio no Ministério da Integração Nacional desde 2009 (R$ 716 mil), no Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (Funcep) do Governo do Estado (R$ 980 mil) e na Sudene (R$ 160 mil) que somados, não chegam a R$ 2 milhões, mas fariam grande diferença na extração e no preço final.
Do Jornal da Paraíba