13 de jan. de 2011

“Sexting”: Fenômeno de postar fotos sensuais de adolescentes na web preocupa polícia


Em busca da fama virtual, adolescentes de 12 a 17 anos estão aderindo cada vez mais ao “sexting”. O fenômeno criado por jovens nos EUA há cerca de cinco anos chegou recentemente ao Brasil. O termo é originado da união de duas palavras em inglês: “sex” (sexo) e “texting” (envio de mensagens). Para praticar o “sexting”, meninos e meninas produzem e enviam fotos sensuais de seus corpos nus ou seminus usando celulares, câmeras fotográficas, contas de e-mail, salas de bate-papo, comunicadores instantâneos e sites de relacionamentos.

Os adeptos também mandam mensagens de texto eróticas no celular ou internet com convites e insinuações sexuais para namorados, “ficantes”, paqueras, pretendentes ou amigos. A prática preocupa representantes da Polícia Civil, do Ministério Público de São Paulo e entidades civis de preservação dos direitos humanos na internet ouvidos pelo G1. Todos alertam para o risco da pornografia infantil e prostituição.

“Vejo isso como um perigo muito grande. O pedófilo ou o aliciador percebe isso e começa a ganhar intimidade. Isso acaba sendo porta para prostituição”, afirmou o promotor Tales de Oliveira, do Departamento de Execução da Infância e Juventude de São Paulo, ao G1.

Bastam alguns cliques para ver adolescentes em poses provocantes, se exibindo em imagens postadas por eles mesmos em álbuns de fotos, sites pessoais e vídeos. Vale tudo para chamar a atenção. As meninas ficam só de lingerie ou biquíni, agarram ou beijam amigas na boca, mostram closes de decotes ousados e até autografam os próprios seios com o nome de suas páginas ou de colegas. Os garotos preferem ficar de cuecas, sem camisa, ou abraçar garotas simulando atos sexuais. Em outros casos, jovens chegam a ficar nus.

Com preços acessíveis, uma máquina digital ou celular com câmera não são mais exclusividade de filhos da classe média. Por conta disso, é quase impossível contabilizar o número de praticantes do exibicionismo juvenil. Segundo a Safernet Brasil (organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua na proteção e promoção dos direitos humanos na internet), quem mais acessa a rede mundial de computadores é o jovem entre 16 e 24 anos, o que representa 78% do total de internautas no país.

Neste universo, ganha fama quem tiver mais acessos no seu fotolog, Orkut e YouTube. Outra maneira de ser popular é vencer os concursos virtuais promovidos pelos sites. Depois disso, a celebridade instantânea irá contar com fã-clubes e uma legião de seguidores.

Outro lado

A reportagem entrou em contato com o provedor responsável por hospedar os sites que disponibilizam os serviços de fotos e vídeos na internet. Segundo a assessoria de imprensa do Google, “os conteúdos considerados impróprios podem ser denunciados pelos usuários". "Já os de pornografia e os que ferem direitos autorais são removidos.”

Segundo a Safernet Brasil, dados da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos mostram que a pornografia infantil lidera o número de denúncias no país. Foram mais de 2 mil entre 1º de março a 1º de abril deste ano.

“Internet, celular, máquina digital. Estas tecnologias potencializaram algo típico da adolescência. É preciso discutir sexualidade na família e na escola para que ele não vire sexo precoce depois”, disse o psicólogo Rodrigo Nejm, diretor de prevenção da Safernet.

O artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) define o que é pornografia infantil: “Para efeito dos crimes previstos nesta lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais”.

A Safernet tem trabalhado na formação de mais de 4 mil educadores no Brasil. São aplicadas sugestões de exercício nas salas de aula para trabalhar esse tema. Ao receber as denúncias de sexting como pornografia infantil, os responsáveis pela entidade as encaminham para a Polícia Federal e para o Ministério Público Federal.

Vício virtual

Em um dos sites de fotolog visitados pele reportagem na quarta, havia mais de 465 mil páginas pessoais. Até as 13h, mais de 8 mil fotos tinham sido postadas.

As regras de uma das comunidades não permitem postar fotos contendo, por exemplo: “lingerie, cueca, calcinha ou sutiã”; “zoom ou close-up em decotes ou em outras parte sexualmente apelativas do corpo”; entre outros.

Mas, apesar das restrições, a mesma comunidade tem fotos de garotas de 15 e 16 anos de biquíni em frente a espelhos ou cobrindo os seios apenas com as mãos. Algumas páginas pessoais têm música. Numa delas, era possível escutar uma com letras de cunho sexual enquanto a foto de uma garota de 17 anos, usando fio dental, tremia.

“O site faz esse alerta [de regras] apenas como forma de amanhã ou depois se isentar de qualquer responsabilidade. Se a pessoa foi contra a regra do jogo, eu não tenho culpa. Essa é sempre a alegação deles”, afirmou o promotor Tales de Oliveira, da Infância e Juventude.

Ainda pelos termos de uso dos álbuns de fotos, o dono da página pode permitir que o visitante escreva comentários em cada imagem que foi postada. Uma menina de 14 anos que mostra os seios espremidos por um sutiã foi chamada de “delícia” por um internauta.

Postar fotos de crianças nuas é crime

Segundo a delegada Catarina Buquê, da Delegacia de Crimes Eletrônicos do Departamento de Investigações sobre Crime Organizado (Deic), a postagem de fotos sensuais de adolescentes tem de ser investigada com cuidado. “Pode ser uma gama de crimes, como pode não ser também”, afirmou a delegada.

“Fotos nuas de adolescentes são material pornográfico, é crime. Mas fotos sensuais de adolescentes têm de ser analisadas caso a caso. Às vezes o adolescente trabalha como modelo e tem a autorização dos pais para publicar essas imagens na internet. Ou às vezes não. Pode ser que alguém tenha pego essas fotos provocantes e divulgado sem a autorização do jovem. Pode ser que uma menina tenha mandado a foto para um namorado ou um paquera e ele a distribuiu sem o consentimento da garota”, disse a delegada Catarina

Do Folha do Sertão