Estava ansioso para escrever algo sobre o justo protesto realizado por estudantes e comunidade lavradense em prol da reforma da escola Francisco Ferreira, acontecido entre os dias 22 e 24 de março/2010. Porém, como demorei a fazer isso, quando acessei o pedralavrada.com percebi que tinha passado batido. Lá já estava escrito algumas matérias, nota da “Câmara”, um vasto mural com depoimentos de toda sorte e ainda um bom artigo (“Câmara Municipal - Como explicar o inexplicável?”) do bravo lavradense de causa e de raízes familiares Martiniano Lira.
Fiquei só acompanhando o desenrolar dessa história, matutando e refletindo. Não imaginava que uma manifestação como aquela ocorresse em Pedra Lavrada em horizonte temporal próximo. Até então eu pensava que a consciência política-cidadã da população lavradense ainda estava muito longe de tão heróica e justa manifestação. Ledo engano! Para minha felicidade tive a oportunidade de ser testemunha ocular desse acontecimento que, com certeza, marcará páginas na história de Pedra Lavrada.
Esse vulcão adormecido que era o povo de Pedra Lavrada entrou em erupção e a classe política lavradense flutuou em suas larvas, ficou patinando e desnorteada. A melhor demonstração e síntese da falta de rumo e de preparo para lidar com tal manifestação popular foi à nota escrita pelo presidente da Câmara Municipal Alexsandro Buriti (DEM), intitulada: “Câmara Municipal de Pedra Lavrada rebate acusações de manifestantes”. Santa inocência do presidente da Casa! O pior foi ter se escondido por trás do nome de uma suposta assessoria da Câmara Municipal e logo depois ter que assumir-se como autor da nota e pedir desculpas aos seus pares. Já pensou se algum vereador tivesse exigido que o mesmo se retratasse no mesmo pedralavrada.com? Certamente o constrangimento e a repercussão iriam se propagar muito mais ainda.
Se não bastasse tanta falta de habilidade para lidar com o ocorrido, eis que alguns vereadores ainda continuaram a insistir no erro, não conseguindo enxergar nitidamente o ocorrido. A título de exemplo, na ultima reunião ordinária do poder legislativo municipal, realizada dia 09/04/2010, o vereador Alberto Edson (DEM) usou a tribuna e reforçou e revelou mais uma vez que sofre de “miopia” quando direciona seu olhar para o protesto. O mesmo insiste que faltou organização por parte dos lideres do movimento, pois deveriam ter convocado os poderes constituídos e a sociedade civil organizada para participarem do protesto. Ora senhor vereador, como um grupo de estudantes sem qualquer experiência iriam pensar em fazer isso? O Senhor deve saber, mesmo não sendo filho natural de Pedra Lavrada, que protestos dessa natureza não faziam, até então, parte da nossa história municipal. Tem mais, para realizar protesto em prol de suas causas, os estudantes não precisam e não estão obrigados a comunicar a ninguém que não lhe convenha. Quando a causa é justa todos os cidadãos devem fazer mesmo manifestações cobrando das autoridades o que é de direito do povo, independente da opinião de alguns agentes políticos conservadores e arcaicos. Aliais, é oportuno lembrar que a liberdade de expressão e de protestar é um direito sagrado em nossa Constituição, o que contribui para efetivação e consolidação da nossa democracia.
Na verdade, grande parte da classe política lavradense subestimou a capacidade dos bravos estudantes em levar adiante tão belo, ordeiro e justo protesto. Faltou a alguns políticos saber ler os fatos, perceber que o protesto iniciou-se com os estudantes e logo se espraiou por grande parte da comunidade lavradense. Foi bonito ver, sob aquele sol escaldante, até pessoas idosas dando total apoio aos estudantes. Assim, ficou provado que o protesto teve início com os estudantes e logo foi abraçado pelas pessoas de bem, a brava gente lavradense que defendem nosso patrimônio e nossa educação.
Em tempo, não é honesto de minha parte deixar de fazer justiça ao vereador Alberto Edson quanto sua preocupação com a demora no início da reforma/reconstrução da Escola Francisco Ferreira, pois sou testemunha que o mesmo usou a tribuna da Câmara para fazer cobrança ao Governo do Estado no mês anterior à efetivação do protesto. O Vereador não poupou críticas a quem passou pelo comando do Estado e visitou, in situ, a triste situação da escola, aproveitando-se da ocasião para fazer promessas sendo que até agora nada foi feito por tais governantes. As críticas se direcionaram nominalmente para Arthur Cunha Lima (PSDB), o ex-governador bi-cassado Cássio Cunha Lima (PSDB) e até para o atual governador Zé Maranhão (PMDB).
Chifre em Cabeça de Cavalo: os “ocultos” e “desocupados”
O vereador Alberto, seguido por alguns, inclusive do próprio prefeito, parecem estarem enxergando “chifre em cabeça de cavalo” ao afirmarem que havia pessoas mal intencionadas por trás do protesto. Se havia essas pessoas que nomeias, mas não coloque todos e todas sob suspeita. Qual era essas supostas intenções nocivas, será que era defender nosso patrimônio, nossa educação? Se havia alguém querendo tirar proveito político do ocorrido, não sei quem os era, mas isso também não descredencia a legitimidade do protesto como também não é crime. Os supostos “ocultos” maldosos seriam os lideres religiosos Padre Possiano e o Pastor Sucupira que lá estiveram como pode ser visto em algumas fotos? Ou seria Dona Nitinha e Dona Violeta? Não sei responder! Com a palavra aqueles que insistem em enxergar “chifre em cabeça de cavalo”.
Confesso aos leitores que fiquei bastante estarrecido ao ler o que foi publicado no portal tonyshow.com, no dia do Chico Ferreira (24 de março), com o seguinte título: “Sem local para estudar, alunos interditam PB-177 para cobrar do Governo reforma de escola”. Se não bastasse a nota publicada pelo vereador Alexsandro Buriti (DEM), vejam que tipo de informações ele prestou ao tonyshow.com, segundo o site:
“O presidente da Câmara Municipal, Alexandro Burity (DEM), disse que hoje uma comissão irá até a estrada para tentar resolver o problema. Ele informou ainda que o movimento tem poucos alunos e que maior parte dos manifestantes são desocupados, que transformaram o caso em questão política” (grifo meu). Para acessar a matéria na integra clique aqui.
Quer dizer Senhor vereador Alexsandro Buriti que a “maior parte dos manifestantes são [eram] desocupados”? Será mesmo? Continuo a indagar quem eram esses desocupados? O protesto era sim político, como não seria? Era político sim senhor, agora não era político-partidário, não fazia parte da politicagem imunda que muitos praticam como meio de vida. Muitos deveriam ter vergonha de ter como “profissão” a politicagem, assumindo mandatos ilegítimos devido não representarem os verdadeiros anseios dos cidadãos. Esse tipo de politiqueiros só serve para bajular mandatários de plantão com o único fim de defenderem interesses particulares em detrimento da coletividade, descumprindo os preceitos Constitucionais basilares dos seus cargos. Este tipo de classe realmente não teve chance de se aproveitar do protesto dos estudantes e do povo lavradense.
Lembro aos míopes que o grupo escolar Professor Francisco Ferreira não é só dos atuais estudantes, mas de toda população lavradense, pois se trata de um patrimônio municipal. Não venham querer descredenciar o protesto devido muitos que lá estavam não serem estudantes da escola.
Enfim, o protesto foi Político com P maiúsculo, foi uma linda manifestação e expressão de exercício da cidadania como nunca visto em nossa história.
Sei que para alguns não sou agradável, mas sei também que meu azedume é reflexo da exposição da verdade, da “voz de pedra”, afinal “veritas odium parit”, ou seja, a verdade gera o ódio, como gosta de afirmar meu caro Roberto Solon. Sendo assim, não temo ser odiado por alguns quando defendo causas justas, em favor da coletividade, do respeito à cidadania. Assim vem sendo minha conduta desde muito tempo.
Parabéns bravos estudantes, parabéns Pedra Lavrada, avante!