26 de ago. de 2011

A “Roma Antiga” de Dilma e a Brasília dos “malfeitos”


kotscho blog A Roma Antiga de Dilma e a Brasília dos malfeitos
Sai semana, entra semana, e o disco não muda. É ministro balançando, é "mal-estar" nos partidos da base, são "malfeitos" variados tomando conta dos debates no Congresso Nacional e no noticiário político.
Não sai mais disso. "Malfeitos" é a palavra da moda. Virou genérico para corrupção endêmica, bandalheira nova, rapinagem de dinheiro público, uso de helicóptero da polícia para passeios de autoridades na praia. Que falta?
A presidente Dilma aproveitou um evento no Palácio do Planalto nesta quarta-feira para dar um freio de arrumação. Para acalmar a base, comunicou à praça que a tal da "faxina ética" deflagrada contra os "malfeitos" não é prioridade do seu governo, foi apenas uma contingência.
"Se combate o malfeito, não se faz disso meta do governo. Faxina no meu governo é faxina contra a pobreza, o resto são ossos do ofício da Prsidência, e isso não se interrompe".
Combater a corrupção, de fato, não foi bandeira de Dilma na campanha presidencial, até porque era candidata da continuidade, nem de qualquer outro candidato. Nunca foi programa de governo da grande aliança formada em torno dela e não se tem notícia de governo que tenha entrado para a história por ter feito uma "faxina ética".
O último que empunhou esta bandeira com a sua vassourinha foi Jânio Quadros, o exótico Dom Quixote que abandonou a Presidência da República há exatos 50 anos, por acaso lembrados neste 25 de agosto.
Os marqueteiros do governo podem ter comemorado as últimas pesquisas, em que a "faxina geral", que já levou à queda de três ministros e uma penca de outras excelências, rendeu bons índices de aprovação para a presidente, mas os articuladores políticos de Dilma sabiam, ou deveriam saber, que só isso não basta para colocar em pé um governo.
O problema maior é o que colocar no lugar da discussão sobre a faxina para preencher o espaço.  Desde a queda do todo-poderoso primeiro-ministro Antonio Palocci, ainda no primeiro semestre, o governo perdeu completamente a iniciativa do jogo político e fica na defensiva, com ministros a toda hora se explicando no Congresso, a reboque das denúncias semanais feitas pela imprensa.
A própria presidente Dilma reconheceu esta realidade durante a tumultuada conversa com jornalistas no Planalto:
"Essa pauta de demissões não é adequada para um governo. Essa pauta eu não vou jamais assumir. Isso aqui não é de fato Roma Antiga".
Em outras palavras, a presidente não quer mais permitir que seus ministros sejam jogados aos leões pela imprensa.
Neste momento, porém, quem está pedindo a cabeça dos ministros mais ameaçados de degola _ Pedro Novais, do Turismo, e Mário Negromonte, das Cidades _ não são "jornalistas investigativos", muito menos a cambaleante esquadra do último oposicionista que sobrou, o impagável senador Alvaro Dias (PSDB-PR), onipresente locutor diante das câmaras e microfones espalhados pelo Congresso.
A guerra agora é intestina: PMDB contra PMDB e PP contra PP. O que Dilma pode fazer para conter seus aliados, que estão denunciando uns aos outros para garantir ou abocanhar mais um naco de poder?
Do jeito que vai indo, Roma Antiga ainda vai parecer um inocente playground perto da Brasília dos sombrios dias atuais.
Ricardo Kotscho - IG