20 de out. de 2011

PERNAMBUCANO: Aguinaldo Silva: “Não sou a Carolina Dieckmann”


Ele jantou macarrão com mortadela em seu primeiro réveillon no Rio de Janeiro; foi repórter de polícia em jornais nordestinos e cariocas; ficou 70 dias desaparecido após ser preso na ditadura; teve a casa saqueada quando finalmente foi libertado; nascido no interior de Pernambuco, se assumiu gay muito antes das passeatas que lutam pelos direitos iguais.
O relato acima é digno de um protagonista de novela das oito da Globo. Mas o dono da história é Aguinaldo Silva, 67 anos, um dos principais novelistas da maior emissora do país e detentor do título, do qual fala com o mesmo orgulho quanto bom humor, de único autor de novelas da Globo que estreou e só escreveu novelas das oito. É também o responsável pela trama de maior audiência da TV brasileira nos últimos tempos com “Senhora do Destino” (2004). Por ser um dos autores que mais se expõem, é reconhecido nas ruas quase tanto quanto os artistas. “Tenho blog, twitter, estou sempre dando entrevistas, então apareço muito. Mas não sou a Carolina Dieckmann”, diverte-se.
Contrariando todas as possibilidades, assim como a história de sua própria vida, Aguinaldo recebeu a reportagem do iG com a simplicidade esperada do menino que nasceu em Carpina (PE) e a educação e o refinamento próprios do autor de “Fina Estampa”, atual novela do horário nobre. Por refinado – título que o autor rejeita – entenda-se apreciador e conhecedor da boa mesa, entre outros prazeres requintados. Tanto que há cerca de três meses arrematou 70% da pousada Locanda Della Mimosa, referência em enogastronomia localizada em Itaipava, região serrana do Rio de Janeiro.
Foto: George MagaraiaAmpliar
Aguinaldo Silva: "Sou uma pessoa de convicções e não abro mão delas"
Fazendo jus à fama de não ter papas na língua, nesta entrevista Aguinaldo fala sobre a opção de discutir sua sexualidade abertamente, afirma que a classificação etária na TV é pior que a ditadura e diz que a polêmica em torno do beijo gay tornou o tema uma coisa “maldita”. “As pessoas não querem mais ver isso assim como eu não aguento mais (esse assunto). Chega de beijo gay!”. Quando a conversa foi a desavença com o também autor global Walcyr Carrasco, gerada pela semelhança entre as personagens Dulce, de “Morde e Assopra”, e Griselda, de “Fina Estampa”, foi econômico: “Tudo que eu tinha para dizer eu já disse. É um assunto já superado, vamos partir para outra”.
iG: Você assumiu ser gay numa época em que o preconceito era ainda maior, não?
Aguinaldo Silva:
 As pessoas perdiam um tempo enorme tentando esconder a condição delas porque tinham medo de perder emprego, do que a família ia pensar, que os amigos se afastassem. Era uma coisa muito trabalhosa você fingir que não era uma coisa que você era. Descobri desde cedo que se você não fingisse, se abrisse o jogo, claro que algumas pessoas iam te rejeitar, mas essas pessoas que iam te rejeitar realmente não eram dignas de serem suas amigas. Desde o começo não escondia de ninguém e isso me fazia um bem enorme porque não perdia o tempo que os outros perdiam tentando esconder.
iG: Mesmo com relação a sua família?
Aguinaldo Silva:
 Minha família nunca tocou nesse assunto. Nunca foi abordado como alguma coisa que valesse a pena discutir. Porque aos quatorze anos eu já trabalhava, já sustentava a mim mesmo, era independente, então as pessoas não tinham que se meter na minha vida por causa disso.
iG: Nunca perguntaram nada?
Aguinaldo Silva:
 Nunca. Até hoje. Meu irmão lê todas as minhas entrevistas, nós continuamos ligadíssimos e na época que tive casamentos ele conheceu as pessoas que viviam comigo, tudo isso. E nunca perguntou isso ou aquilo.
iG: Você disse que escreve para pessoas de todas as classes, mas em uma entrevista comentou que só sofre preconceito de pessoas que tem menos dinheiro que você.
Aguinaldo Silva:
 Isso é muito engraçado, porque às vezes você entra numa loja e o vendedor ou vendedora não te conhece, mas percebe que você é gay e te trata com um certo desdém. Mas se chego num ambiente muito requintado as pessoas jamais dão bandeira que têm preconceito. Elas te tratam como uma pessoa igual às outras.
iG: Ainda tem muita gente que não te reconhece?
Aguinaldo Silva:
 Eu não sou a Carolina Dieckmann. Muitas vezes entro num lugar e as pessoas não têm ideia de quem eu seja (risos).
iG: Mas dos autores você é o mais reconhecido.
Aguinaldo Silva:
 Eu sou o que mais se expõe. No sentido de se mostrar e de aparecer muito porque atuo em várias frentes. Tenho blog, twitter, estou sempre dando entrevistas, então apareço muito. Às vezes as pessoas me chamam de seu Silvio, seu Manoel Carlos... Fiz uma compra um dia desses num lugar e pedi para entregar na minha casa. A pessoa falou: “Pois não, seu Silvio”. Aí eu: “Não, eu não sou o Silvio, sou o Gilberto”. (risos)
iG: Se recorda da última vez que sofreu preconceito?
Aguinaldo Silva:
 Confesso que ultimamente não aconteceu, mas me recordo de uns quatro natais passados quando fui ao BarraShopping comprar um vestido para dar de presente numa loja muito cara. Era uma dessas boutiques brasileiras que cobram mais caro que o Armani só que não têm o mesmo nome. E aí a vendedora realmente me atendeu com um desdém absoluto. Só faltou perguntar: “Mas o vestido é para você?”. Comprei o vestido mesmo assim e na saída virei para ela e falei: “Se você continuar tratando os clientes que entram aqui dessa maneira essa loja vai acabar fechando”. Foi uma espécie de praga porque dois anos depois eu passei por lá e a loja tinha fechado. Ninguém aguentou a vendedora nojenta (risos).
Foto: George Magaraia
"Eu não gosto da polêmica pela polêmica, mas de provocar. Que as pessoas reajam".
iG: Não era mais difícil quando você era repórter?
Aguinaldo Silva: 
Era muito difícil na rua, o meu contato com a polícia era muito tenso. Porque eu era jornalista e eles sabiam que era gay, então tinha uma coisa muito tensa sempre. Mas eu achava muito divertido porque os caras eram obrigados a me aceitar, me respeitar, e a me temer também. O primeiro prêmio Abril de Jornalismo fui eu que ganhei pela melhor reportagem individual com uma matéria sobre os “Homens de Ouro”, no início dos anos 60. Eram policiais perigosíssimos da formação inicial do que depois resultou no esquadrão da morte. Todos acabaram sendo expulsos ou presos. Os caras tinham que me aturar. Aquele gayzinho que chegava lá e escarafunchava tudo.
iG: Por que você costuma dizer que não precisa de namorado e sim de um enfermeiro?
Aguinaldo Silva:
 As pessoas têm desejo pela vida afora até morrer. Tanto os homens quanto as mulheres. Mas acho que chega uma hora que você fica muito seletivo. Sempre pensa duas vezes porque já sabe como vai ser.
iG: Mas você não acredita mais em amor então?
Aguinaldo Silva: 
Não. Veja bem, o que provoca o amor? É a necessidade da procriação. Foi assim que a natureza fez, embora ela tenha brincado com as pessoas e feito pessoas que não amam porque querem procriar. Mas chega uma idade em que isso passa. Você não tem mais essa ânsia de procurar o parceiro que na verdade é com quem você vai procriar, sabe? Acabou.
iG: Não sente falta de companhia na cama?
Aguinaldo Silva:
 Claro, você vê alguém que te interessa, pensa que seria legal, mas não tem mais aquela fremência que tinha até os 40, 50 anos. Isso passa. Na cama quero ficar sozinho. Morei 18 anos com uma pessoa e depois 9 anos com outra, então já tive a minha cota de pé na cama. Hoje quero dormir sozinho, atravessado. Todas as minhas camas têm dois metros por dois. Na verdade cabem três pessoas, mas eu só durmo sozinho e na diagonal.
iG: E sexo casual?
Aguinaldo Silva:
 Não casual, digamos que eu tenha - vou usar uma palavra engraçada – clientes. Os quais atendo eventualmente, mas são clientes de muitos e muitos anos. Mas é totalmente descompromissado. As pessoas sabem que, depois, não vamos dividir a cama.

iG: Você vem de uma família humilde e se tornou um homem refinado. Mas até chegar a este ponto passou por maus bocados.
Aguinaldo Silva:
 Na verdade quando cheguei ao Rio de Janeiro passei um réveillon à base de macarrão com mortadela, daquelas que a gente comprava na padaria da esquina (risos). Daí a chegar à Locanda realmente foi uma longa trajetória. Eu não acho que seja uma pessoa refinada. Mas se eu continuar tentando mais uns 157 anos provavelmente conseguirei chegar lá (risos).
iG: Quais hábitos simples do menino que saiu de Carpina (PE) você ainda mantém? 
Aguinaldo Silva:
 Sou uma pessoa muito independente. Tenho uma casa muito grande na Barra da Tijuca onde duas pessoas trabalham para mim e eu reduzi a frequência delas a dois dias por semana. Quando não janto fora faço meu próprio jantar. Também preparo meu próprio café da manhã. Acordo às 5h30 e não vou querer que tenha um empregado lá pronto para fazer o meu café. Vou lá e faço. Adoro cozinhar.
Foto: George Magaraia
"Não passo a mão na cabeça de drogado. Drogado tem que ser tratado. Isso se ele quiser, porque muitos não querem".
iG: Você ainda anda de ônibus?
Aguinaldo Silva:
 Uma vez peguei um e esqueci que quando você entra faz esse gesto (de estender o braço para se segurar). Quando fiz isso percebi que todas as pessoas olharam para o meu relógio (de ouro). Aí realmente fiquei assustado e desci.
iG: E na rua, as pessoas não ficam te perguntando da novela? Não acha chato?
Aguinaldo Silva: 
Eu adoro porque as pessoas são muito sinceras. Não têm nenhum pudor. Ninguém vem dizer que está adorando a sua novela senão estiver adorando. E o que as pessoas dizem conta para mim.
iG: Você sempre diz que não sabe fazer novela das sete.
Aguinaldo Silva: 
Sou o único autor que estreou às oito e só fez novela das oito. Não é nada, não é nada, é alguma coisa. Quando escreverem sobre a história da televisão brasileira isso vai render duas linhas. “O Aguinaldo Silva foi o único autor...” (risos).
iG: Enquanto você sempre disse o que queria, muitas pessoas se rebelaram na Globo e, por isso, não permaneceram. Por que acha que com você é diferente?
Aguinaldo Silva: 
Talvez por ser muito profissional. Quando é para fazer o meu trabalho me mato e eles sabem disso. Não faço nada que seja burocrático. Então eles sabem que podem contar comigo. Jamais faria uma novela por fazer. Acho que por isso respeitam o fato de eu ter opinião própria, da qual não abro mão. Uma coisa é o meu trabalho e outra é o cidadão Aguinaldo Silva, que tem opiniões e todo o direito de divulgá-las.
iG: De qualquer forma você dá opiniões que nenhum outro autor ousa emitir.
Aguinaldo Silva: 
Mas eu acho que o grande problema, não só do Brasil, mas do mundo de uma maneira geral - e é a discussão básica da minha novela - é a essência e a aparência. É o fato de que as pessoas já não falam mais o que sentem, o que pensam, porque não é de bom tom. Não é politicamente correto. A dramaturgia sofre muito com isso. Você não pode isso, não pode aquilo. Um drama. Eu não sofro desse mal. Falo o que tenho que falar.
iG: Então quando você diz que não aguenta mais a polêmica sobre o beijo gay e que isso não vai acontecer na sua novela não é pelo politicamente correto?
Aguinaldo Silva:
 Uma novela não é dirigida a um segmento de público. Quando uma novela das oito faz sucesso ela é vista por 60 milhões de pessoas. Isso é um público amplo demais. Sei que estou escrevendo para um público grande e tento atingir todos sem deixar nenhum segmento chocado. Pelas pesquisas, por todas as coisas que se tem feito para saber as reações das pessoas, é evidente que elas não querem ver na TV o chamado beijo gay. Isso é claro. A rejeição é muito grande. Por que eu vou dizer que na minha novela vai ter? A novela não é minha, a novela é do público.
Foto: George Magaraia
"Cada vez que tenho que escrever uma coisa mais delicada penso: 'O que a minha mãe ia achar disso?'. Se pensar que ela ficaria chocada não escrevo".
iG: Mas você acha que o beijo gay não tem solução?
Aguinaldo Silva: 
Acho que não. Tenho a impressão de que se criou uma coisa meio maldita. As pessoas não querem mais ver isso, assim como eu não aguento mais (esse assunto). Chega de beijo gay! (risos)
iG: Como você escolhe ou pesa o que vai colocar na trama?
Aguinaldo Silva:
 Procuro sempre pensar, sem nenhum sentimentalismo barato, na figura da minha mãe. Que era uma senhora de classe média remediada conservadora, mas um exemplo porque tinha uma sabedoria muito grande. Então cada vez que tenho que escrever uma coisa mais delicada penso: “O que a minha mãe ia achar disso?”. Se pensar que ela ficaria chocada não escrevo. Procuro amenizar a coisa. Tenho uma figura que para mim é a média dessas pessoas.
iG: Como lida com as notícias envolvendo a novela? 
Aguinaldo Silva:
 A única solução é não ler até porque não dá tempo. Sempre digo brincando que se um presidente da república assinasse um decreto proibindo as novelas no Brasil, no dia seguinte fechavam umas vinte revistas. Eu não tenho tempo de ler tudo isso. E tem aqueles amigos que ligam para você e falam: “Você leu o que fulana de tal falou sobre você?”. Eu digo: “Se você me disser nunca mais falo contigo”. Já corto na hora. Não quero nem saber. Eventualmente fico sabendo de alguma coisa.
iG: Você criticou Fábio Assunção quando ele abandonou uma novela por problemas com drogas. Escreveu “Não tenho paciência para drogados” em seu Twitter. Como é a sua relação com as drogas? 
Aguinaldo Silva:
 Quando era muito jovem, em Recife, devia ter de 16 para 17 anos, experimentei maconha, mas achei aquilo horrível porque é uma coisa que tira o seu equilíbrio. Acho qualquer coisa que tira o equilíbrio muito desagradável. Mas quando falo que não tenho paciência para drogados quero dizer que você não pode tratar o drogado, só porque ele é do seu meio, com condescendência. Uma coisa que me irritava, por exemplo, é que nas poucas vezes que consegui ver o Tim Maia - porque ele faltava aos shows - cada vez que ele falava alguma coisa que fazia alusão a drogas as pessoas caiam na risada. Achavam aquilo engraçadíssimo e eu não acho graça nenhuma. Droga é um horror. A cidade do Rio de Janeiro sofreu tudo que sofreu e ainda vem sofrendo por causa das drogas e dos traficantes e quando você consome a droga não adianta querer esconder. Você contribui para que essa situação continue. Então eu não passo a mão na cabeça de drogado. Drogado tem que ser tratado. Isso se ele quiser, porque muitos não querem. Não é especificamente fulano ou beltrano, é a droga de maneira geral.
iG: Diria que polêmica é seu sobrenome?
Aguinaldo Silva:
 Eu não gosto da polêmica pela polêmica, mas de provocar. Que as pessoas reajam. Ao invés de colocar no Twitter “Hoje acordei e estava sem vontade de trabalhar” a primeira coisa que faço de manhã é ler os jornais. Tanto que reproduzo um monte de coisas que eu quero que as pessoas leiam. Notícias que eu acho que são interessantes. Agora estou evitando um pouco esse assunto de política. Primeiro porque tem muito. É muito escândalo. Segundo porque é sempre uma coisa desagradável.
iG: Já taxaram seu comportamento como marketing pessoal.
Aguinaldo Silva: 
Eu sou uma pessoa supertímida. E o que eu faço, aquele personagem lá, não sou eu na verdade. Criei uma persona que é quem faz todo esse circo, que é o novelista. Mas não faço marketing pessoal. Na verdade o que faço é jornalismo. Porque sempre fui jornalista. Entrei na televisão por acaso. Nunca esteve nas minhas pretensões escrever novela, por exemplo. Aconteceu porque aconteceu. Então até hoje me sinto jornalista. Para você ter uma ideia, todo ano eu pago a anuidade da ABI (Associação Brasileira de Imprensa). E já não sou da associação de roteiristas. Nessa nunca me interessei em entrar.
Foto: George Magaraia
Sobre sexo: "Digamos que eu tenha - vou usar uma palavra engraçada – clientes. Os quais atendo eventualmente".
iG: Qual foi o momento mais difícil da sua carreira?
Aguinaldo Silva:
 Eu tive uma novela que sofreu um ataque cerrado, “Suave Veneno”, lançada numa época em que havia um fenômeno na TV brasileira que era o Ratinho e, por causa disso, a novela sofreu muito com a concorrência. Era uma tensão muito grande. A novela das oito podia perder, coisa que nunca tinha acontecido. E perder para o Ratinho, o que era ainda pior (risos). Mas mais tenso ainda foi “Duas Caras”, por incrível que pareça. Novela que deu mais de 40 pontos e hoje em dia todo mundo concorda que foi um sucesso, mas foi quando pintou essa coisa da classificação por faixa etária. Havia uma pressão muito grande contra a novela vinda de Brasília por causa da dança da Flávia Alessandra e do cabaré (a atriz interpretava a personagem Alzira, uma dançarina que finge ser enfermeira, escondendo sua profissão do marido). Venho do tempo da censura e percebi, de repente, que a censura fazia um jogo limpo. Dizia: “Isso não pode”. E cortava. Agora não. Nós temos uma “não censura” que diz assim: “Ou você para de botar isso ou a gente passa a sua novela para meia-noite”. Isso é muito pior porque não é um jogo limpo. É uma ameaça. A culpa é sua. Mas por quê? “Porque nós recebemos cartas de telespectadores reclamando”. Mas quantas cartas vocês recebem? Porque nós sabemos que são 50 milhões de telespectadores, mas eles não dizem. Digamos que são 500? Não é nada.
iG: Você ficou detido por 70 dias em 1968 depois que a edição do livro “Diários de Che Guevara”, no qual assinava o prefácio, foi apreendida. Sofreu maus tratos?
Aguinaldo Silva:
 Não sofri maus tratos, mas a própria prisão pela razão tão subjetiva já é um mau trato. Ser retirado da sua vida normal, jogado numa cela e simplesmente desaparecer... Porque uma coisa é você ser preso legalmente e outra é ser preso ilegalmente e sumir. Ninguém dizia aonde eu estava. Como se eu não estivesse em lugar nenhum, mas eu estava. Isso foi de uma violência tremenda que me marcou profundamente. Me lembro que quando saí meus colegas jornalistas fizeram um jantar pra mim e eu estava tão traumatizado - porque em 70 dias só podia comer com colher - que quando fui pegar nos talheres não conseguia comer e comecei a tremer. Quando eu saí minha casa havia sido saqueada e levaram tudo. O tempo foi se passando e eu trancafiado... Enfim... Mas nunca pedi indenização ao governo e nem penso em pedir. Jamais pedirei.
iG: Como gostaria de ser lembrado?
Aguinaldo Silva:
 Como uma pessoa que sempre foi muito fiel ao que pensa e nunca se afastou disso. Sou uma pessoa de convicções e não abro mão delas.