Divisão de tarefas, questões financeiras, discordância com a
educação dos filhos e a sogra são os principais motivos de brigas entre marido
e mulher, afirma especialista Ana Canosa.
“Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. O
ditado popular é contrariado pela psicóloga e terapeuta sexual Ana Canosa, um
tipo de Supernanny dos casados.
Titular do quadro “Família Pede Socorro”, que estreou no
programa “Eliana” (SBT), no último dia 15, ela não só interfere, como também
soluciona conflitos conjugais. Aliás, a especialista diz que as divergências
entre os casais estão geralmente baseadas na ideia equivocada de felicidade
contínua.
“Os casais precisam entender que a felicidade é transitória,
e não uma constante nas relações”, alerta Ana. Isso não quer dizer que ser
infeliz ao lado de alguém é normal e aceitável, mas aprender a lidar com altos
e baixos – de alegria, de tesão e de cumplicidade – é requisito básico para
quem sonha em subir ao altar.
Logo na estreia de seu quadro na televisão, Ana teve um
conflito complicado para resolver. De um lado, havia um marido furioso com as
interferências da sogra em seu casamento. Do outro, uma mulher magoada com as
traições do companheiro.
Para solucionar o drama conjugal, a conciliadora fez um
tratamento de choque. A dupla em crise foi obrigada a vivenciar uma suposta
audiência de separação num “tribunal”, que foi montado no estúdio do programa.
Na frente de um juiz, interpretado por um ator, eles
acabaram percebendo que a relação merecia mais uma chance, agora sem brigas.
Mas de acordo com a conciliadora, os casais estão cada vez
menos dispostos a dar essa segunda chance quando um casamento entra em crise.
“As pessoas estão muito autônomas e se acham autossuficientes, investem menos
na relação em longo prazo, desistem logo”, ressalta.
Por que os casais brigam tanto?
Os motivos que levam marido e mulher a brigar são
diferentes, segundo Ana. Elas ficam totalmente desestimuladas quando seus pares
não ajudam nas tarefas domésticas ou na educação dos filhos.
Essa não divisão
de tarefas é interpretada como pouco amor e falta de consideração. “Muitas
reclamam também da falta de intimidade, e não estamos falando de sexo, mas de
conversar sobre os mais variados assuntos”, explica.
Nas queixas deles, a falta de intimidade se refere mesmo à
falta de sexo. Os maridos reclamam ainda que têm menos relações sexuais do que
gostariam e que o desejo sexual feminino é geralmente baixo, muito diferente da
época de namoro. Como era de se esperar, a insatisfação combinada dos dois
lados gera infelicidade e muitas brigas.
Casamento sem sexo
Por vários motivos a frequência sexual dos casais costuma
diminuir com o tempo, sem que isso signifique necessariamente falta de amor entre
os parceiros. “O amor é um sentimento que nasce na relação com o outro, que
visa o bem-estar, o bem-querer. Já o sexo é uma energia curiosa e criativa, que
nasce no próprio sujeito, independe do outro”, esclarece Ana.
Para homens e mulheres, a conquista é uma fase extremamente
estimulante do jogo sensual, e obviamente, depois de alguns anos de
convivência, a segurança elimina qualquer possibilidade de sentir “frio na
barriga”. Vale a pena abrir mão do casamento para viver outras emoções?
Casamentos mais liberais resolvem este problema? Investir em recursos para
reacender o interesse mútuo é uma saída? Tudo isso deve ser discutido caso a
caso, não existe uma fórmula única para todos os casais. Pior é ignorar.
Crise dos sete anos antecipada
A já citada falta de paciência dos casais com os conflitos
tem antecipado a conhecida "crise dos sete anos". Com tantos
compromissos e estresse da vida moderna, lidar com mais um problema é a última
coisa que qualquer pessoa deseja ao chegar em casa. Ana conta que hoje vários
casamentos acabam muito antes deste tempo – a crise dos sete anos deveria
sinalizar o primeiro grande conflito a ser superado, e não o ponto final. A
expert até lista os principais detonadores das brigas. Em ordem aleatória, são
eles: a divisão de tarefas, as questões financeiras, a falta de comunicação, a
discordância com a educação dos filhos e os problemas com a família do outro.
Dentre os problemas familiares, se destacam os conflitos com
a sogra. Mas quanto a isso, a conciliadora tem uma opinião bem clara. “A sogra
só destrói o casamento se o filho (ou a filha) permitir. O filho deve ser o
primeiro a colocar limites na própria mãe, e depois a esposa também precisa
agir”, avisa.
Com relação aos filhos, a falta de estrutura psicológica de
muitos casais é percebida de forma mais clara com a chegada deles. E o que era
para ser motivo de alegria acaba provocando crises consecutivas. “Ter filho
dentro do casamento é um projeto que deve ser dos dois, um desejo do marido e
da mulher”, lembra a conciliadora. “Eles devem estar dispostos a abrir mão de
um modo de viver por outro. Quando o filho é um projeto individual, a estrutura
familiar tende a ser abalada”, completa Ana. O projeto de aumentar a família
também não deve acontecer por uma motivação errada, como a ideia de ‘salvar a
relação’. “É um erro gravíssimo”, adverte.
Final Feliz
Entre as três causas apontadas por Ana como principais
motivadoras da separação, só a violência parece ser incontornável. As outras
duas – a infidelidade e a sensação de não ser amado – podem ser resolvidas se o
casal estiver disposto a recuperar o casamento. “Se eles desejarem-se como
parceiros e enfrentarem os problemas juntos, bem como desfrutarem das
conquistas e dos prazeres, a somatória pode desencadear um belo ‘final feliz'”.
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