12 de jan. de 2011

O que realmente querem as mulheres?


Espaço para os filhos, para a casa, para o sucesso profissional, para o amor. Tudo embasado na ideia de ser soberana


Há uma história de autor desconhecido, que conta que um dia, distraído do caminho e perseguindo um animal, o rei Arthur foi pego caçando em terras vizinhas, crime cujo castigo era nada menos que a morte e apropriação das terras do invasor. Como Arthur reinava com justiça e era um jovem monarca muito querido e respeitado, foi-lhe poupada a vida. Em compensação, o vizinho incumbiu-lhe de, no prazo de um ano, trazer a resposta a uma pergunta que sempre o intrigara: o que realmente querem as mulheres? A história merece ser lida na íntegra, mas posso adiantar a resposta sem estragar o final: as mulheres querem ser soberanas de suas próprias vidas! Nesse intuito, toda mulher precisa travar suas batalhas contra sabotadores internos que deformam nossa imagem e autoestima. Ao longo da vida vamos acumulando pesos e falsas verdades inventadas por um olhar enviesado sobre si mesma.

Ser soberana não tem nada a ver com dominar nem vencer ninguém, é assunto interno e profundo, mesmo depois da revolução sexual. Desde muito cedo, à menina é oferecida menos autonomia para vencer desafios de alturas, águas, chutes e safanões – isso é mais parte da vida dos meninos, enquanto a gente ficava nas bonecas, panelinhas ou espelhos para mais tarde trocar pelas revistas, música, horas escrevendo em diários e agendas, e espelhos... Procurando a imagem do ideal da vez, descobrindo terríveis defeitos e deformações, revelando excessos e denunciando faltas, falhas e carências para gente carregar uma autoimagem torta e curtir frustrações por muitos e muitos anos. Até quando seremos escravas de uma forma que está fora para construir algo que deve nascer dentro, tamanho único, que só serve a você: a autoestima?

Primeiro a menina é a bonequinha da mamãe e do papai – no raio do olhar deles, sob a proteção deles, cuidada por eles, deles. Apesar das coisas estarem mudando, demora mais para a jovem andar de ônibus, sair, ou mesmo ficar em casa sozinha. Além das reais questões da violência na cidade, há um movimento natural de trazer a menina para junto dos pais, enquanto os meninos são mais estimulados a sair e vencer obstáculos. Quando adolesce, a garota deve seguir leis muito rígidas do grupo de pares, ou será condenada sem clemência à lama e à solidão. Deusmelivre ser diferente e destacar-se por alguma particularidade – o desejo é misturar-se e para isso é preciso ser igual. Nessa fase, o grupo é que manda e dita as regras, só que a gente nem sempre percebe.

Então, vem o namorado, vira dono e a namorada gosta! Porque somos arrebatadas de paixão e encantamento por aquilo que causamos no outro e tudo é tão novo e lindo e intenso. Soma-se os modelos idealizados dos nossos pais, dos contos de fada e de Hollywood, e de tantas lindas cerimônias de casamento, onde a bela noiva, mais princesa do que nunca, é passada do braço do pai ao do noivo-príncipe; junta a inocência, a insegurança, o ciúme, os medos colhidos no espelho de antes. “Vai indo, indo... e iu”, como diz Reinaldo Moraes. Perdem-se os contornos, tudo fica no plural e as individualidades não cabem nesse modelo amoroso.

Quando chegam os filhos, perde-se até a condição de mulher, às vezes, para dar lugar a esse imenso papel de mãe. O tempo, o sono e os programas giram em torno das crianças. Como conciliar a carreira, o romance e o sexo com o marido, as amigas de infância, as novas amizades e ainda o supermercado, pediatra, ortodontista, autoestima, confiança, crescimento pessoal, manicure e o cardápio da semana? E a gente ainda quer ser soberana, sem perceber o quanto já reinamos.

Mulher é multimídia. Dá conta de tudo isso e mais um pouco, se precisar. E faz tudo mais feliz se sentir que o homem amado valoriza seu empenho e reconhece seu esforço – algumas fazem jornadas duplas, outras abriram mão de suas carreiras para dedicar-se aos filhos (dos dois), outras choram escondidas atrás do computador por terem perdido a festa na escola por conta do trabalho. Tudo cabe se pudermos construir uma vida ressonante com espaço para os filhos, para a casa, o sucesso profissional e um amor gozoso. Ah, e que a gente possa virar bruxa, de vez em quando, que logo passa. Onde as escolhas da vida ecoem os quereres da alma. Isso nos faz soberanas e felizes.

Do IG