Artigo publicado originalmente em 10 de março de 2008, pelo jornalista lavradense Jailton Cordeiro(aqui).
Era uma vez um reino onde as pessoas eram muito pobres. Para viver com um pouco
mais de dignidade todas precisavam umas das outras. A ajuda mútua tornava estas
pessoas muito próximas. Muitas delas, eram inclusive, da mesma família ou de
duas ou três famílias diferentes.
Os moradores deste reino pobre viviam de certa forma períodos de felicidades e
de amizade sincera. Até porque a falta de emprego, de trabalho e de
oportunidade faziam com que eles se unissem para juntos buscarem uma saída para
os problemas que os afligia.
Jornalista Jailton Cordeiro |
E assim mesmo na pobreza e na falta de perspectivas se uniam e se tornavam mais fortes. Tudo se resolvia e com uma ajuda aqui outra ali, os dias se passavam menos dolorosos.
Mas de quatro em quatro anos a harmonia era quebrada por naquela região alegre, mas esquecida pelos políticos. Tudo que aqueles súditos construíam juntos destruíam em poucos dias.
Era a época da eleição municipal. Era a hora de escolher de que lado ficar. Os súditos tinham se que dividir entre Cupins, Bicudos e Bacuraus.
E para cada uma das divisões ou “partidos” era escolhida uma cor. O Azul, o Amarelo e o Vermelho eram as cores mais comuns. Era a hora de partir para a guerra e deixar as amizades de lado em nome da política, diga-se politicagem.
E como num campo de batalha nenhum guerrilheiro podia invadir o terreno um do outro. Cupins, Bicudos e Bacuraus se tornavam inimigos ferrenhos mesmo que fossem por alguns dias.
E naquele reino em guerra era proibido qualquer tipo de contato com o adversário. Era proibido qualquer cumprimento mesmo sabendo que aquela pessoa que estava do outro lado vivia diariamente ali numa vida sofrida e marcada pela falta de oportunidades que o sistema mantido pelos políticos a qual eles defendem criou.
Um simples “bom dia” de um Bicudo a um Cupim ou vice e versa era encarado como traição e o súdito que quebrasse tal regra poderia ser banido do reino. E assim se passavam os dias. Bicudos, Cupins e Bacuraus em pé de guerra. Insultos, mentiras, fofocas e até a violência davam o tom naquele reino.
Não lembravam os pobres súditos que os adversários daquela eleição foram os amigos de eleições passadas e numa eleição futura poderão estar juntos novamente.
Porque na política funciona assim. Os políticos se agridem, trocam insultos pessoais de todas as formas sem pensar no beneficio da coletividade, mas com objetivo único de manter as “teias do poder” e sustentar os esquemas que criaram.
Os dias se passavam naquele reino sem que Bicudos, Cupins e Bacuraus percebessem o quanto é ridículo trocar as amizades por uma disputa política.
Era chegada a grande hora. Era o dia de escolher qual legião iria governar o reino por quatro anos. Cupins, Bacuraus e Bicudos saiam em massa de seus quartéis para eleger o Rei.
Eleito quem iria ficar no trono de Itacoatiara o clima naquela região voltava a normalidade. Cupins, Bacuraus e Bicudos vencidos ou derrotados voltavam a ter uma vida normal.
Os políticos desapareciam, as promessas não eram cumpridas e aqueles súditos voltavam para os seus problemas. Falta de emprego, de segurança, de educação, de saúde e de perspectivas. Era preciso se unir novamente ao vizinho, ao parente, para tornar a vida mais fácil.
E assim o tempo naquele reino foi passando e a experiência e as desilusões ensinaram a Bicudos, Cupins e Bacuraus que todos tem direito a escolher o seu lado na política sem que haja necessidade de se perder a amizade. E assim todos foram felizes para sempre.
Jailton Cordeiro