Por Fernando Vasconcelos*
A cidade de Pedra Lavrada, incrustada na região do Curimataú paraibano sempre se destacou na produção de minérios. Apesar de algumas pessoas de lá se destacarem na política, no ensino e no direito (Heronides e Eugênio Vasconcelos, Tinan, Flávio Colaço, Paulo Bezerra, Roberson Vasconcelos, Cirilo Cordeiro e tantos outros), nunca os lavradenses imaginaram um feito do porte desse conseguido por Rossana Dias Costa, de 17 anos, que venceu a “Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro”, promovida pela Presidência da República.
Rossana concorreu na categoria “Artigo Opinativo”, com o texto “Desenvolvimento?”. Ela recebeu a medalha de ouro do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no auditório do Museu Nacional, em Brasília. A estudante é de Pedra Lavrada, tem 17 anos, está grávida de sete meses e cursa o terceiro ano do ensino médio na Escola Graciliano Fontini Lordão, que funciona em um prédio improvisado. Uma outra paraibana, também do Curimataú, Isabel da Silva Rodrigues, da Escola Estadual Professor Lordão, da cidade de Picuí, quase chegava lá...
Quando li a notícia, perguntei a mim mesmo: “Meu Deus, será a força do minério?”. Só quem é proveniente daquela região sabe das dificuldades de ordem natural, financeira e educacional para um estudante pobre vencer na vida! Mas, vencer uma olimpíada cultural, concorrendo com sete milhões de estudantes de todo o país? Por essa, como diria o saudoso Heronides Albino, meu tio, nem Nossa Senhora da Luz, padroeira da cidade, esperava.
A olimpíada é destinada a alunos e professores das escolas públicas estaduais, municipais e federais e oferece proposta de formação para os educadores, por intermédio dos materiais pedagógicos e pelos encontros para reflexão sobre as práticas educativas, objetivando aprimorar o processo de escrita dos alunos. O tema adotado na edição deste ano foi ‘O Lugar Onde Vivo’ e possibilitou ao aluno resgatar histórias e estreitar vínculos com a comunidade, aprofundando o conhecimento com a realidade.
Rossana concorreu com “Desenvolvimento?”, orientada pela professora Romana Lúcia Meira Sampaio. No artigo, a vencedora ressalta: “No Brasil, a cada dia tornou-se comum a ocorrência de problemas ambientais de várias ordens. Na Cidade de Pedra Lavrada, no interior da Paraíba, ultimamente não tem sido diferente. No momento, a maior preocupação dos habitantes é com relação à empresa mineradora “Elizabeth”, que há quase uma década, vem explorando as riquezas minerais do município, principalmente o cianeto, matéria-prima utilizada na fabricação da cerâmica e da porcelana”. Para a vencedora, “a instalação da fábrica para a extração das pedras brutas resultou numa série de problemas ao meio ambiente, como desmatamento de uma enorme área de vegetação nativa, fuga de animais e aves silvestres, poluição de açudes, do solo e do ar”. E arremata:
“Ao meu ver, não há necessidade de uma empresa destruir tanto nossas riquezas naturais, além da nossa história. Se não agirmos enquanto é tempo, a Serra dos Albinos e o Picoto, nossos patrimônios naturais mais belos, serão destruídos”. Acho que o meu amigo Geraldo Maciel, que é de Nova Palmeira e faleceu prematuramente, está dando risadas no túmulo com o feito da menina do Curimataú.
* Fernando Vasconcelos é lavradense, Escritor, promotor de Justiça aposentado, mestre e doutor em Direito Civil pela UFPE. É professor da UFPB e do UNIPÊ.
Fonte: portalbip.com
Para que os estudantes não fiquem com dúvidas, o vozdepedra.com esclarece que, segundo a divisão regional oficial do IBGE, Pedra Lavrada está na microrregião do Seridó Oriental. Embora muitos moradores da região adotem como pertencentes, do ponto de vista cultural e da identidade, ao Curimataú.