Nem todo mundo gosta de Coca-Cola. Eu, por exemplo, passo longe. E estou em boa companhia. O grande José Claudio me mandou carta sobre artigo que escrevi ("Os piores alimentos de todos os tempos"), onde a coca-cola está em 2º lugar, perdendo só para a coca diet. Diz o pintor: "Quando era interno no Marista, numa saída semanal dos internos para Ponte d'Uchoa, passávamos a tarde no antigo Colégio São Luiz - que tinha um grande campo de futebol profissional. E vi, quando esperávamos o bonde na esquina da (então rua) Conde da Boa Vista com Hospício, a pintura de uma enorme garrafa de Coca-Cola na parede de uma mercearia existente, ali onde hoje é o edifício Suape. Eu até pensava que era proibida para menores de 18 anos, como a cerveja.Tomei e não gostei ... parecia purgante". Mostrei a Jose Paulo (que nunca bebeu nada com álcool), e ele disse que era injustiça. Que, depois dos sucos de mangaba, cajá e de água de coco, bem que a Coca-Cola deveria receber um Premio Nobel. Seja como for, lembro que, no início, ela era apenas remédio. Mas como tudo começou mesmo? Eis a questão.
No quintal de sua casa em Atlanta (Geórgia, EUA), o farmacêutico e militar aposentado, John Styth Pemberton, passava o tempo inventando fórmulas complicadas, capazes de curar "todos os males do corpo e da alma": para doenças do fígado (Triplex Pillole) e do pulmão (Gingerina), afinar o sangue (Styllinger) ou escurecer os cabelos (Regina Indiana). Em março de 1885, foi a vez de um tônico reconstituinte contra "enjoo, ressaca, cansaço, exaustão física e mental", feito a partir de uma mistura de ingredientes que vieram de longe: Coca (do Peru e da Bolívia), com folhas que eram usadas pelos nativos como estimulante, além de pequena quantidade de cocaína; e Cola (da África), cuja noz é rica em cafeína e teobromina, empregada para combater fadiga e sede. Não foi original na escolha desses ingredientes, posto já terem sido usados (embora com proporções diferentes) num xarope produzido na Córsega (França) - o Vin Mariani. Na esperança de que viesse a ser sua mais importante invenção, ao reproduzir no rótulo o tipo de bebida e sua procedência, deu seu próprio nome ao produto - Pemberton's French Wine Coca.
Por esse tempo, tratava-se ainda de um xarope escuro, grosso e muito amargo. Insatisfeito, Pemberton continuou acrescentando novos ingredientes à receita original, como ácido cítrico e essências de frutas. Mais tarde, com a colaboração do amigo (e também aposentado) Frank Robinson, patenteou a fórmula; trocou o nome para Coca-Cola (inspirado nos seus principais ingredientes); criou logotipo, já com as letras inclinadas que têm hoje; além de uma embalagem para atacado, em barris de madeira (antes usados para armazenar uísque) pintados de vermelho - mesma cor que viria, depois, a ser usada nos rótulos do produto. Segundo anúncio no The Atlanta Journal, era "Coca-Cola! Delicious! Refreshing! Exulareting! Invigorating!" (Coca-Cola! Deliciosa! Refrescante! Fantástica! Revigorante"). O tônico de Pemberton passou então a ser vendido na Jacob's Pharmacy, ao preço de 5 cents o copo, puro ou misturado com água (natural ou gasosa). Mas não foi um início economicamente promissor. Em média, eram vendidas por dia apenas 9 doses. Por todo um ano, apenas 94 litros. Faturamento de 50 dólares, contra 74 aplicados nos gastos com propaganda. Em 1891, doente e quase falido, o pobre Pemberton vendeu sua fórmula a outro farmacêutico, Asa Griggs Candler, por 2.300 dólares. Sem nem desconfiar que estava fazendo o pior negócio de sua vida.
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