Cantora celebra três décadas de carreira, com um DVD em que pontua suas principais referências nordestinas
Em março de 2010 Elba Ramalho reuniu mais de 100 mil pessoas na praça do Marco Zero, centro histórico do Recife, para comemorar 30 anos de carreira e gravar um DVD/CD ao vivo. O número redondo era meramente simbólico, já que a cantora lançou o primeiro álbum, Ave de Prata, em 1979, e iniciou as atividades artísticas, no teatro antes da música, bem antes. Nomes fundamentais na história artística de Elba, que completa 60 anos em agosto, compareceram ao show no Recife, entre eles Zé Ramalho e Geraldo Azevedo, que muito ensinaram de música a ela. Lenine, Chico César, Alcione e o maestro Spok também marcaram presença na festa. Nos shows que Elba traz a São Paulo a partir de hoje não vai ser possível contar com nenhum desses convidados, mas a celebração continua.
Naturalmente, há uma grande diferença entre cantar para uma multidão e interpretar o mesmo repertório na dimensão reduzida de um teatro. Mas Elba é escolada em dominar qualquer tipo de plateia, fazendo algumas mudanças no roteiro do show. "O público de São Paulo é sempre muito receptivo a tudo", observa. Clássicos de seu repertório, como Leão do Norte (Lenine/Paulo César Pinheiro), Chão de Giz (Zé Ramalho) e De Volta pro Aconchego (Dominguinhos/Nando Cordel) batem ponto.
"Mas também vou cantar Canção da Despedida (Geraldo Azevedo/Geraldo Vandré) e algumas músicas de Chico Buarque, que não estão no DVD", diz a cantora. "A gente sempre inventa, né? É uma história longa, de 30 anos, então tem muita coisa lá, esquecida, que a gente às vezes lembra e quer fazer. Mas vou tentar manter algumas coisas que são bacanas e estão no DVD. Acho que as pessoas, mesmo sentadas num teatro, vão esperando essa verve, essa alegria que tem no meu trabalho também. O público vai sabendo que vou cantar forró e gosta de cantar junto."
Referência nordestina. Nessas três décadas, marcadas por muitos êxitos populares, muita água rolou na trajetória de Elba, com passagem por algumas gravadoras, mudanças constantes no mercado, etc. Mas o que fica bem claro - e confirmado no registro do show repleto de baião, xaxado, frevo, ciranda, coco, toada - é a firmeza com que a cantora e atriz paraibana se mantém ligada às origens nordestinas e seu manancial de riquezas musicais. "Como intérprete, elejo a canção mais bonita", diz ela no DVD.
Em tempos idos, ela já gravou discos cantando reggae, pop latino e música francesa, mas reatou os laços com o Nordeste num dos melhores álbuns de sua carreira, Leão do Norte (1996), e dali seguiu no mesmo veio, sem erro. Como Pernambuco é retratado na canção, em que mistura os ritmos frevo, caboclinho e maracatu, ela é uma espécie de "Leoa do Norte", síntese contemporânea e bandeira de uma identidade cultural expandida entre a Bahia de Carlinhos Brown e o Maranhão de Zeca Baleiro.
"Acho que as incursões dos artistas por outras coisas vêm de forma natural. A gente se sente mais livre para criar, para ousar, para conhecer outros compositores, independentemente dos estilos musicais", diz. "Mas essa coisa original que tem dentro da gente, que vem de uma cultura tão forte como a do Nordeste, nos mantém muito ligada a ela. Mesmo que a gente vá pro Caribe e cante uma salsa, ou vá para o lado do jazz e cante um blues, a gente acaba sempre se encontrando com Luiz Gonzaga em algum ponto. Por mais variante que tenha no meu trabalho, o público me tem como referência nordestina."
Na época pré-Leão do Norte, a gravadora queria que ela atingisse outro tipo de público enveredando pelo romantismo, mas não aquele que há no Dominguinhos de Gostoso Demais, por exemplo. "Achei então que era hora de voltar àquilo que tinha me dado régua e compasso." A propósito, ela está com um CD novo já gravado, previsto para sair no segundo semestre. Chama-se Forró Brasileiro e tem uma maioria de canções inéditas.