18 de jul. de 2011

ESSA SÁTIRA CABE A PEDRA LAVRADA?

GREGÓRIO DE MATOS (Poema Satírico)

Que falta nesta cidade?................Verdade

Que mais por sua desonra?...........Honra

Falta mais que se lhe ponha..........Vergonha.

O demo a viver se exponha,

Por mais que a fama a exalta,

numa cidade, onde falta

Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio

Quem causa tal perdição?.............Ambição

E o maior desta loucura?...............Usura.

Notável desventura

de um povo néscio, e sandeu,

que não sabe, que o perdeu

Negócio, Ambição, Usura.

(...)

E que justiça a resguarda?.............Bastarda

É grátis distribuída?......................Vendida

Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa,

o que El-Rei nos dá de graça,

que anda a justiça na praça

Bastarda, Vendida, Injusta.

(...)

E nos frades há manqueiras?.........Freiras

Em que ocupam os serões?............Sermões

Não se ocupam em disputas?.........Putas.

Com palavras dissolutas

me concluís na verdade,

que as lidas todas de um Frade

são Freiras, Sermões, e Putas.

A Câmara não acode?...................Não pode

Pois não tem todo o poder?...........Não quer

É que o governo a convence?........Não vence.

Que haverá que tal pense,

que uma Câmara tão nobre

por ver-se mísera, e pobre Não pode, não quer, não vence.

Conforme o prometido eis aí um poema satírico do grande poeta baiano Gregório de Matos, o mais representativo poeta do Barroco brasileiro. A função principal da sátira, é a arma de denúncia, de crítica a valores e comportamentos prescritos pela sociedade, que se busca derrubar, no intuito do estabelecimento de uma nova ordem. Vê-se, pois, que se trata de um instrumento de denúncia e uma operação que desmascara nossos defeitos individuais e sociais.

Gregório de Matos foi, sem dúvida, uma voz forte que denunciava os desmandos da sociedade e governantes da época, através de suas sátiras.

da coluna do Alcides Martins - http://cuitepbonline.blogspot.com/