7 de jun. de 2011

Engenheiro afirma que transposição minimiza a reconstrução de Camará

Segundo Newton Marinho, Transposição do Rio São Francisco será a garantia permanente de recursos hídricos para os municípios beneficiados por Camará

O engenheiro agrônomo Newton Marinho Coelho enviou artigo ao WSCOM Online contestando a necessidade da reconstrução da Barragem de Camará pelo Governo do Estado. Segundo o técnico, que também é ex-presidente da Emepa, ex-secretário de Estado do Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca e diretor técnico do Ibama, o Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional será a garantia permanente de recursos hídricos não só para os municípios beneficiados por Camará, mas para toda a Paraíba.

Em gráficos, ele apresenta a topografia em favor da distribuição das águas do São Francisco para as regiões do Brejo e Curimataú paraibano.

Confira o artigo abaixo na íntegra.

Sobre a reconstrução de Camará

No dia 30 de maio de 2011 aqui no WSCOM em matéria enviada pela assessoria do Governo do Estado, um dos subtítulos destacava: “Camará vai atender mais de 20 municípios”.

Estranho, muito estranho. Talvez o Governo não tenha analisado o problema pelo prisma da atualidade. Um dos fortes argumentos usados por aqueles que lutaram pela transposição do Rio São Francisco (hoje integração de bacias) foi à garantia da oferta de água. Ou seja: água sem depender do regime pluviométrico local. É exatamente o que Camará não tem, portanto se enquadra na área do paliativo. Essa vulnerabilidade inibe totalmente os investimentos produtivos que sejam públicos ou privados na região.

Em plena execução, as obras da transposição embora em marcha lenta prosseguem e de acordo com dados do governo federal em aproximadamente 18 meses teremos água em caráter permanente e na quantidade necessária, independente que chova ou não, provenientes do eixo leste, a serem acumuladas e renovadas no açude de Boqueirão.

Plano estratégico de distribuição racional das águas
 do São Francisco nas regiões do Brejo
 e Curimataú (principais municípios)
(Crédito: Newton Marinho)

A Paraíba tem uma condição impar no que se refere a sua topografia em favor da distribuição das águas do São Francisco para as regiões do Brejo e Curimataú. O município de Montadas tem uma altitude de 713m e fica a 45 Km de Boqueirão. A diferença de altitude de Boqueirão para montadas é de 358m. Com um único bombeamento com uma única estação baixadora de energia que ficaria bem mais barata, pois seria abastecida diretamente pela CHESF sem a intermediação da Energisa, a água chegaria a Montadas e de lá pode fluir por gravidade para todos os municípios do Brejo e do Curimataú sem exceção.

Camará continuará sendo um paliativo, pois com apenas um ano de estiagem na região leva todas as cidades (vinte municípios segundo a mesma nota do governo) ao colapso, portanto a mercê do famigerado carro pipa.

As adutoras que partirão de Camará (de elevado custo) ficarão perdidas igualmente ao dinheiro empregado.

No antigo planejamento de Camará (que também era um paliativo)a barragem abasteceria apenas 10 municípios caso chovesse normalmente na região, portanto com grandes interrogações quanto a segurança hídrica. Alias, poderia até se justificar a obra, pois na época tinha bispo em greve de fome na Bahia, índios dançando o toré em Cabrobró e desordeiros contratados para dissiparem as audiências públicas da transposição em Salvador, Aracaju e Maceió, tudo pela não execução da obra da transposição o que tornava esse nosso sonho quase impossível.
Mas hoje as coisas estão a nosso favor e o que a Paraíba e o nordeste necessitavam (água) está bem aí, há poucos dias. Água em caráter definitivo.

Gráfico das cotas por municipio que mostra a evolução do
desnivel favoravel ao fluxo da agua por gravidade à toda
região do Brejo e Curimataú  
 
(Crédito: Newton Marinho)
Por que gastar dinheiro juntando gotas de água na Paraíba? 26.500.000 m³ volume de acumulação de Camará não atende a uma população nem de 160.000 habitantes em 10 municípios como anteriormente foi planejada e muito menos agora com mais dez municípios. Segundo a Cagepa são gastos de 150 a 200 litros de água por habitante dia. Pegando a estimativa menor e a ela se somando as perdas por evaporação serão gastos em um único ano mais de 16.000.000 m³. O saldo do volume de água não dá nem mais para um ano de abastecimento. Que segurança é essa?

Seria ou será muita ingenuidade do governo federal liberar vultuosos recursos para o governo do estado juntar água duvidosa, ignorando a água efetiva que o governo federal está disponibilizando aqui mesmo na Paraíba.

Com o dinheiro a ser gasto na barragem paliativa de Camará e nas também paliativas adutoras, melhor seria partir para a solução definitiva aproveitando aquilo que a natureza nos está oferecendo de mão beijada que é o privilegio topográfico favorável ao abastecimento não só de uma parte da região, mas de todo o Brejo e Curimataú com um atendimento garantido definitivamente a mais de 500.000 habitantes.


Newton Marinho
newton.coelho@bol.com.br
Ângelo Medeiros
WSCOM Online