Além de enfrentarem o fato de as precipitações ocorrerem de maneira irregular, e em muitos casos, com níveis abaixo da normalidade, os municípios do semiárido paraibano convivem com o problema de seus mananciais perderem diariamente bastante água através do processo da evaporação. A chuva que cai na região é muito menor do que a água que evapora. Enquanto em muitas localidades o nível de precipitação anual não chega a 500 milímetros, a evaporação pode representar até 3.000 milímetros anualmente. Na Paraíba, 21 municípios estão nessa situação.
Como não é possível intervir nas condições climáticas, é preciso aprender a conviver com elas. Uma das alternativas para se adaptar à situação, segundo a pesquisadora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) Soahd Rached, é a formulação de uma política pública para a construção de cada vez mais reservatórios fechados para evitar que a água suma.
“Eu não estou falando na construção de uma cisterna por casa, pois isso não seria suficiente para aproveitar as águas pluviais que escorrem ao longo do ano. Trata-se de aproveitar ao máximo a água que cai da chuva e que, devido às condições do clima e do solo, não consegue ser aprisionada”, ressalta a doutora em engenharia agrícola.
Ela cita que o caso de 21 municípios paraibanos, cujos níveis de precipitações históricas são inferiores a 500 milímetros por ano, ainda é mais preocupante. Neles, não se pode admitir o não aproveitamento das águas pluviais. Esses municípios, com exceção de Malta, no Sertão, estão inseridos no Cariri, no Curimataú e no Seridó. Outros municípios dos Estados do Rio Grande do Norte e de Pernambuco também apresentam essa mesma característica. “Nessas localidades, ainda existe o fato de muitos dos mananciais apresentaram alto teor de salinidade”, acrescenta.
As cinco localidades paraibanas onde a média pluvial apresenta menor índice por ano são: Cabaceiras (333,6 mm), Picuí (339,1 mm), Pedra Lavrada (359,4), Caraúbas (365,6) e Barra de Santa Rosa (369,7 mm), conforme dados da Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (Aesa).
“Esses municípios ainda possuem o agravante de sofrerem com a desertificação. A madeira é derrubada sem critérios para alimentar as indústrias cerâmicas. Grande parte dela termina servindo a Campina Grande”, cita. A pesquisadora diz que isso tem feito com que os solos desses municípios percam cada vez mais nutrientes, o que tem dificultado o reflorescimento da vegetação.
“Quando chove, a água cai diretamente no solo, sem que haja amortecimento, e isso causa um efeito bastante danoso ao meio ambiente”. Ela destaca que apesar de chamar a atenção para a situação desses 21 municípios, é preciso considerar que no Alto Sertão, por exemplo, onde se chove até mil milímetros por ano, a situação também é crítica e as altas temperaturas fazem com que as águas se evaporem com uma intensidade ainda maior.
A construção de reservatórios fechados, aproveitando o escoamento não só dos telhados das casas, mas também dos lajedos, seria a atitude mais correta, segundo a pesquisadora Soahd Rached, para que o abastecimento de água em época de estiagem seja assegurado no semiárido. Uma casa com um telhado medindo 50 metros quadrados, construída em um lugar onde chove em média 300 milímetros por ano, pode acumular no mínimo 15 mil litros de água, segundo seus cálculos.
Ela justifica que os reservatórios abertos, como açudes e barragens, chegam a perder entre 2 a 3 metros de seu volume de água somente pelo processo da evaporação. “A maioria dos reservatórios existentes nos municípios do Cariri, do Curimataú e do Seridó não é profunda, por isso quando chega o período de estiagem o que sobra é praticamente a lama. Com a construção de reservatórios fechados, a água não consegue se evaporar, já que bate na parte superior das cisternas e volta”, afirma.
Ela chega a propor inclusive a construção de canaletas ao longo do asfalto para que a água que escorre da chuva seja encaminhada para um grande reservatório. “Apesar dos detritos do asfalto, temos que considerar essa possibilidade. Por ser impermeável, o asfalto possui capacidade para juntar uma grande quantidade de água, que poderia ser armazenada e usada nas estiagens”, explica.
Município | Nível da chuva |
Cabaceiras | 333,6 mm |
Picuí | 339,1 mm |
Pedra Lavrada | 359,4 mm |
Caraúbas | 365,6 mm |
Barra de Santa Rosa | 369,7 mm |
São João do Cariri | 381,4 mm |
Pocinhos | 382,3 mm |
Soledade | 391,2 mm |
Algodão de Jandaíra | 396,6 mm |
Barra de Santana | 404,3 mm |
Casserengue | 413,8 mm |
Boa Vista | 416,3 mm |
Riacho de Santo Antônio | 422,0 mm |
Salgadinho | 435,8 mm |
Vista Serrana | 455,9 mm |
Barra de São Miguel | 464,0 mm |
Seridó | 465,3 mm |
Olivedos | 471,0 mm |
Gurjão | 485,5 mm |
Coxixola | 486,8 mm |
Desterro | 498,9 mm |
JORNAL DA PARAÍBA