Júlio Thompson aprendeu a criticar e a ser criticado.
"Antes ficava na defensiva"
APRENDIZADO
Júlio
Thompson aprendeu a criticar e a ser
criticado. "Antes ficava na
defensiva"
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Ninguém gosta de ser criticado. No ambiente de trabalho ou
em casa, as reações a uma crítica invariavelmente envolvem sentimentos pouco
nobres. A verdade é que poucos conseguem ver o lado bom dessa valiosa
ferramenta social sem antes ter de sublimar, a duras penas, a raiva e o rancor.
A aversão a uma avaliação desfavorável é tamanha que, nas empresas, por
exemplo, ela ganhou curiosos eufemismos como “feedback negativo”.
“Um dos grandes problemas da crítica é que, frequentemente,
quem está na posição de fazê-la não sabe fazer direito”, explica a psiquiatra
canadense Ilona Jerabek, especializada em comportamento humano e relações de
trabalho. No ambiente corporativo, chefes costumam abusar do poder a eles
atribuído, além de misturar diferenças pessoais com profissionais. Em casa,
frustrações acumuladas se manifestam por meio de críticas excessivamente duras
e muitas vezes desnecessárias.
“Mas como não podemos mudar os outros, temos que mudar a nós
mesmos para aprender a tirar o que há de bom nisso”, afirma Ilona. E há muito o
que mudar. Um estudo conduzido pela equipe do instituto canadense PsychTests
com três mil pessoas no primeiro trimestre de 2011 mostrou o quão despreparados
estamos para lidar com as críticas que recebemos no dia a dia. Um dos dados
mais reveladores é o de que incríveis 66% dos participantes admitiram que
remoem o “feedback negativo” sem necessariamente mudar de comportamento ou
conversar com quem deu o puxão de orelha.
Mais: 14% acham que quem critica o faz por inveja ou raiva;
29% acham que os comentários são feitos com o intuito de lesar e não ajudar.
Trinta e quatro por cento perdem a motivação para trabalhar quando são
avaliados desfavoravelmente e 41% já entraram em grandes discussões após ser
censurado pelo menos uma vez. A crítica acaba, assim, caindo em uma espécie de
limbo, onde não é aproveitada por ninguém. “Pelo contrário, ela só acirra
animosidades e compromete o rendimento das relações, sejam elas profissionais,
sejam pessoais”, diz Ilona.
Mas sair desse ciclo vicioso não é impossível. O carioca
Júlio Thompson, 37 anos, conseguiu. Responsável pelo treinamento de novos
funcionários de uma rede de franquias, ele tinha dificuldade para aceitar as
críticas de seus superiores quando começou a trabalhar na empresa, em 2006. “Eu
era muito ansioso e temia as avaliações negativas”, diz. “Quando elas vinham,
ficava na defensiva e reagia mal, achando que eram pessoais”, admite. Com o
tempo, porém, foi ganhando segurança e maturidade e passou a encarar os
comentários como oportunidades de melhorar. Depois de promovido, Thompson
também reaprendeu a fazer críticas construtivas e aproveitáveis para seus
subalternos.
“Ninguém quer ter um funcionário em cargo de chefia que tem
fama de destruir seu colaborador”, diz Julyana Felícia, psicóloga pós-graduada
em administração de empresas e gerente de recursos humanos. “Um supervisor
desses é um desastre para todos, principalmente para a companhia.” E quando a
crítica vem de quem está hierarquicamente abaixo? A mesma pesquisa mostrou que um
em cada cinco chefes não aceita “feedbacks negativos” de seus subalternos. Até
os gerentes já mostram dificuldade nessa área. “Funcionários insatisfeitos
tendem a comiserar entre si e o pequeno incômodo logo cresce, como uma bola de
neve”, alerta Ilona.
Fazendo eco ao mantra de muitos consultores de empresa, a
canadense repete que muitos talentos se demitem do chefe, e não da empresa.
“Até a mais dura das críticas pode e deve ser aproveitada”, explica o
neurocientista especializado em comportamento Marcello Árias Dias Danucalov.
“Na pior das hipóteses, ela expõe ao avaliado as intenções de quem fez o
comentário”, diz. E você, acha que sabe lidar bem com as críticas? Faça o teste
abaixo criado especialmente para a ISTOÉ pela PsychTests e descubra em qual perfil
você se enquadra.
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