Por Clodoaldo Melo
Se o Império foi um padrasto a República foi uma madrasta para o Nordeste. Há quem diga que como padrasto o Império foi severo e a República como madrasta foi avarenta e preconceituosa. O Império na beira do mar não queria sequer conhecer o interior do país e a República veio sempre atrelado aos interesses do Centro-Sul. A verdade é que nenhum nem outro buscaram uma solução para o semi-árido nordestino, pelo contrário, arrasaram o Nordeste que de região mais rica do país, no tempo do ciclo do açúcar, passou a ser a região problemática do Brasil.
Quando o presidente da República, Epitácio Pessoa, grande paraibano, em 1920, desenvolveu idéias e projetos para a construção das macro-barragens (grandes barragens) estratégicas para a região nordestina, buscando no exterior (Estados Unidos e Inglaterra), empresas com grandes experiências em matéria de construção de barragens de grande porte, para construí-las no Nordeste, o seu sucessor, o mineiro Artur Bernardes, concedeu o maior corte orçamentário da história da república paralisando por decreto obras que começariam a ser a redenção da região. O Artur foi de uma mediocridade tão grande que não enxergou e não ouviu os gritos de seus favelados no Vale do Jequitinhonha no norte de Minas Gerais, sua terra, que é uma das regiões mais pobre do mundo, com baixíssimos indicadores sociais e que faz parte do polígono das secas.
Dez anos se passaram sem nada ser feito para armazenar água no Nordeste e minorar o problema das secas e estiagens. Aí surgiu outro paraibano, José Américo de Almeida, filho de Areia, nomeado por Getúlio Vargas para o Ministério de Viação e Obras Públicas. Vargas era gaúcho e nem sabia que diabo era uma seca. Mas, era estadista e deu a seu Ministro "pano pras mangas" e à frente de seu Ministério, vários açudes foram construídos Nordeste afora entre eles: açude de Bodocongó e açude Velho (Campina Grande – PB), Coremas (Coremas - PB), Itans (Caicó - RN), Boqueirão de Piranhas (Riacho dos Cavalos - PB), Tribofe (Belém – PB), General Sampaio – CE, São Gonçalo – São Gonçalo – PB, açude José Américo (Santa Luzia – RN), etc. José Américo transformou o IFOCS no DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas que chegou a ser a maior "empreiteira" de obras da América Latina na sua gestão e tinha em seus quadros técnicos famosos tanto estrangeiros como brasileiros. Foram 300 açudes construídos em solo nordestino diretamente pelo DNOCS e mais 600 em convênio com os governos estaduais. O DNOCS que quase foi fechado por José Sarney, por Collor de Mello, por Itamar Franco e que recebeu o tiro de misericórdia no famigerado governo de FHC. Essas quatro malfadadas figuras políticas da República não dormiam com máquinas roncando e barrando água para os nordestinos beberem!
Depois de José Américo surge outro paraibano, Celso Furtado, ministro de Juscelino Kubistchek. Juntos criaram a SUDENE e o Banco do Nordeste – BNB e, reiniciaram a construção de grandes açudes no Nordeste, como: açude de Boqueirão (Boqueirão – PB) que abastece ainda hoje uma cidade com cerca de 400 mil habitantes e seu parque industrial, o açude de Orós – CE, etc. A SUDENE montou à época a mais completa equipe de estudos básicos da história da região. Foi fechada pelo político paraibano Cássio Cunha Lima.
Os militares surgidos em 1964, senhores republicanos de quatro costados, praticamente zeraram a construção de açudes no Nordeste. Depois de Juscelino Kubistchek tivemos a sorte de termos no governo do Estado os ex-governadores Wilson Braga que armazenou através das construções de açudes e barragens que os seus colegas de governos passados pelo Palácio da Redenção nos últimos noventa anos.
Com esse esboço quisemos mostrar que a República que seria a esperança do povo brasileiro não tem correspondido aos anseios da região nordestina. Já tivemos em plena vigência de secas o corte ou suspensão de obras essenciais a diminuição dos flagelos das secas, como a transposição do Rio São Francisco pela presidente Dilma Roussef, que certamente, diminuirá o sofrimento gerado pelas estiagens de imediato nas grandes cidades. No momento, não temos conhecimento de nenhum grande açude ou barragem sendo construído na região para evitar que o povo volte a sofrer pela falta d'água e as cidades do agreste e litoral serem inundadas pelas enchentes. De quatro em quatro anos, há inverno fortes com chuvas intermitentes como em 2011. Faltam barragens para se evitar que a água vá para o mar ou cause grandes prejuízos com inundações e mortes.
A República com sua miopia não enxerga que governar além de duplicar estradas, é armazenar água no Nordeste, evitando-se o êxodo rural e trazendo de volta os nordestinos espalhados pelo Brasil afora.
Entre o açude de Boqueirão e a barragem de Acauã cabe uma nova barragem. Vamos emendar os espelhos d'água. Cadê a barragem de Serra Branca em Pedra Lavrada que iria segurar todas as águas de parte do Curimataú e do Seridó Ocidental e, que seria exclusivamente usada para irrigação, pois as cidades de Soledade a Picui já são abastecidas por águas de Boqueirão ou do açude de Craubeirinha, de Picuí. O Curimataú é a única região do Estado que não tem um reservatório d'água considerável. As águas da região rumam para o estado do Rio Grande do Norte.
A República tem sido madrasta para o Nordeste.
DO A PALAVRA ONLINE