19 de set. de 2011

FRESCURAS: Axl Rose faz 4 páginas de pedidos para o camarim no Rock in Rio



Foto: Vicente SedaAmpliar
Ingrid Berger é responsável pelos camarins das 38 bandas que se apresentarão no Palco Mundo
Foto: Vicente SedaAmpliar
Ingrid Berger apontou Axl Rose como astro que dá mais trabalho no festival
Axl Rose foi e continua sendo o artista que dá mais trabalho. É a constatação de Ingrid Berger, coordenadora de backstage do Rock in Rio, cuja quarta edição brasileira começa neste fim de semana. A corrida vida no meio da produção é a paixão da senhora de olhos claros e sorriso fácil, responsável por atender aos pedidos mais extravagantes dos artistas que se apresentarão no festival. De 1991, a primeira edição em que atuou nos camarins como produtora da MTV, para cá, a grande mudança, segundo ela, é no cardápio dos astros. A “junk food” deu lugar, em boa parte dos camarins, aos alimentos orgânicos. Outra evolução se refere ao profissionalismo. Ficou mais fácil atender aos pedidos, que se tornaram menores e mais simples, com algumas exceções como o vocalista do Guns’n’Roses, banda que fecha o festival, no dia 2 de outubro, domingo.
Ingrid conta que as excentricidades das estrelas do rock, pop ou heavy metal diminuíram consideravelmente em um mundo musical menos romântico e mais profissional. A globalização também ajuda, conta a produtora, pois já não é difícil achar artigos importados nos shoppings e supermercados cariocas. A parte mais complicada é não poder prever o que acontecerá nos dia dos shows. “A gente tem todas as informações que são passadas anteriormente, o que o artista vai querer, o que vai comer, quantas toalhas, se tem alergia a alguma coisa... Mas quando chega o dia, pode mudar tudo. Tenho uma equipe grande, tem um cara que sai correndo para comprar o elefante branco que pediram em cima da hora. Tem camareira, passadeira, estoquista...”, afirma.






Águas vulcânicas

Problema, para Ingrid, tem nome. Ela lembra dos caprichos de Prince na segunda edição do Rock in Rio, em 1991, e também de Axl Rose que, de acordo com a produtora, pouco mudou em relação ao cantor de duas décadas atrás. “Já tive muito problema, o Axl é imprevisível, a gente nunca sabe o que ele quer. Em 91, foi o Prince que deu trabalho. Quando ele queria sair para comer em um restaurante, tinha de fechar tudo para ele comer sozinho. Há pessoas que querem águas vulcânicas, outras querem água de Fiji, milhões de toalhas, comidas específicas, um tem intolerância a glúten, o outro tem alergia a frutos do mar. Cada dia é uma gincana”, diz a produtora. “No Rock in Rio 2001, aquele pessoal mais jovem como Britney Spears deu trabalho também. Eram muitas exigências, muita segurança, nada podia”, continua. 

Ao responder sobre quem seria o mais chato da lista de artistas, ela não hesita. “Continua ganhando o Axl Rose. Ele sozinho tem quatro páginas de pedidos. É uma quantidade de coisas que não cabe nem dentro do lugar que ele vai ficar. Bebida, champagne só Cristal ou Krug, cerveja australiana Buddha Beer, uma cerveja tcheca que eu não acho de jeito nenhum. É uma gincana, saio com uma lista e tenho de achar”. Se não conseguir, a produtora avisa ao manager, não fala diretamente com artista.
Cerveja tcheca para o Axl
Questionada se ainda existe uma espécie de segregação no backstage, por exemplo, entre artistas brasileiros e grandes nomes internacionais, ela afirmou que não há uma separação específica em relação aos músicos locais.

“A segurança bloqueia tanto que eles nem veem quem está do lado. Mas houve alguns Rock in Riona Europa que foram fantásticos. Em 2006 e 2008, os artistas conversavam no lounge. O Sting conversando com o Colin Hay (Men at Work), o James Taylor batendo papo, foi muito legal. Já aqui vi, por exemplo, no dia em que o Neil Young tocou na última edição no Brasil, todos os artistas ficaram no palco para assistir. Entre eles também rola esse negócio de ídolo”, conta Ingrid que, apesar de não procurar por isso, desenvolveu uma amizade com alguns dos artistas. “Não faço só Rock in Rio, então acaba que acontece uma aproximação em algum momento. Sting é um, Chris Martin do Coldplay, Santana, o Jack Johnson veio tirar uma foto comigo, de vez em quando acontece uma amizade”, conta Ingrid.
O mantra de Santana

De um desses amigos partiu até ensinamento, com direito a mantra no aeroporto. O guitarrista Carlos Santana, em turnê pelo Brasil, trocou de lugar com a produtora, a quem passou a acalmar em uma situação adversa em Belo Horizonte, Minas Gerais. “Fui fazer uma turnê do Santana aqui no Brasil e quando chegamos em Belo Horizonte, mau tempo e ficamos cinco horas no aeroporto. Eu, desesperada, porque o show tinha hora, a gente no aeroporto sem previsão de sair, achando que não daria tempo. O Santana, impassível, falou: ‘Calma, vai dar certo, vai ter show, tudo vai acontecer’. Me deu até um mantra. Ele me ensinou, disse para passar para as minhas filhas, algo do tipo ‘relaxa que as coisas acontecem’. E realmente acontecem. Todos os shows a gente não sabe se vão acabar e acabam, sempre acabam bem”.
A paixão pela profissão parece genética. Apesar de reconhecer que uma vida em família é das coisas mais complicadas para uma produtora de grandes eventos, as duas filhas de Ingrid já enveredam pela mesma vertente. “Casamento é difícil, já fui casada, mas tenho uma filha mais velha que está na produção e a segunda já está como minha assistente. É uma vida sacrificada. Fico muito mais fora. Quando me perguntam aonde eu moro, nunca sei. Estou sempre andando por aí”.
IG