A energia vinha das arquibancadas e do gramado antes mesmo do apito inicial para Vasco e Ceará. Em forma de gritos da torcida, faixas erguidas pelos jogadores ou no círculo de oração formado pelos dois times no centro do campo, o pensamento ainda não passava por vitória ou derrota. Naquele momento, só importava dar força para o técnico cruz-maltino Ricardo Gomes, que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) no último domingo. No dia em que os médicos decidiram tirar a sedação do treinador e ele abriu os olhos, o triunfo não poderia ser de outro lado: 3 a 1 para o time da Colina, para a alegria dos 5.428 torcedores que foram apoiar a equipe e gritar o nome do treinador em São Januário.
O resultado poderia ter levado o Vasco à liderança do campeonato. Porém, a vitória do Corinthians por 3 a 2 sobre o Grêmio fez com o que o Timão permanecesse em primeiro lugar. Com 38 pontos, o Cruz-maltino está na segunda posição, mas ainda pode ser ultrapassado por Flamengo e São Paulo, que jogam na noite desta quarta-feira.
A derrota manteve o Ceará na 13ª colocação. No entanto, vitória do Santos sobre o Internacional pode levar o Vozão a perder uma posição na tabela.
Na 21ª rodada, o Vasco vai a Minas Gerais para enfrentar o América-MG, no domingo, às 16h, na Arena do Jacaré. No mesmo dia, às 18h, o Ceará receberá o Internacional no Presidente Vargas.
Vasco abusa de perder gols
A energia positiva em São Januário parecia ser o combustível do Vasco em campo. Mais dispostos a atacar, os donos da casa usaram todo o campo para dar trabalho à defesa do Ceará. Fosse com Eder Luis, Diego Souza ou Alecsandro, a bola estava sempre perto da área dos visitantes.
Os três, porém, abusaram do direito de perder gols no primeiro tempo. Em dois lances antes dos cinco minutos de jogo, Alecsandro deixou a bola passar para Eder Luis sair de frente para o gol e... chutar para fora. Em seguida, Eder acelerou pela direita, cruzou para a área e encontrou a cabeça de Alecsandro. Mas o goleiro Diego fez boa defesa.
Do outro lado, o Ceará jogava no contra-ataque. E Osvaldo aproveitava as falhas de marcação de Allan, lateral-direito reserva que substituiu Fagner, suspenso com terceiro cartão amarelo. A facilidade do atacante do Vozão era tanta que Dedé precisou mudar sua posição em campo para ajudar sempre que o adversário aparecia mais perto da área.
A principal jogada de Osvaldo, porém, terminou aos 16 do primeiro tempo, quando Marcelo Nicácio, para quem o atacante cruzava, saiu de campo com dores na coxa. Washington entrou em seu lugar, sem a mesma eficiência.
A partir de então, só deu Vasco, com boa participação de Márcio Careca, lateral-esquerdo que substituiu Jumar, também suspenso. Mas nem os bons cruzamentos, nem as cobranças de faltas de Juninho Pernambucano acharam quem pudesse balançar as redes. Mais uma vez, o ataque cruz-maltino errou muito na pontaria, com bolas para fora ou em cima do goleiro. Aos 41, Alecsandro fez sinal para o banco, e Cristóvão Borges, técnico interino, chamou Elton e Bernardo para o aquecimento. Sinal de mudança para um ataque ineficiente na etapa inicial.
Trocas eficientes no intervalo
Com dores no adutor da coxa esquerda, Alecsandro não voltou para o segundo tempo, assim como Juninho Pernambucano, que sentiu uma indisposição. Entraram Elton e Felippe Bastos. E o atacante precisou apenas de seis minutos para marcar o primeiro gol do Vasco. Após bela jogada de Eder Luis - que acelerou pela direita, driblou dois marcadores e cruzou para o meio da pequena área - Elton se antecipou à marcação e abriu o placar.
A partir daí, tudo ficou mais fácil para o Vasco. Após Thiago Humberto cobrar falta para o Ceará, Diego Souza puxou o contra-ataque e lançou Márcio Careca. Sem ser incomodado pela marcação do Ceará, o lateral cruzou para Eder Luis, que, também sozinho, recebeu na entrada da pequena área para chutar de primeira e anotar o segundo gol cruz-maltino aos 16.
O Ceará de Vagner Mancini parecia não se preocupar com as jogadas em velocidade dos donos da casa e não mudou a marcação. Mas, em um momento, deu sorte. Renato Silva recuou para Fernando Prass, que tentou driblar Osvaldo na grande área e perdeu a bola. Melhor para Washington, que aproveitou a lambança e marcou sem goleiro. Cabeça baixa para o capitão, um dos mais abalados com o que aconteceu com Ricardo Gomes nos últimos dias.
Mas o Vasco não deixou seu líder em campo ficar cabisbaixo por muito tempo. Allan, que melhorou no segundo tempo, recebeu na lateral direita, avançou e passou para Fellipe Bastos chutar rasteiro para complemento de Elton. Em dois minutos, o Gigante da Colina já estava com dois gols de vantagem novamente.
Mancini, então, tirou Michel e Patrick para dar lugar a Edmílson e Felipe Azevedo, respectivamente. Thiago Humberto chegou a ter uma chance de diminuir, mas Prass saiu bem do gol para se redimir da falha no primeiro gol.
E o panorama não mudou. O Vasco continuou impondo seu ritmo e teve até gol anulado aos 44, após o assistente marcar impedimento no cruzamento de Allan para Bernardo, que havia entrado um minuto antes na vaga de Diego Souza. Para o time que disse que gostaria de dar boas notícias a Ricardo Gomes quando ele acordasse, a primeira já chegou.