Dividir responsabilidades e conviver com as manias do outro são só algumas características da nova fase
O amor pode ser lindo, pena que viver ao lado de uma pessoa especial não torne necessariamente as coisas mais fáceis. A boa notícia é que um pouco de jogo de cintura e maturidade resolvem boa parte dos problemas. Especialistas debatem as principais mudanças que o casamento traz e como lidar com cada uma delas.
Seu espaço agora é “nosso” espaço Depois do casamento, em casa, o espaço deixa de ser “seu” para ser “nosso”. É hora de dividir o quarto, a TV e o banheiro. Essa é uma das mudanças mais significativas depois do “sim”, principalmente para os casais que nunca moraram juntos. “Viver a intimidade e preservar a individualidade é como brincar de gangorra. A manutenção do equilíbrio requer esforço das duas partes”, diz a psicoterapeuta Iracema Teixeira, que ainda ressalta: "A individualidade não deve ser confundida com individualismo". Para casais que nunca moraram juntos, experiências de união – como viagens e finais de semana sob o mesmo teto – podem ser altamente benéficas, garante a psicoterapeuta Iara L. Camaratta Anton, autora do livro “O casal diante do espelho" (Editora Casa do Psicólogo). É uma forma de diluir aos poucos o impacto da divisão de espaço que chega com o casamento.
Divisão de tarefas é obrigação Na vida a dois, “dividir” é um dos verbos chave que os casais devem conjugar – salvo exceções, mães e pais não estarão por perto para resolver os problemas da casa.
De acordo com a psicoterapeuta Iracema Teixeira, a negociação deve ser clara. “Se o casal quer realmente criar um projeto de convivência, é necessário dividir as tarefas e obrigações. Não cabe mais a ideia de que o homem ajuda na casa, pois ajudar significa não ter compromisso com as tarefas de gerenciamento doméstico”, diz.
Iracema sugere que as divisões sejam feitas com base em critérios, como: a) a divisão de despesas deve ser proporcional aos ganhos; b) a divisão das tarefas deve levar em conta tempo livre e um possível prazer que a pessoa possa ter fazendo aquilo; c) ambos devem ficar com a responsabilidade de manutenção, como tirar a mesa, colocar as roupas sujas no lugar certo, não deixar o banheiro molhado depois do banho, entre outros.
Convivência e dia a dia Na época do namoro era mais difícil combinar as agendas. Agora, morando na mesma casa, por mais corrido que seja o dia, o encontro todas as noites é certo. A questão que muitos casais se colocam é: vai dar para sentir saudade assim?
Provavelmente não, mas isso pode ser compensado de alguma forma. Os especialistas estimulam os casais a exercerem suas atividades individuais, aquelas que faziam deles pessoas interessantes na época do namoro. “Não existe prazo de garantia nas relações e a qualquer momento o ‘produto pode ser devolvido’. Por isso, é preciso cuidar para mantê-la prazerosa”, diz Iracema.
Segundo o psicoterapeuta Eduardo Ferreira-Santos, autor do livro “Casamento: missão (quase) impossível” (Editora Claridade), outro ponto importante para amenizar a overdose de convivência é não perder o romantismo. “Os casais precisam abrir espaço para namorar, se possível, como nos tempos que em que eram apenas namorados”, diz o psicoterapeuta. Brigas: Agora não dá mais para ir embora Problemas fazem parte da rotina dos casais e os contratempos se revelam mais frequentes com a convivência estreita. Discutir sob o mesmo teto é algo que vai acontecer, o único cuidado, na observação de especialistas, é não fazer disso um hábito e, quando acontecer, tentar estabelecer limites e não cruzar a linha da ofensa. “Não agredir aos principais valores de um ou de outro", diz Iara L. Camaratta Anton.
Evitar o embate, no entando, não é o caminho. “É melhor brigar do que deixar essas conversas pendentes. Não raro esses assuntos se tornam infecções encapsuladas que mais tarde revelam-se impossíveis de serem curadas”, diz o psicólogo Ailton Amélio.
Aturar as manias do outro Zapear os canais de TV nunca foi um problema. Mas agora, que o parceiro faz isso todos os dias, acaba irritando. “Aquilo que era tolerado na fase de namoro costuma não ser mais tão romântico assim”, descreve Ferreira-Santos. E a lista de motivos de discórdia no dia a dia é extensa: desde beber água gelada diretamente na garrafa até a demora no banho, tudo pede tolerância.
A pergunta é: por que não resolveram estas questões antes de se unirem? É verdade que o convívio revela mais de cada um, contudo, alguns acordos podem ser feitos previamente. Enquanto um está assistindo ao seu programa preferido, o outro não toca no controle remoto, por exemplo. Proximidade com a nova família Outra mudança que pode atrapalhar o relacionamento dos recém-casados é a nova família, um terceiro elemento no casamento. Ferreira-Santos dá a dica para que os parentes – especialmente do outro – não interfiram na vida a dois: “Há uma tendência enorme de interferência da família. É preciso muita maturidade e paciência para superar esta fase. Proponho que o casal faça um ‘contrato’ que contemple todas estas situações”, diz ele. Para Iara, o marido “filhinho da mamãe” costuma virar alvo de disputa. "Cabe lembrar que esses conflitos não são unilaterais, são recíprocos, mulheres disputando os homens de suas vidas, filhos, maridos e pais”, diz a psicoterapeuta, que ainda completa: “É preciso um bom grau de autoestima e de amor pelo outro para não entrar nesse tipo de conflito”, garante.
IG MULHER