18 de dez. de 2011

ALOPRANDO GERAL: Não basta serem ricas, elas querem ostentar


Novo reality show mostra cinco milionárias rasgando dinheiro. É insuportável. E muito engraçado


É difícil decidir qual a cena mais absurda. Em visita a uma feira de aeronáutica, a produzidíssima Val Marchiori cai de amores por um modelo de dez lugares e 30 milhões de dólares. Como se estivesse numa feira de rua escolhendo tomates, liga para o companheiro e propõe: “Eu queria comprar esse avião para fazer São Paulo-Paris sem escala”. Pedido recusado, ela olha para a câmera, pisca os enormes cílios e ronrona sedutoramente: “A gente dá um jeito”. Em outro momento inesquecível, a arquiteta e decoradora Brunete Fraccaroli explica que sua cachorrinha Sissi só toma água mineral francesa com o rótulo Perrier. Aliás, ela, Brunete, vive sendo comparada com a boneca Barbie, porque “é independente e se veste muito bem”. Mais uma: Lydia Sayeg, dona de uma tradicional casa de joias, filosofa que “nós, ricos, somos um bem social; devemos gastar para criar emprego”. Para dormir, ela conta que se perfuma, tira a maquiagem — com exceção do rímel — e põe brincos de brilhantes. “Assim me sinto segura”, explica. Essas são algumas das joias do pensamento ocidental mostradas no reality show Mulheres Ricas, que estreia no dia 2, na Band. Inspirada no programa americano The Real Housewives, a versão brasileira busca obter a mesma mistura de repúdio e fascínio do público diante do comportamento caricaturalmente narcisista de mulheres que gostam de jogar dinheiro — muito dinheiro — fora. 
Falando em narcisismo, a esfuziante socialite carioca Narcisa Tamborindeguy também faz parte do elenco. O quinto elemento é Debora Rodrigues, ex-militante do MST que posou para a Playboy nos anos 90 e hoje ganha a vida como bem-sucedida piloto de caminhão da Fórmula Truck. O programa acompanhou durante três meses a rotina das cinco ricaças — umas de berço, outras por conhecidos méritos. Além de cenas de ostentação, mostra o que todo mundo quer ver: as ricas armando barracos. Nesse quesito, há material de sobra para os dez episódios. Val sobre Narcisa: “Ela é  louca e já bebeu o Rio de Janeiro inteiro”. Brunete sobre a mansão azul-turquesa de Debora: “Não tem jeito; tem de demolir”. A caminhoneira também não escapa de Val. Não trouxe “nem um pão francês” para um piquenique a que ela levou champanhe Dom Pérignon safra 1990 e Brunete, caviar beluga. 
A direção do programa demorou seis meses para formar o elenco. Além do cachê modesto — entre 40 000 e 100 000 reais —, muitas convidadas queixaram-se do risco de se expor demais a olhos mal-intencionados. Antes de topar, Brunete chegou a dizer: “Não queria pagar meu sequestro com o cartão de crédito”. Como seus dois carros, um Mercedes e um BMW, são blindados, relaxou. Esse tipo de problema nunca passou pela cabeça da goiana Adriana de Moura. Baseada há dezesseis anos em Miami, ela participou da primeira temporada do Real Housewives. Adriana acumula em seu currículo as funções de curadora de arte e dona de galeria, mas no reality mostrou outras habilidades. Em um dos episódios, fez um número de pole dance, vestida de camisolinha transparente, para animar o namorado a pedi-la em casamento (deu certo). “As outras participantes tinham inveja porque eu gosto de dançar e fazer amizades. Se eu apareci mais, foi porque a câmera gostou de mim”, diz. Com a experiência binacional, Adriana já formou uma sólida tese sobre as diferenças entre brasileiras e americanas ricas: “A brasileira sempre fala mais alto, tem muita plástica e aluga carro exótico, como Lamborghini, para passear”. A própria Adriana tem um Mercedes conversível — “não o de dois, o de quatro lugares”.
“Ver rico pagando mico na TV é divertido”, resume o consultor de imagem Edson Giusti sobre o apelo desse tipo de programa. Se for novo-rico, com desejo ainda indisfarçado de ostentar suas conquistas, melhor ainda. Val Marchiori, que já foi vendedora de porta em porta (e que está se separando do pai de seus filhos, de quem promete arrancar metade do patrimônio, de 1,2 bilhão), diz que “não usa mais Louis Vuitton” por causa da popularização das bolsas. Narcisa Tamborindeguy, cuja fortuna veio do avô, pioneiro na prospecção de petróleo, dá sua visão bem informada: “Rico antigo tem bolsa herdada da avó e detesta usar o que está na moda”. Desse mal as Mulheres Ricas definitivamente não padecem.
ig